Pontinhas | Sirius Black

02.

Minhas garotas estavam no local onde sempre costumamos ficar: a árvore no pátio da área aberta. Gostamos de ficar ali porque é pouco movimentado, meio afastado de onde todos ficam - principalmente os professores e funcionários. Assim, podemos conversar sobre qualquer coisa, fugir de algumas aulas chatas e fumar escondido.

Me aproximo delas sorrateiramente, sem que nenhuma me veja. Saio de trás da árvore em um pulo, batendo o pé no chão com força.

- BUUU! - falo alto e sou respondida com dois gritos assustados de Lilian e Beatrice e um olhar nada abalado de Marlene. Quase instantaneamente, começo a gargalhar de suas reações.

Tudo bem, talvez eu não seja totalmente diferente do meu irmão.

- Garota! Eu pretendo voltar daqui a alguns meses pra começar meu sexto ano! Se me matar de um susto antes disso, não vou conseguir. - disse uma Lily levemente estressada, o que me fez rir ainda mais.

Marlene e Beatrice também riram um pouco da situação e acalmaram Lily. A ruiva olhou pra mim e logo abriu um sorriso.

- Sua sorte é que eu gosto demais de você pra te azarar, Lice.

- Você não machucaria nem uma barata, Lily. - falo sorrindo e me sento ao lado delas, deito a cabeça no ombro de Beatrice e Marlene acaricia minha mão de leve, logo após esticar o cigarro pra mim. Eu sei que ela quer me confortar, já imaginando o que tenho pensado em relação a voltar pra casa. Trago e solto a fumaça devagar, encarando o chão. Não tenho o costume de fumar com tanta frequência, principalmente se for cigarro. Mas sinceramente? Eu poderia usar um pouquinho de paz agora.

- As férias vão passar voando, e você pode ir pra minha casa quando quiser, ok? - Beatrice falou, depois olhou para as meninas. - Todas vocês podem ir. Meus pais adoram receber a Alice e vão adorar receber vocês também.

É verdade. Os pais da Bea são trouxas, mas adoram tudo relacionado ao mundo bruxo e têm muito orgulho da filha.

Sou amiga dela desde meu primeiro ano em Hogwarts. No dia da seleção das casas, ela foi chamada para o chapéu seletor logo depois de mim e acabamos sentando juntas na mesa da Lufa-Lufa. Começamos a conversar e não nos desgrudamos nunca mais. Fazemos absolutamente tudo juntas. Inclusive, dividimos o dormitório, e por sorte somos só nós duas.

- Eu adoraria, na verdade. Já somos amigas há tanto tempo e nem eu nem Marlene fomos conhecer sua família. - Lily falou, mostrando empolgação. Marlene concordou.

- Mande cartas, Bea. Assim podemos combinar. Não quero passar três meses sem ver vocês pirralhas frequentemente. - disse com um sorriso no rosto.

- Marlie, você só é um ano mais velha que eu e Beatrice, não somos pirralhas. - falo rindo da garota, achando divertido - Você tá falando como meu irmão.

- Ah, o insuportável do seu irmão... Por favor, não compare nossa querida Marlene com ele.

- Lily! Não fala assim dele. Ele só é meio... irritante.

Dou risada da minha própria fala e meu grupinho ri também, todas concordando comigo.

Irritante ou não, foi graças ao James que conheci e me aproximei de Lily e Marlene. As duas são do quinto ano, assim como James. Elas são amigas dele, apesar das brigas constantes que meu irmão e Lily tem. Mas onde tem fumaça tem fogo... Lily se estressa com a implicância de James, mas é caidinha pelo seu charme. E ele não é diferente. Pega no pé da ruiva porque essa é sua forma mais de pura demonstrar carinho.

- De qualquer maneira, não vamos ficar longe muito tempo. Precisamos nos encontrar sempre que possível. - Beatrice fala e todas concordam.

Descanso as costas me apoiando na árvore e passo o olhar pelo ambiente, quando vejo um garoto alto, pálido, de cabelos pretos e longos e um... nariz avantajado. Sua feição é sempre séria e nada simpática. Suspiro longo e olho Lily.

- Lily, seu amigo Severus não para de olhar pra cá. - falo pra ela, mas mantendo o olhar nele, que se encontra distante, encarando ela.

- Eu não ligo. - ela olha pra ele, mas volta a atenção pra nossa rodinha. - Ele fez besteira, e eu acho que cansei de perdoar sempre que ele me machuca.

- O que ele fez? - pergunto e Lily dá um longo suspiro antes de responder.

- Ontem, o idiota do seu irmão e seus amigos estavam fazendo suas brincadeiras de mau gosto com o Severus. Colocaram ele de cabeça pra baixo, chamaram ele de ranhoso, como sempre, e o coitado não conseguia fazer nada. Eu falei pra eles pararem e eles o fizeram, mas Snape foi um idiota e brigou comigo, me chamou de... de sangue-ruim. Na frente de todo mundo, com desprezo. - A garota fala, tentando esconder (mas sem conseguir) uma pontinha de tristeza em sua voz.

Abro a boca, genuinamente surpresa. Lilian sempre trata Snape melhor que todos nessa escola, mas o garoto faz besteira com ela mesmo assim. Ele não merece o coração bondoso e puro da minha amiga.

- Ele tentou me pedir desculpas, mas eu não deixei. E não vou mais falar com ele. - ela falou tentando parecer firme, mas todas nós sabemos o quanto ela deve estar magoada.

- Eu sinto muito... Você só estava ajudando, não merecia isso. Ele se acha tão melhor que todo mundo, mas é terrível. Parece que meu irmão estava certo afinal.

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As horas passaram depressa, como costumam passar quando estamos com quem amamos.

Voltamos juntas no trem conversando a viagem inteira e nos despedimos ao chegar na estação, onde cada uma seguiu seu caminho. Sentei em um banquinho e fiquei esperando meu irmão se despedir dos seus amigos, enquanto os observava de longe. Eles realmente eram muito unidos, e apesar de serem insuportáveis quando juntos, sua amizade é algo lindo de ver.

Ao chegar em casa, somos recebidos pelos nossos pais com uma mesa de jantar caprichada - talvez até demais para apenas quatro pessoas. Conversamos por quase duas horas sobre as aulas, os jogos de quadribol de James e como ele quer ser monitor-chefe quando chegar ao seu sétimo ano na escola.

Cansada, me despeço deles e subo para o meu quarto. Tomo um banho rápido, visto o meu pijama e me deito na cama, adormecendo rapidamente por causa do cansaço do meu corpo e da minha cabeça. O final do ano em Hogwarts é cheio de provas, trabalhos, práticas e correria. Eu precisava desse descanso.