Come Together

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"Come together, right now, over me."

- Mas o que é que está acontecendo aqui? - gritou a diretora, adentrando naquele quase-hospício que o refeitório tinha se tornado.

Tudo tomou um silêncio mortal por alguns momentos. As meninas trocaram olhares entre si, enquanto Camila se segurava para não rir. A diretora caminhou entre as mesas e parou em frente ao balcão onde costumávamos buscar nossa comida.

- Qual o problema de vocês? - ela indagou, visivelmente irritada com nosso comportamento. E foi quando uma das meninas jogou uma colher de purê de batata na camisa preta de botão da mulher mais velha. Ninguém conseguiu manter o silêncio naquele instante. A diretora ficou tão vermelha que eu jurava que ia explodir. - Quem foi a vadia?

Voltamos à quietude anterior enquanto a coordenadora, que estava na porta do refeitório, correu até a Sra. Venture e entregou-lhe um lenço de pano. Observei um vulto entrando de fininho na cozinha.

- Onde está a cozinheira? - a mulher superior perguntou em voz alta, para que todas pudessem ouvir. A Sra. Rosov parou e deu alguns passos para trás, alisando o avental branco.

- Aqui, senhora - ela se pronunciou.

- O que diabos você colocou na comida delas? - A diretora cruzou os braços, demonstrando a irritação também contida em sua voz.

- E-eu não sei - gaguejou a cozinheira. Ela lançou um breve olhar para Camila. Pesado, porém inexpressivo.

- Iremos conversar melhor mais tarde. Vocês - Venture apontou para nós -, tratem de tomar jeito, ou terei de advertir cada uma, e informar seus pais ou responsáveis hoje mesmo. Richards, acompanhe-me.

A aluna do segundo ano que atirara comida nela se levantou e, cambaleando, seguiu a mulher mais velha sem dizer uma palavra sequer.

Assim que elas deixaram o refeitório, o falatório voltou e senti os olhos ardendo em fúria da cozinheira em mim e Camila. Minha colega, que estava ao meu lado, piscou para ela, deixando-a

ainda mais irritada. Por um segundo, tive medo do que poderia acontecer. Eu não estava tão segura das atitudes da cozinheira como estava Camila.

- Você sabe que estamos fodidas, não é? - eu sussurrei para a latina, que continuava sua refeição normalmente.

- Não estamos, não - ela respondeu, totalmente indiferente. - Você vai ver. É como eu digo: para tudo tem um jeito.


- Licença, Sra. Rosov - Camila dise numa voz doce enquanto abria a porta. Eu apenas a seguia, um tanto amedrontada. "Você é muito cagona, viada". Era o que Camila tinha dito quando eu me recusara a ir com ela até a cozinha.

Nós paramos perto do fogão maior e Rosov enxugou as mãos no avental de pano e olhou em nossa direção, ainda irritada.

- Viemos em paz. Queremos pedir desculpas, não era nossa intenção - mentiu a novata e a cozinheira revirou os olhos, preferindo voltar ao trabalho a ficar perdendo tempo conosco.

- Vamos fingir que acredito, pode ser? Agora vão embora e não contem mais comigo para nada. Me tratem como as outras - Rosov murmurou até um pouco... triste.

- Não, para - eu me coloquei à frente, fazendo a mulher me olhar. - Realmente nos sentimos mal. Não queríamos que você se ferrasse.

- Ta tudo bem. Só fiquem sabendo que não vou mais ajudá-las.

- Certo, nada mais justo. Só não queríamos que isso acabasse mal.

- Ok, agora, por favor, saiam da minha cozinha. - Ela segurou a porta e deu passagem para nós.

- Ok. - Camila só andou para fora do lugar, dando de ombros.

O refeitório estava vazio quando caminhamos para os dormitórios. Todos os corredores estavam vazios, e eu concluíra que as meninas preferiram ir para a cama mais cedo depois daquele sermão do jantar.

Eu já estava indo para a minha ala quando Camila segurou minha mão e me puxou para si, fazendo nossos corpos se colarem e um choque percorrer toda minha espinha, eriçando cada pelo existente em mim. Seus olhos se fixaram nos meus, e depois fitaram minha boca semiaberta. Estávamos tão próximas que, por um segundo, pensei que ela iria me beijar. Mas ela desviou o rosto e disse em meu ouvido:

- Nós deveríamos fazer alguma coisa. Quer ir pro meu quarto?

Sem pensar duas vezes, eu assenti seguramente. Agora, menos atordoada, eu pensava que deveria ter hesitado.

Ela abriu a porta do 102 e Normani se encontrava em sua cama, lendo um livro de Dickens. Eu não conseguia ver o título, que se encontrava na lombada, mas também nem me importei muito. Camila puxou a chave que pendia de seu pescoço numa corrente e destrancou o armário. Depois entregou-a a mim, fazendo um gesto para que eu ficasse com o objeto. Não quis questionar, apenas obedeci.

- Oi, Lauren - a morena disse, sem tirar os olhos das páginas amareladas à sua frente.

- Oi, Normani. Como vai? - respondi com toda a simpatia contida em meu coração.

- Um pouco irritada com esse livro, mas estou bem. O que estão pensando em fazer? - Ela se sentou enquanto observava Camila encher uma mochila marrom discreta.

- Não sei. Ao que parece, vamos dar uma caminhada no bosque ou algo assim - eu falei e Normani imediatamente saltou da cama, deixando o livro de lado.

- Posso ir com vocês? - ela perguntou, animada.

- Não! - Camila disse, um pouco mais alto que o suficiente. A morena franziu a testa, demonstrando confusão. - Quer dizer, não. Eu e Lauren precisamos tratar de negócios e precisaremos de privacidade, se é que me entende...

- Ah, sim... - Normani sorriu com malícia e piscou para a mais nova. - Pode deixar, eu peço para Dinah ir comigo depois.

Camila revirou os olhos e pegou a mochila, puxando-me pela mão logo que passou por mim.

- Aonde vamos? - eu perguntei, atrapalhando-me ao tentar acompanhar seus passos.

- Vamos ao seu laguinho. É mais seguro. - Ela deu de ombros, sem parar de andar e olhar para o corredor que ainda precisaríamos percorrer.

- Ei, ei. - Eu brequei e esperei seus olhos encontrarem os meus para voltar a falar. - Se você acha que vou me drogar ou ficar te olhando consumir essas merdas e acabar com a sua vida, saiba que está muito enganada.

- Qual é, vovó. Você ta de brincadeira, né? - ela riu, mas eu mantive minha postura séria.

- Eu to com cara de quem ta brincando?

- Ah, deixa de frescura.

- Desculpa, Camz, mas não vai rolar. Vê se cresce, bebê.

E com isso eu a deixei na porta dos fundos, por onde nós supostamente sairíamos em poucos segundos.

PopRocks And Coke (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora