You

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"You must try harder. You're kissing all of my friends, you..."

Nem mesmo pude chegar no quarto número 61 e Veronica pulou sobre mim. Literalmente.

- Lauren! Graças a Deus - ela berrou, como se eu tivesse acabado de voltar de uma guerra.

- O que é isso? Quando foi que você ficou tão religiosa? - questionei em resposta, empurrando seu ombro a fim de afastá-la.

- Tanto faz. Camila te viu com a sua namoradinha. - Ela se encostou no batente da porta, mas eu a joguei para dentro imediatamente.

- Pode me explicar direito, fazendo o favor?

- Ok, vejamos... Eu tinha saído com a Lucy e umas amigas dela, inclusive a Normani. E aí, do nada, Camila chegou e a tirou para conversar. Sou mestre em leitura labial, como você já sabe, e ela falou que te viu lá com a garota, por isso deu meia volta e foi embora. Acho que alguém tomou no cu.

- Por quê? Eu não tenho nada com ela, portanto, ela não tem o direito de ficar brava ou falar alguma coisa. Se quisesse, já tinha vindo antes.

- E? Lauren, já conversamos sobre isso. Mas foda-se, já te dei o recado e temos uma festa para ir.

Algo no fundo do meu coração queria que ela pelo menos tivesse vindo brigar comigo, o que era muito esquisito. Normalmente, nós não queremos brigar com pessoas que gostamos. Tentei deixar isso para lá, e segui Vero para o bosque.

O som das folhas batendo umas nas outras era reconfortante. O verão estava chegando, e a brisa noturna era mais quente do que de costume.

Começamos a nos aproximar da fogueira da festa. Um cheiro estranho fez meu nariz estranhar o ambiente. Não era cheiro de álcool nem de cigarro. Seria algo... Não era possível. Apertei o passo, tomada pela curiosidade. Quando finalmente chegamos, deparei-me a oito garotas dançando a músicas imaginárias e algumas conversando em torno do monte de galhos em chamas.

Camila também estava lá. E estava acompanhada de Tricia. O que diabos ela estava fazendo lá? Sentei-me com Veronica em um dos caules caídos, sem tirar os olhos das duas "amigas". Elas fumavam alguma coisa e era visível que estavam tendo um bom momento. Mais uma vez, aquele maldito pedacinho do meu coração se apertou.

Fingi não ter percebido sua presença quando ela me pegou olhando em sua direção. Peguei um copinho descartável e enchi de energético, que elas estavam usando para misturar com vodka.

- Vai querer um? - uma voz estranhamente familiar perguntou, embargada.

Virei-me e Camila estava de pé ao meu lado, com um sorriso inocente no rosto. Ela tinha um estranho espécime de cigarro nas mãos, o que me fez olhar para ela antes de aceitar.

- Q-que isso, Camila? - eu gaguejei, sem tirar os olhos da coisa nas mãos dela. É lógico que eu sabia o que era (eu vivia num internato, mas não significava que eu não tivera uma vida antes daquilo), mas talvez não estivesse psicologicamente preparada para isso.

- Nosso PopRock verde, ma chérie. Vamos, eu sei que você é melhor que isso. - Ela me puxou pelas duas mãos e fui conduzida para um local mais reservado entre as árvores. - Você não vai ter bad trip, não vai acontecer nada de ruim, ok? Isso não é heroína. É só você fazer o que eu digo e não ficar com medo. Lembre-se que você aceitou minha proposta de continuar com a nossa vodka e o saquinho verde.

- Você é doida - eu ri. Peguei o cigarro da mão dela e esperei que ela acendesse a chama na ponta do papel enrolado. - Não disse nada sobre eu querer acabar com essas coisas juntamente a você. E, aliás, você deu alguma amostra às garotas na fogueira?

- Você vai curtir. E sem mais perguntas. Agora, apenas trague. Feche os olhos e sinta a diferença.

Sem outra saída, eu a obedeci. Eu fumei e, sinceramente, não senti nada que diziam sentir. Dei mais dois tragos e nada. Eu olhei para ela, que estava um tanto ansiosa pela minha resposta.

- E então? O que me diz? - Camila interrogou baixinho. Eu pisquei e entreguei o cigarro.

- Não dá. Não acontece nada. Não quero mais. - Dei-lhe as costas para retornar ao centro da festa.

- Como assim? Hey, volta aqui! Tenta de novo!

- Você quer me chapar?

- Você não disse que não funciona? Como isso aqui vai te chapar se não funciona?

Seu sorriso malicioso me induziu a tomar o baseado de volta e tentar mais vezes. Dessa vez, eu tentei mesmo. Traguei várias vezes... Até que comecei a sentir coisas. Era como se eu tivesse acabado de sair de uma sessão de massagem nas costas. Estava mesmo me relaxando.

- Wow - eu suspirei, observando a imagem de Camila um pouco embaçada e esquisita. Ela parecia estar num filme 3D, e eu atrás da tela usando os óculos.

- Sabia que daria certo. Acho que você precisa de uma água. - A garota mais nova segurou minha mão, levando-me para a fogueira. Sua voz também parecia mais distante e ecoada, como se ela estivesse falando dentro de uma caverna.

Lá ela me deu um copo d'água e eu apenas bebi tudo, sem dizer uma palavra sequer. Sentei na árvore caída, focando no que estava acontecendo comigo. E também me questionando o quanto de tetrahidrocanabiol aquela erva continha. Já sabia que aquela droga afetava o hipocampo e o córtex pré-frontal, dessincronizando ambos, mas seria apenas esse o motivo de tudo aquilo o que eu estava ouvindo, vendo e sentindo? Não, claro que não, também mexem com os neurônios. Será que eu perderia alguns deles naquela experiência?

- Caramba, você fica ainda mais quieta quando ta na brisa - Camila notou, e eu não respondi. Ela deu de ombros para si mesma e foi conversar com Tricia novamente.

Por que diabos elas estavam conversando? Eu precisava saber, mas não queria ir perguntar. Soaria rude da minha parte. Só continuei sentada ali, sentindo o calor do fogo e esperando me recuperar.

Estranho foi quando Camila e Tricia se aproximaram. Elas se abraçaram, e não foi um abraço comum, pois os lábios de Tricia se interligaram aos da latina. E eu não sentia nada. Nada que devesse nem nada que não devesse. Se eu tinha beijado uma outra garota mais cedo, talvez ela pudesse beijar também. Mas aí veio Dinah, que a cumprimentou com um selinho? Devia ser a maconha. Não era possível, depois de Dinah, Camila ainda beijou outra amiga minha, Lucy? Puta que pariu, nunca mais eu usaria aquela porcaria. Lucy era comprometida! Pelo menos em minhas concepções... Eu bati a mão na testa, esperando que pudesse ajudar em algo, porém aconteceu totalmente o contrário. Eu perdi o equilíbrio e caí para trás, como uma bêbada. Bleh.

PopRocks And Coke (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora