84. [SB]

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Ponto de vista de Sirius Black

Apresso o passo para seguir Alice, já sentindo o coração em mil pedaços por vê-la assim.

Cada vez que lágrimas se formam nos olhos da minha garota, mesmo que elas não caiam, eu tenho vontade de acabar com qualquer coisa que tenha deixado ela mal.

E me odeio por todas as vezes que eu fui essa coisa. Infelizmente, sei que não foram poucas vezes.

James segura meus braços e me puxa pra trás, me impedindo de sair dali e parecendo tão magoado com a situação como eu.

- Para, Almofadinhas! - ele pede, negando com sua cabeça. - Por favor.

Seu tom de súplica me faz relaxar, e me solto um pouco de suas mãos, sem brutalidade.

Nego com a cabeça e olho ele, suspirando pesado, sentindo toneladas de culpa em meus ombros.

- Eu preciso vê-la, Pontas. Eu preciso! - praticamente imploro, e James não me fala mais nada.

Seu olhar é triste, parece que ele vai começar a chorar a qualquer momento.

- É perigoso, Sirius. Você sabe disso. - Lily é quem fala, com um tom de voz que parece tentar me confortar.

Mas não adianta. A única pessoa que poderia me confortar agora seria a Alice, com aqueles olhos mais lindos que existem no universo inteiro, com seu coração tão puro que ela não consegue ser maldosa nem quando deseja.

E o sorriso dela, porra! Eu sinto tanta falta daquele sorriso. Eu vivia por ele, por fazê-lo acontecer. Quando eu fazia a minha garota rir, - o que acontecia com frequência -, meu coração se enchia e eu parecia estar no céu.

Eu queria olhar pra ela e dizer que eu nunca, nem por um segundo, deixei de amá-la. Que eu sinto muito, e eu queria arrancar meu coração fora do corpo pra que ele parasse de pulsar por ela, mas nem isso adiantaria.

Ainda que eu estivesse morto, eu pertenceria inteiramente a ela. 

A reunião estava perto do fim quando ela entrou. Remus e James estava discutindo e a conversa estava esquentando...

Geralmente quando isso acontece, eu é quem estou no meio, mas desta vez eu só observava.

- Então, como faremos para descobrir quem eles são? - Remus pergunta, olhando para todos, mas principalmente para Dumbledore - Se há comensais aqui, Alice está em risco e sequer sabe disso. E essa é mais uma prova de que ela precisa voltar para a Ordem...

- Remus, por favor! - Lily pede ao garoto, buscando evitar que mais uma vez a discussão se torne fervorosa.

- Não é seguro para ela, Lupin! Você estava lá. Você ouviu! Voldemort quer Alice! - James diz tentando não se exaltar outra vez, mas falhando um pouco.

- Deixá-la longe não vai mudar isso. - me envolvo no assunto, chamando a atenção deles - Ela nem sabe o que está acontecendo. Nós temos nos escondido há meses.

- E ela tem passado todos esses meses segura, Sirius! - James responde. Sei que ele está começando a perder a cabeça porque ele me chama pelo nome.

- Tão segura que tem comensais na escola. - falo com o tom de voz calmo, mas venenoso - Acha que eles não sabem quem ela é? Que não sabem o quanto Voldemort quer ela?

James se levanta de sua cadeira de uma vez vindo em minha direção, e faço o mesmo na sua. Empurro o seu peitoral quando ele fica perto o suficiente, encarando-o da mesma forma que ele me encara.

- Essa merda de ideia foi sua, Sirius! Tirar Alice do meio disso, sumir da vida dela! Agora quer voltar atrás? - ele praticamente feita em meu rosto.

Apesar de ficar afetado, não demonstro. Apenas fico em silêncio, sem quebrar a encarada.

- PAREM! Que porra vocês tem na cabeça pra inventar de brigar agora? - McKinnon fala alto.

Remus me afasta um pouco de James, dando um leve suspiro que entrega sua exaustão. A verdade é que todos nós estamos cansados de tudo isso.

Eu sinto falta da minha namorada. Marlene, Lily e Lupin sentem falta da melhor amiga, e James sente muita falta da irmã caçula.

Grande parte disso é minha culpa, já que fui em quem propus que nos distanciássemos de Alice, apesar de que todos concordaram. Tudo para mantê-la segura.

Foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer em toda a minha vida.

Mais difícil do que sair de casa aos 16 anos, deixando tudo que eu conheço e minha única família de sangue, Regulus, pra trás.

Agora, tive que deixar Alice. Não por mim, obviamente, mas por ela, pela sua segurança.

Sento em um banco um pouco mais afastado do pessoal e encaro o chão enquanto escuto como eles discutem sobre formas de descobrir os alunos que apoiam Voldemort e estão do seu lado. Apesar de me importar muito, não quero saber disso agora. 

Aproveito a distração do grupo e saio de fininho da sala, me transformando em meu cão assim que passo pela porta. 

Com pressa, vou até a sala comunal da Lufa-Lufa e paro na entrada. Antes de voltar a minha forma humana, olho ao redor. Levanto-me quando me certifico de que não há ninguém por perto, bato nos barris no ritmo correto, que aprendi quando ainda estudava aqui para ver a Alice. Jamais me esqueceria do ritmo capaz de me levar até minha namorada, no único local que eu sempre poderia ficar em seus braços.

Quando a porta se abre, espero um pouco apenas para garantir que não há ninguém ali. Me transformo de volta em cão e entro na comunal.

Não acho que algum lufano seria capaz de se tornar um comensal mas todo cuidado é pouco, principalmente quando isso envolve a segurança da minha garota. Por enquanto, me preocupo apenas com os mais óbvios: Sonserinos. 

Nojentos em sua grande maioria. 

Em minhas quatro patas, vou até a porta do quarto de Alice. Do lado de fora, já consigo sentir o seu cheiro, sempre tão doce e marcante que nunca saiu da minha memória. Seu cheiro é como um lar, se é que eu já tive um.

Me aproximo e com uma de minhas patas começo a arranhar levemente e bater na porta como consigo. 

Como animago, sou um lobo, mas consigo fazer pequenas alterações em minha forma. De acordo com o que desejo, posso assumir uma forma mais forte, ameaçadora e perigosa, mas desta vez fiz o melhor possível para ficar o mais fofo que consigo. Não é uma forma tão fofa, é meio desajeitada até, mas vale a tentativa.

Escuto os passos leves dela se aproximando da porta e me sento como um bom garoto, esperando que ela me veja. 

Quando abre a porta, Alice olha confusa para o vazio em sua frente, mas logo faço um falso barulho de choro que chama sua atenção rapidamente. 

Ao me ver, ela se abaixa com velocidade e começa a fazer carinho em toda a minha cabeça, orelhas e face. Apesar dos seus olhos molhados e vermelhos, ela sorri grandemente. Que saudade desse sorriso...

- Oh, Merlin! Que cãozinho mais lindo! Como você entrou aqui, garoto? - ela fala com a mesma voz que faz quando está falando com qualquer animal, seja um hipogrifo ou Harriet, a coruja de James. 

Fecho os olhos aproveitando seu carinho. Jamais admitiria isso pra ninguém, claro, mas receber carinho em forma de cão é realmente muito satisfatório. 

- Espere um pouco... - escuto ela dizer e a olho rapidamente. 

Oh, não...

A garota olha em meus olhos como se estivesse me estudando, logo se levanta com seus braços cruzados. 

- Sirius! É serio? 

Apesar do tom de briga, ela ri um pouco e balança a cabeça negativamente. Seus braços se cruzam enquanto ela bate levemente o seu pé no chão algumas vezes. 

Alice se afasta para me dar passagem, e entro sem pensar duas vezes.  

Pontinhas | Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora