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1976

Hoje é o último dia do meu quarto ano em Hogwarts. Todo mundo já está com suas malas prontas, animado pra voltar pra casa, mas eu não aprontei nada. Sinceramente? Eu preferia ficar aqui.

Não é que ir pra casa seja a pior coisa do mundo, sabe? Eu só não me sinto pronta pra lidar com meus pais deixando claro, apesar de indiretamente, o quanto o meu irmão mais velho é tão melhor que eu. As boas notas na maior parte das matérias, o desempenho magnífico no quadribol, o comportamento exemplar... se eles soubessem o quanto James toca o terror nessa escola, não falariam nada sobre seu comportamento.

Além disso, pra felicidade e orgulho dos meus pais, James é da Grifinória, assim como eles eram. Eu não.

Não me entendam mal, meus pais me amam e sempre cuidaram bem de mim, mas especificamente minha mãe parece esquecer que, além do meu irmão, eu também existo, e tenho minhas conquistas em Hogwarts. Boas notas, desempenho exemplar, bom comportamento.

Às vezes penso que ela usou todo o amor que tinha no James e esqueceram de guardar um pouco pra mim.

Com meu pai é um pouco diferente. Ele me conhece, me acolhe enquanto minha mãe não o faz. Não somos os mais próximos do mundo, mas somos o suficiente, eu acho.

Tento afastar os pensamentos e finalmente me levanto da cama. Como hoje não tem nenhuma aula, me permiti ficar deitada meia hora a mais do que o de costume. Tomo um banho morno, visto algo confortável e quentinho e saio do meu dormitório, descendo as escadas e cumprimentando com um sorriso no rosto os alunos que passam por mim.

Eu amo a sala comunal da Lufa-Lufa e como ela é sempre muito aconchegante. As plantas espalhadas nas janelas e penduradas no teto sempre deixam o ambiente mais vivo. Os tons de amarelo dos tecidos pendurados e do sofá tornam tudo mais bonito. Parece que sempre está ensolarado, apesar de ser localizada no porão da escola. O ambiente tem cheiro de plantas e de canela, mas vez ou outra consigo sentir aromas vindos da cozinha, que fica aqui do lado. E claro, como bom lufanos, por vezes sobe um cheirinho de maconha.

As pessoas da Lufa-Lufa são sempre tão gentis e calorosas que nunca passei por nenhuma situação desconfortável com meus colegas. Pelo contrário, a grande maioria está sempre disposta a ajudar.

Não importa o que meus pais pensam. Eu amo a minha casa!

○●○●○

Entro no grande salão, mas logo vejo as mesas vazias. Droga! Perdi o horário do café da manhã. Parece que aquela meia hora de preguiça realmente fez diferença.

Tudo bem que daqui a pouco o almoço vai ser servido, mas eu queria tanto aqueles biscoitos de chocolate que só tem na primeira refeição do dia...

- EI! - Uma voz grave fala atrás de mim, ao mesmo tempo que ele agarra meus ombros.

Viro rápido e dou um tapinha no braço do garoto, sem força alguma.

- James! Seu idiota! Você me assustou. - digo colocando a mão sobre o peito, enquanto ele começa a rir.

- Desculpa, você sabe que eu não resisto. - meu irmão fala com um sorriso no rosto, igualzinho a uma criança quando apronta. - Por que só desceu agora? Eu estava te procurando faz tempo.

- Eu demorei pra levantar e arrumar minhas malas. Queria deixar tudo pronto pra ficar mais tempo com minhas amigas. - falo dando um sorriso sem ânimo. Não preciso esconder minhas emoções do meu irmão, e também não conseguiria mesmo se quisesse. Ele me conhece demais pra isso.

Quando ele abre sua boca pra me responder, é interrompido por alguém que se aproxima.

- Olha só quem resolveu aparecer! - Remus diz vindo até nós, sorridente. Sorrio de volta pra ele na mesma intensidade e abraço seu corpo de lado.

- Oi Lupin! Dormi demais.

- Eu imaginei. Pontas disse que você ficou na festa da Corvinal até tarde ontem. Mas não se preocupa, olha aqui.

Ele se afasta um pouco e eu o observo curiosa enquanto ele tira um saquinho da mochila. James olha, também curioso, e cruza seus braços, mas não fala nada. Remus me entrega o saco e pego desconfiada. Conhecendo bem meu irmão e seus amigos, qualquer coisa absurda pode sair dali de dentro. Apesar disso, Lupin é o mais confiável de todos eles.

Quando identifico o conteúdo do saquinho, abro um sorriso largo e olho ele animada.

- Não acredito! Você guardou biscoitos de chocolate pra mim? Lupin!

Volto a abraçar ele, agora mais forte e bem mais animada do que antes. Ele retribui o abraço da mesma forma, me tirando um pouco do chão, mas logo me colocando de volta.

- Muito obrigada! Você acabou de deixar meu dia bem melhor.

Sorrio feliz e dou um beijo na sua bochecha, mas logo sou puxada pra trás. Olho confusa para James enquanto ele se coloca entre Lupin e eu.

- Ok, ok. Chega né? Muita proximidade entre os dois.

- Você tá com ciúme? Poxa, cara, pensei que soubesse que eu só tenho olhos pra você. - Lupin fala, me tirando uma risada surpresa. Geralmente esse tipo de piada é feita pelo meu irmão ou pelo Sirius. James, por outro lado, não deve ter achado graça, ou pelo menos tentou disfarçar e fingir um pouco de marra.

- Irmãozinho, você sabe que o seu querido Aluado é um dos meus melhores amigos. Não pensa coisas erradas, tá bom? - dou um beijo na sua bochecha e logo me afasto, mordo um dos meus biscoitos recém adquiridos, ainda morninhos - Agora, se me dão licença, vou aproveitar meu tempo com as minhas amigas. Lupinho, te vejo nas férias?

- Se seu irmão deixar, com certeza! - O garoto me dá um sorriso e apoia o ombro no meu irmão.

Saio de lá deixando os dois conversando, apesar de James ainda estar sério, Lupin tenta aliviar a tensão com piadinhas. É meio estranho o grupinho deles não estar todo junto, mas na verdade o Remus é o único além de James com quem me importo. Peter nunca interagiu muito comigo, e o Sirius só abre a boca pra falar alguma besteira sobre garotas ou pra me chamar de "Pontinhas". Não é ofensivo, eu sei, mas ele faz com o objetivo de me irritar - e consegue. Não costumo conversar com ele, não temos nada em comum.

Falo com mais algumas pessoas que encontro pelo caminho até finalmente chegar no meu amado grupinho - Marlene McKinnon, Lily Evans e Beatrice Parker.

Pontinhas | Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora