Capítulo 19

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Fui procurar Aquiles porque tínhamos combinado um horário para ir até Téledo. Ele devia estar no navio de Menelau e os outros. Era melhor que eu não tivesse ido. Acabei ouvindo o que não devia, Agamenon e eles conversando no compartimento principal.

_Já devíamos estar zarpando a caminho de Tróia. Essa ideia ridícula de bajular esse rei fajuto só vai nos atrasar _disse Agamenon.

_Há dois dias você não pensava assim, Agamenon. Não achava que estávamos nos atrasando aqui _respondeu Odisseu.

_Ora, Odisseu, eu estava vistoriando meus navios! Queria que eu desse oportunidade para mais deles darem problema em alto-mar?

_Dê apenas mais um dia a Aquiles, Agamenon _disse Menelau.

_Essa ideia não é de Aquiles. Tem dedo daquele soldadozinho que ele chama de braço-direito. É capricho dele.

_Se você não concorda, Agamenon, por que não se manifestou na hora, em vez de ficar esbravejando agora? _Odisseu perguntou.

_Eu espero não ter é que esbravejar depois. Eu já disse e vou repetir: esse garoto é uma distração para Aquiles, e nós devíamos interferir sim. Quando souberem, os troianos são saber usar a informação a seu favor.

Subi devagarinho de volta ao convés porque já tinha mais do que notado que Aquiles não se encontrava ali. Eu não queria que as palavras de Agamenon me contaminassem.

Porque no fundo, havia um Pátrocolo com certa desconfiança em si mesmo, ainda imaturo demais e que ainda não se achava um companheiro bom o suficiente para Aquiles. Agamenon, se soubesse disso, adoraria.

Pouco depois, Aquiles apareceu dizendo que estava me procurando. Ele mal foi percebendo que eu estava um pouco melancólico, quando eu tratei de colocar um sorriso no rosto e dizer que também estava a sua procura, e partimos até o palácio de Téledo.

Todos estavam à espera de Aquiles, todos tinham fé na profecia dos adivinhos, e o trataram como se fossem um deus, sem remorsos por ter sido a espada dele que feriu, mesmo acidentalmente, seu rei. Aquiles me apresentou aos superiores; Téledo estava inconsciente e extremamente sem cor. O ferimento estava mesmo muito feio. Eu tive que tentar limpar um pouco dele para colocar o medicamento. Ainda bem que Téledo estava desacordado, senão sentiria muita dor. A maioria não teve coragem de olhar enquanto eu trabalhava; eu vi que Aquiles mesmo se esforçou ao máximo.

Quando acabei, dei instruções sobre a frequência de reaplicar o medicamento e demais cuidados. Fui elogiado pelos superiores, e Aquiles só reforçava as palavras deles.

Ele ficou me paparicando até chegarmos ao navio; pensávamos que não teríamos tempo de saber pessoalmente se Téledo iria ter melhora, que Agamenon partiria imediatamente. Quando chegamos, descobrimos que Menelau tinha decidido ficar por mais alguns dias, pois havia recebido uma mensagem de dois grandes guerreiros que se juntariam ao nosso exército e que estavam a caminho: Ájax e Diomedes.

Dois dias depois, eles ainda não haviam chegado, e ficamos sabendo que Téledo acordara, e seu ferimento começava a sarar. No meio do quarto dia, os guerreiros chegaram. Tão fortes e imponentes quanto poderiam ser. Ájax, por exemplo, provavelmente era o segundo homem mais bonito que eu conhecia, depois de Aquiles, claro. Além disso, os homens de Téledo vieram informar que ele tinha conseguido se levantar, e sua recuperação era ótima. Com certeza Agamenon não se agradou de Aquiles me dando os parabéns todo orgulhoso na frente de todos, e quis partir o quanto antes.

E o ocorrido ficou para trás, apenas mencionado em minha intimidade com Aquiles. Para a infelicidade de Agamenon e Ducano, aquilo me tornou um pouco mais confiante.

Seguimos a caminho de Tróia. Caminho longo. Eu me perguntava como estaria Fítia, Pirro, Quíron. Onde estaria Tétis, embora eu não sentisse nenhuma falta dela. Mas com certeza Aquiles sentia; às vezes ele simplesmente ficava olhando o mar por tanto tempo...

E a rainha Helena? Ela realmente estava feliz nos braços do príncipe Páris? Alguém consideraria a vontade dela naquela guerra? Com certeza não.

Certo dia, estava eu em paz com meus afazeres de soldado marinheiro quando aquele outro, o tal Cleiro, o abusado, se aproximou. Eu vinha simplesmente fugindo dele desde a última vez.

_Impressionante como você se esforça em fingir que eu não existo _ele riu.

Olhei para ele com desdém.

_Continue se impressionando com isso.

_Queria te parabenizar pelo que fez em Mísia. Temos sorte em ter você como médico em nossos exércitos _ele disse depois de um instante.

_Obrigado.

_Viu? É difícil para mim ignorar você me ignorando.

Lá vinha ele de novo. Eu não devia ter dado abertura. Dei um grande suspiro.

_Cleiro...

_Eu sei, eu sei, eu sei, Pátrocolo. Eu só te peço uma coisa. Ele olhou bem para mim._ Não finja que não estou aqui.

O Olimpo me ajudou, e ele se foi. Suspirei aliviado.

Seguimos viagem, até que poucos dias depois... O vento parou.

Não sei bem dizer como começou o que se sucedeu a seguir. Em um dia comum, simplesmente não havia vento nenhum. Tudo bem, aguardamos a manhã seguinte. E a próxima. E a próxima. Depois de duas semanas, Agamenon já estava irritado, mas Odisseu aconselhava cautela, e outros marinheiros experientes diziam que aquilo era comum.

Com um mês, certamente eles já não mantinham essas palavras. Era estranho e muito melancólico, nós ali no meio do mar, parados, com o clima sem mudança: o Sol muito claro, o ar abafado e parado. Aquiles foi o primeiro a suspeitar que pudesse ser coisa dos deuses, e que Agamenon e Menelau deviam consultar seus oráculos.

Aquela situação deixava todos muito nervosos. Depois de mais duas semanas, os soldados marinheiros já não faziam questão de esconder suas reclamações. Houve uma briga generalizada em um navio, devido a provocações bobas entre eles. Odisseu alertou a Agamenon que algo devia ser feito, pois os soldados estavam perdendo o vigor da guerra.

Até que Aquiles veio me dizer que acreditava que Agamenon tinha consultado seu oráculo, e voltado muito estranho, ao mesmo tempo abatido e irritado. Ele se recolheu por dois dias inteiros em um compartimento, e nem Menelau sabia dizer o que acontecia.

Minha intuição era ruim. E eu tive um pesadelo onde eu revivia quando quase morri afogado após o encanto de Tétis. Aquiles me tomou em seus braços ao ver minha agitação durante o sono, e me acalmou.

No outro dia, ele foi chamado por Agamenon. Havia uma reunião com os superiores.

Agamenon parecia recuperado. Mas havia algo sombrio nele.

_Eu consultei o oráculo. Ele foi bem claro _ele revelou enfim. Não haverá ventos favoráveis se eu não casar Ifigênia. _Houve uma pausa._ Ifigênia é minha filha. Para o meu azar, ela diz ser apaixonada por um jovem músico do reino de Menelau. Ifigênia é muito mimada e não vai aceitar um casamento qualquer para ignorar sua vontade. A não ser que o príncipe Aquiles seja o noivo.

A PROFECIA (Aquiles & Pátrocolo FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora