Capítulo 8

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Tivemos aulas de combate pela manhã, e pela tarde ajudamos Quíron com o belo jantar que estava preparando para a nossa despedida, aprendendo algumas coisas sobre a cozinha também. Quíron disse que um soldado que não sabe cozinhar morre antes de entrar na batalha.

O jantar foi o mais maravilhoso que eu já tive na vida, e meu humor estava melhor, mas àquela altura eu sabia que Aquiles já tinha percebido que eu estava diferente, embora eu tivesse tentado fingir que não. A percepção dele era acima da média.

Quando fomos dormir, Aquiles me abordou:

_ Pátrocolo, há algo acontecendo?

O que eu tinha a ver com a vida do príncipe de Fítia? O que eu poderia ter a ver? Havia uma profecia envolvendo nós dois, ou eu estava apenas me iludindo? Como ele mesmo dissera, ainda não sabia se tratar de mim ou não, então o que ele estava fazendo? Me testando?

_ Aquiles, eu... _Nem tinha coragem de olhar nos olhos dele._ Ouvi sua conversa ontem com Quíron. Ontem à noite.

Ele demorou a responder.

_ Que parte? _sua voz não era chateada.

Precisei de um instante para elaborar bem.

_ Você disse que ainda não sabia se era eu ou não... Que ouviu em uma profecia por sua mãe... E que ela está preocupada. _Finalmente olhei para ele. Aquiles parecia esperar por mim._ Que profecia?

Ele precisou do mesmo instante que eu.

_ Ela disse... que o Oráculo das Nereidas lhe revelou que o príncipe de Fítia conheceria um jovem soldado das montanhas que seria sua maior fonte de força e, ao mesmo tempo, sua maior fraqueza.

Fiquei assimilando por um minuto. Um jovem soldado das montanhas. Até eu conseguir respirar melhor. Sim, eu era um dos soldados das montanhas. Mas por que representaria uma fraqueza para Aquiles? Ele tinha o triplo da minha força e inteligência.

_ Você não acha que pode ser eu, acha?

_ Não estou preocupado com isso, Pátrocolo.

_ Então por que me trouxe aqui?

Ele franziu o cenho.

_ Para conhecer e aprender com Quíron. Porque acho que você tem potencial para ser nosso melhor soldado-médico em décadas.

Fiz um muxoxo de quem não colocava muita fé no mesmo que ele.

_ Você não acha que trouxe você aqui só para te subjugar por medo de uma profecia distante, acha?

Eu meio que tinha achado isso sim, e de repente fiquei envergonhado.

_ Você teria esse direito.

_ Não é esse tipo de relação que procuro manter com meus soldados, Pátrocolo.

Ele se cobriu com a manta e virou de costas. Ótimo! Finalmente eu tinha conseguido chateá-lo!

No outro dia, bem cedo, nos despedimos de Quíron, e, lembrando do fato de que eu havia magoado Aquiles, não segurei algumas lágrimas.

_ Pátrocolo, nunca esqueça de quem é. Não importa com quem esteja. Seja fiel a você antes de juras de fidelidade saírem de sua boca. _O centauro me disse, afagando minha cabeça e ombro.

Eu e Aquiles seguimos nosso caminho de volta de forma bastante silenciosa. Quando paramos para almoçar, eu não conseguia suportar mais um minuto daquilo, e decidi pedir desculpas.

_ Meu príncipe... Me desculpe. Eu o julguei mal. Porque sempre ouvi histórias de príncipes, mas o senhor é o primeiro que conheço. E certamente é muito diferente do que eu imaginava. É muito superior. E eu sou um simples soldado.

Não demorou nem um pouco para que eu visse o perdão em seus belos olhos.

_ Não me chame de senhor, Pátrocolo.

Eu baixei a cabeça.

_ Ainda estou me acostumando.

Logo tudo voltou ao normal. Conversamos bastante sobre nossa estadia com Quíron, Aquiles ria das coisas que eu achava estranho sobre morar com um centauro. Quando paramos junto a um riacho no fim do dia para tomar banho, fazendo brincadeiras na água, houve um momento em que estávamos bem próximos e Aquiles disse olhando profundamente em meus olhos:

_ Ainda bem que você pediu desculpas. Sei quando o orgulho exige de um chefe de exército, mas ia sentir muito a sua falta se não fizéssemos as pazes.

Senti-me como naqueles primeiros dias, quando comunicávamos principalmente por olhares ainda na escola das montanhas, a queimação em meu estômago. Claro que eu me sentia atraído por Aquiles, e investiria se o fato de ele ser quem era não me intimidasse tanto. Ao menos eu gostaria de saber se ele se relacionava com outros garotos, eu nunca tinha ouvido nenhum comentário sobre, e, nas rodinhas de soldados ociosos, sempre se sabia quais superiores faziam aquilo.

Aquiles mostrava que gostava da minha companhia, ria de minhas piadas, me via como um prodígio, mas apenas.

_ Que bom _ respondi somente.

Ele riu. Tão bonito rindo sob o pôr do sol, o céu colorido.

_ Ah, então você acha bom?

_ Claro, ué, não vou ser desonesto...

Ele continuou rindo.

O resto de nossa viagem de volta foi muito agradável. Estávamos mais íntimos. Se eu me apaixonasse por Aquiles... Bom, não seria nenhuma surpresa. Dezenas de jovens no reino deviam ser apaixonados por ele. Além de ser o príncipe, e lindo, ele era bondoso, habilidoso e muito inteligente.

De volta a Fítia, eu só desejava que nossa proximidade maior se mantivesse. Será que havia algo que podia fazer para ajudar nisso? Eu ainda era um mero soldado recém-chegado...

Chegando ao palácio, havia algo no ar. Olhares receosos quando reviram Aquiles. O que estava acontecendo?

O rei, Peleu, veio ao nosso encontro antes mesmo que nos apresentássemos de volta.

_ Olá, Aquiles e Pátrocolo. Bem-vindos de volta. Como foi a viagem?

_ Ótima, pai, mas... _Aquiles logo se deu conta._ Há alguma coisa?

_ Conosco, nada. Mas sua mãe está na praia. Está lhe esperando há três dias.

A PROFECIA (Aquiles & Pátrocolo FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora