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Hoje faz uma semana desde o ataque.

Por incrível que pareça, as coisas estão bem calmas. Meus pais voltaram de viagem há alguns dias, mas James e eu estamos sutilmente tentando convencê-los a passar alguns meses na França, ou quem sabe se mudar de vez. Acredito que eles ficarão mais seguros por lá e meu irmão concorda.

Por falar em James, ele teve quatro treinamentos essa semana. Eu tenho evitado sair de casa, então minha maior fonte de entretenimento é ouvir sobre a rotina de meu irmão.

Ele me contou que apesar de poucos bruxos serem aceitos, ele reconhece alguns outros alunos de Hogwarts ali. Talvez, se não houvesse uma guerra, mais bruxos estariam dispostos a se arriscar em um trabalho tão complicado, afinal os Aurores são linha de frente contra Voldemort e os comensais.

Para se tornar Auror, são necessários três anos de treinamento, contando com muitos testes de caráter e de aptidão. Entre as aulas, há estudos como Ocultação e Disfarce, Vigilância e Rastramento, Venenos e Antídotos, ao longo de vários outros.

Como sempre foi muito ativo, inclusive no quadribol, James tem facilidade nos testes de aptidão física. Ele me conta tudo que eles fazem e o quanto, apesar de ser algo tão sério, meu irmão e Sirius se divertem.

Essa têm sido toda a notícia que recebo de Black.

Ele tem ido para todos os dias do treinamento e, de acordo com James, está se saindo muito bem.

Me sinto egoísta ao pensar no quanto eu estou chateada com meu namorado. Eu entendo que ele está triste e não está bem, mas já faz exatamente uma semana que só sei que ele está vivo porque James me conta sobra ele! Sirius não responde minhas cartas, não fez questão nenhuma de me ver.

Agora que já passou algum tempo desde o acontecido com os comensais, pensei em ir até o seu apartamento para vê-lo, saber como ele está. E eu iria, se não estivesse sendo totalmente ignorada.

Como hoje é sexta-feira, James e seus novos amigos do Ministério da Magia planejaram sair ao final da tarde para beber e descontrair depois do treinamento.

Lily e eu ficaremos juntas na minha casa até meu irmão chegar, em um momento de garotas só nosso.

Por volta de três da tarde, escuto a campainha e vou rápido até a porta, animada e já morrendo de saudade da minha amiga – e cunhada.

– Lily! – falo com empolgação, abrindo a porta pra ruiva, que retribui o meu sorriso com um tão animado quanto.

– Lice! – ela fala da mesma forma e rio um pouco enquanto ela me abraça com força.

– Eu separei alguns esmaltes lindos e o filme já está na televisão, venha!

Puxo a garota para a sala de estar, onde provavelmente passaremos a tarde inteira. Durante longas horas nós fofocamos bastante, como se estivéssemos distantes por meses (mas na verdade, foram apenas uns dois dias). Pintamos as nossas unhas com lindos esmaltes, comemos cupcakes e pipoca, assistimos alguns filmes e acima de tudo, rimos bastante.

Eu odeio ficar sozinha. Minha cabeça insiste em repassar várias vezes tudo que está dando errado. Mas quando estou com meus amigos, pelo menos um deles, isso parece melhorar quase completamente.

○●○●○

O sol já se pôs há algumas horas, deixando o clima um pouco mais frio do que estava durante a tarde. Lily e eu estamos na cozinha organizando o jantar, já que James deve chegar a qualquer momento.

Coloco sobre a mesa três pratos e um copo para cada um destes, acompanhados de talheres e guardanapo. Enquanto organizo isso, Lily corta as pizzas que compramos e coloca as caixas em cima da mesa, ainda fechadas para preservar o calor.

Quando estamos finalizando os sucos, escuto risadas familiares vindo do lado de fora da casa e se aproximando até a porta. Mas não apenas uma risada, e afinal, por que meu irmão estaria rindo sozinho?

Ainda na cozinha, me estico para vê-los quando entram.

James e Sirius cruzam a porta, rindo alegremente de algo enquanto cada um carrega em sua mão uma garrafa de bebida.

Os dois vêm até a cozinha, meu irmão primeiro. Ele deixa um beijo em minha testa e vai falar com Lily, abraçando-a apaixonadamente e falando algo pra garota que a faz rir e depois beijar sua bochecha.

Levo meu olhar até Sirius assim que James passa por mim. Ele parece bem, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse sumido por uma semana. Meu olhar queima nele e, apesar da saudade, a mágoa disfarçada de raiva fala mais alto. Apenas desvio o olhar e volto a mexer na mesa, mudando algumas coisas de lugar apenas para me ocupar.

Sirius se aproxima e envolve minha cintura com seus braços, beijando meu ombro. O cheiro de whisky de fogo prevalece sobre o seu shampoo, o que não me agrada.

– Me beije, meu bem. – ele fala enquanto afasta meu cabelo para um lado, deixando beijos em meus ombros e meu pescoço.

Nego e me afasto dele, empurrando-o com meu braço mas sem usar força alguma. Me distancio um pouco.

– Alice... – ele continua, segurando minha cintura e me puxando outra vez para o seu corpo, mas dessa vez ficamos de frente.

Olho seus olhos acinzentados, olhos que me fariam perder o ar há alguns meses – Merlin, semanas – atrás. Hoje, apenas sinto os meus lacrimejando. Apesar da vontade de chorar, respiro fundo e mantenho a minha melhor expressão séria e até um pouco brava no rosto.

– Me solte. – ordeno, mas a minha voz sai bem mais trêmula do que eu gostaria, talvez pela vontade de chorar que está entalada na garganta. – Me solte, Sirius.

E então, como se eu tivesse o ofendido grandemente, Sirius me solta de uma vez se afastando, parecendo irritado.

– Eu sei! Mas eu gostei dessa cor. – Diz James, passando os dedos sobre as unhas de Lily que pintamos hoje mesmo.

Eles conversam desde que os meninos chegaram, mas tudo que eu via e ouvia era Sirius, então sequer havia notado os dois pombinhos no canto da cozinha.

Pego mais um prato e um copo e coloco sobre a mesa, me sento em seguida sem ânimo ou apetite algum. James, Lily e Sirius começam a comer, enquanto apenas observo. Pela maior parte do tempo, fico em silêncio, exceto quando meu irmão me pergunta algo, puxando assunto comigo. Respondo ele todas as vezes, mas não dou continuidade a nenhum assunto.

Eu sei que eles perceberam o clima entre Sirius e eu mas, sinceramente, esta é a menor de minhas preocupações.

Quando todos terminam de comer, me levanto juntando os seus pratos.

– Licença. – peço enquanto vou limpando tudo.

Sirius segura minha mão quando eu pego o seu copo e meu olhar instantaneamente vai até o seu, mas ele não me olha. Seu olhar é pesado, como se ele não tivesse coragem de levá-lo a mim, mas sua postura arrogante não mudou.

– Você não comeu nada. – diz encarando seu prato.

– Não estou com fome. – respondo friamente, me soltando com leveza de sua mão e deixando toda a louça sobre a pia. Faço uma magia para que ela se lave e limpo as mãos, vou saindo da cozinha.

– Alice... – ouço a voz de James me chamando, mas lutando contra todos os meus princípios, ignoro-o e subo as escadas.

Tudo que quero é deitar em minha cama, trancar a porta e esquecer que existe um mundo aqui fora. Um mundo em que Black está agindo como um otário.

Pontinhas | Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora