Capítulo 5

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Eu tinha saído do centro do reino aos 15, três anos depois parece que a área perto do comércio tinha crescido em três vezes.

Quando chegamos, houve uma pequena recepção da população para nós, e eu me lembrei quando eu era mais novo e corria para ver os soldados recém selecionados. Pudemos também visitar nossas famílias antes de nos estabelecermos no palácio.

Eu nunca tinha entrado nele, só no grande pátio de celebrações onde o rei às vezes aparecia para fazer pronunciamentos. Na verdade, foi lá onde vi Aquiles pela primeira vez. Ele era um garoto muito tímido, e eu uma criança agitada no meio da multidão de plebeus, que só parou por um momento porque o pequeno príncipe lhe chamou a atenção.

No palácio, nós conhecemos Ítalo, um dos dois sub-chefes do exército, que ia tratar de nossa acomodação e familiarização, e ele era quase tão jovem e bonito quanto possível para a função.

Logo fui direcionado para as salas médicas e conheci os médicos e Raimy, que era um dos jovens soldados em aprendizagem. Ele claramente não gostou de ter me conhecido, mas eu não estava ali para isso.

Na segunda noite, houve comes e bebes para comemorar nossa chegada, e se na escola fora difícil me aproximar de Aquiles, agora era impossível, pois todos eram mais íntimos dele do que eu. Ele notou minha presença apenas quase na metade da semana, mas disse algo que mexeu comigo ao se aproximar:

_ Cheguei a pensar que não tivesse vindo.

Olhei bem em seus olhos azuis e a vontade que senti foi de dizer, ora, mas se quisesse falar comigo era simples, só estalar os dedos, sei lá, piscar um olho, mandar um recado por pensamento.

_ E por que eu perderia a oportunidade? _eu respondi tentando fazer parecer que eu o estava confrontando, quando na verdade eu estava tremendo. Será quanto tempo depois de convívio com ele aquilo melhorava?

Ele deu um sorriso lindo, e ia dizendo:

_ Bom, eu pen... _quando um soldado veio chamá-lo para algo que precisava dele como príncipe.

Eu não me permitiria lamentar o fato de ele ser o que era...

Aquiles se despediu com um aceno e disse que depois nos encontrávamos. E eu ia tentar não ficar contando os dias.

Próximo ao fim de semana, alguns soldados mostraram sintomas respiratórios provavelmente devido a mudança de clima. O palácio ficava perto do mar, então os que tivessem vindo da escola litorânea não sentiriam muita mudança, mas os da escola de soldados das montanhas, como eu, e da escola dos pântanos, sim.

Um dos soldados mais prejudicados logo reclamou do xarope receitado pelo médico, ao que parece seu estômago era sensível. Eu me lembrei de uma erva refrescante, chamada beira-pedra, que minha mãe amassava e usava comigo e minha irmã quando éramos pequenos. Pedi permissão para ir com um dos soldados da escola dos pântanos procurar pela erva.

Pelo menos um dos médicos já tinha ouvido falar dela sendo usada daquela forma, mas especialmente Raimy achou que apostar no tratamento era tolice e de difícil logística, pois a planta gostava de lugares de árduo acesso. Na verdade, ele foi um pouco duro dizendo que provavelmente eu só queria uma desculpa para passear fora do palácio, e que eu era desajuizado por colocar a vida dos soldados em risco. Eu fui me defender e acabamos tendo uma discussão.

No final, os médicos aceitaram minha sugestão, aliando o sumo da beira-pedra aos xaropes, e os soldados doentes foram melhorando com menos reclamações. Durante uma noite logo após o episódio, no jantar, alguns companheiros me elogiavam e diziam na frente de Raimy que logo os médicos teriam um aprendiz preferido.

_ Ele vai ter que arranjar algum superior com que dormir para conseguir isso.

As palavras de Raimy me atingiram como uma facada.

_ Do que você está falando?

"Ignore ele, ele tá com inveja", alguém murmurou ao meu ouvido.

_ Não foi assim que você veio parar aqui? Foi o que eu ouvi falar.

_ Não seja baixo, Raimy _um companheiro disse.

_ Ao que parece sempre estão dispostos a oferecer favores a você. Aposto que sabe retribuir muito bem.

A minha vontade era lançar minha comida nele, mas ele não merecia. Só que se ele pensava que ficaria assim, estava enganado!

*****

Havia uma parte da praia que ficava atrás do palácio que era proibida para nós; ao que parecia, Tétis, a ninfa e mãe de Aquiles, gostava de encontrar seu filho ali. Quando tínhamos folga, eu sempre convidava colegas para ir à praia. Daquela vez, quando voltamos, havia um Raimy furioso a minha espera.

_ Foi você que fez isso, não foi? _Ele estava com um lençol nas mãos.

_ Fiz o quê?

_ Isso! _Ele jogou o tecido com força para mim, e estava sujo; percebi que era de xarope.

_ Ei, não jogue suas sujeiras para cima de mim! _reclamei, jogando-lhe o lençol de volta.

_ Então é assim que você gosta de jogar?

_ Esse lençol é seu? Isso nele parece ser xarope. Que eu saiba, você que é fã dessas coisas _não me aguentei e comecei a rir. Na verdade, havia sido eu sim, e eu só não admitia agora porque queria ver a cara de idiota dele.

É claro que ele foi reclamar aos superiores, mas não havia provas contra mim. Raimy insistiu, e o caso acabou chegando até mesmo até Aquiles, o que eu não esperava, confesso. Não tinha medo de admitir a culpa caso necessário, só não imaginei que Raimy prolongaria o chororô.

Continuei negando e quanto mais eu negava, mais drama e mais ridículo ele parecia, e era o que me contentava.

A PROFECIA (Aquiles & Pátrocolo FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora