Capítulo 7

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O quarto dele era enorme, claro, e tinha uma varanda incrível com vista para a praia, e eu tentei imaginar uma ninfa emergindo dali.

Quando cheguei, Aquiles foi muito sutil em me deixar admirando tudo por um momento, depois eu arrumei minhas poucas coisas, e começamos a arrumar o que ele já tinha preparado para a viagem.

De noite, eu demorei para dormir, pois fiquei admirando-o, meu peito ainda sem acreditar onde de repente eu tinha chegado, e, de repente também, Aquiles despertou e me encontrou a encará-lo.

_ Oi. Desculpe...

_ Pelo quê? Por não conseguir dormir? _ele disse.

Tentei pensar numa resposta adequada.

_ Eu só tô pensando em um monte de coisas.

_ Quer conversar?

_ Talvez. Quando eu organizar tudo na minha cabeça... Enquanto isso pode voltar a dormir.

Ele riu baixinho. E fechou os olhos.

Eu até que não demorei a pegar no sono depois disso.

No outro dia, terminamos de organizar tudo para a viagem, principalmente os mantimentos, e partimos. Levamos dois cavalos conosco, mas eles como eles já iam com a carga, seguimos a pé.

Logo reparei que Aquiles tinha uma disposição bem além da minha, e ele estava sempre atento para pausar pro descanso quando eu precisava, sem nem eu pedir.

Aquiles conhecia bem o caminho, e foi me contando um pouco sobre os anos em que praticamente morou nas montanhas, mais especificamente no Monte Pélion, com Quíron. Perto do fim do dia, nós paramos para tomar banho em um rio.

Aquiles não era o primeiro homem nu que eu via, mas era o mais bonito, com certeza, tanto que era difícil não ficar reparando, quase revoltado com tanta perfeição em cada detalhe. Porém também não queria que ele me pegasse babando.

A gente brincou um pouco na água, mas sem se tocar tanto. Aquiles nadava muitíssimo bem, e isso nos levou a falar um pouco sobre sua mãe enquanto jantávamos. Antes de dormir, ele me ensinou algumas coisas que Quíron havia lhe ensinado sobre as estrelas e como se localizar por elas.

No dia seguinte, a gente só se atrasou um pouco mais porque eu acabei escorregando e me ralando em uma pedra. Fiquei muito chateado principalmente porque queria mostrar a Aquiles que aprendera alguma coisa sobre andar em terrenos montanhosos depois de 3 anos na escola. Nem queria permitir que ele me ajudasse a fazer o curativo. Mas, por fim, cedi.

_ Acho que essa é uma tendência de vocês soldados-médicos, aceitam menos ajuda do que outros _disse ele enquanto enrolava meu ferimento.

Olhei bem para ele.

_ Ainda não sou um soldado-médico, Aquiles, mal sou um soldado.

_ Você se mostra muito modesto para alguém com um gênio tão forte _ ele riu de leve.

Eu achei engraçado.

_ Você acha que tenho o gênio forte?

_ Eu nunca vi alguém tão jovem dizer tantos palavrões quanto vi há pouco você dizendo.

Acabei rindo.

_ Mas eu caí e me ralei, Aquiles!

Antes de dormir, fiquei pensando sobre o que ele parecia pensar de mim, e se ele achava divertido a ponto de aceitável o tal do meu gênio forte, ou se não era algo que ele, mais intimamente, admitia. E depois fiquei me perguntando o quanto isso importava se ele era apenas o meu príncipe, e não um amigo, ou algo a mais, de fato.

Chegamos ao Pélion no meio da tarde.

Eu nunca havia visto um centauro. De criaturas divinas, a única coisa que eu já havia presenciado foram algumas sacerdotisas que foram uma vez ao reino. Quíron era maior do eu pensava, pelo menos seu corpo de cavalo era mais alto do que os dos nossos cavalos. No mundo humano, ele seria um homem de quarenta e poucos anos, mas eu sabia que semideuses viviam muito mais.

Quando Aquiles nos apresentou, eu estava meio que tremendo. Ele nos esperava com comida suficiente para três, e eu me perguntei como saberia. Aquiles lhe contou a história da erva beira-pedra, e de repente eu fiquei com medo de nunca mais conseguir fazer nada tão grandioso quanto a sugestão dela e decepcionar todos eles: Peleu, Quíron e o próprio Aquiles. Na mesma noite, continuaram meus ensinamentos astronômicos, dessa vez vindos do próprio mítico centauro.

Na manhã seguinte, saímos para colher frutas e ervas. Destas, algumas eu conhecia. À tarde, Quíron me mostrou sua imensa coleção de misturas medicinais e amostras de ingredientes em pequenos fracos. E me deu presentes tão incríveis que senti vontade de chorar.

Perto do pôr do sol, Aquiles me levou para conhecer as pequenas cachoeiras em que banhou durante toda a infância, e ficou rindo de mim quando reclamei da temperatura gelada da água. O jeito era fazer várias brincadeiras, pular dos galhos e pedras para deixar o corpo quente para cair na água.

No meio da noite, acordei e vi que estava sozinho na gruta. Ouvi vozes lá fora e estalidos que indicavam que havia uma fogueira ainda acesa.

_ Você já se encontrou com ela desde que o conheceu?

_ Sim. Ela não faz menção à profecia há algumas semanas. Mas quando os soldados recém-admitidos chegaram, ela confirmou. A chegada deles, quero dizer.

Eles ficaram calados por um tempo, e eu permaneci oculto. Alguma coisa dizia que estavam falando de mim, e eu sabia que era falta de educação ouvir escondido, mas minha curiosidade gritou.

_ Seja quem for ele... Pátrocolo ou não, Quíron... Não quero deixar que essa predição fique pairando sobre toda amizade que eu for construir daqui para frente com meus soldados. Sei que minha mãe ficou receosa e quer que eu compartilhe de seus sentimentos. Mas agora sou o chefe do exército de Fítia, e mais do que antes, não posso agir com egoísmo e covardia.

_ Você me enche de orgulho, filho _Quíron disse após um instante._ Agora... Tente ir dormir. Amanhã quero acordá-los cedo para verificar como estão suas habilidades no combate.

Voltei apressado para as almofadas e mantas, com o coração acelerado. Fingi que estava dormindo, tentando imaginar qual seria a profecia sobre Aquiles que preocupava Tétis e a que eu podia estar relacionado. E que agora me preocupava também.

A PROFECIA (Aquiles & Pátrocolo FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora