13 - Conversas num sábado à noite

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yuri

Agradeci ao acordar e ver que era sábado. Sem escola. Sem castigo. Sem obrigações.

Perfeito!

Não demorei a descer para comer cereal com leite na sala, com meu travesseiro macio e gordinho agarrado ao peito, preparadíssima para assistir os desenhos que passariam na programação do meu canal favorito pelas manhãs. Nunca perco um episódio de As Meninas Superpoderosas Geração Z desde pitica.

— Vai mais para o lado — pediu Yejun, seco, à minha frente. Vestia o pijama verde com pequenos dinossauros para tudo quanto é lado, e sei que apenas queria me irritar, porque sabe que aqui em casa há dois sofás e ele podia muito bem usar o sofá menor.

Revirei os olhos.

— Senta no outro.

— Mas eu quero esse.

— Que saco... — Dei espaço a ele, que sorriu vitorioso e jogou o corpo quase em cima de mim. Empurrei-o sem um pingo de paciência. — Você é pesado, sabia? Pesado e insuportável.

Ele deu uma risadinha.

— Eu sei, mas é legal te deixar irritada.

Pus o dedo indicador rente à boca, pedindo silêncio porque o episódio estava prestes a começar.

— Chata — resmungou, mas ficou quietinho.

Um dia antes do meu aniversário de sete anos, meus pais deixaram uma babá cuidando de Yejun e de mim porque passariam o dia fora. À noite, depois que voltaram e nós dormíamos como dois anjinhos no quartinho que na época dividíamos, papai colocou uma boneca de pelúcia da Docinho entre meus braços. Era a boneca que eu sempre falava que queria. Papai diz que, mesmo dormindo, eu a agarrei e dei um sorrisinho de felicidade. Gosto de relembrar esse momento quando estou limpando as prateleiras do meu quarto e encontro a Docinho um pouco sujinha, mas recheada de boas memórias.

Palmas vieram lá de fora no momento exato do intervalo.

— Yejun, vai lá atender! — gritou mamãe, com a cabeça para fora da porta da cozinha e o avental sujo de farinha balançando no pescoço porque ela nunca amarra direito. — Por favor.

Meu irmão fingiu estar morto. Dei um peteleco nele e levantei do sofá.

— Deixa que eu vou.

— Obrigada! — Mamãe voltou aos seus afazeres.

Era uma mulher de alta estatura. O cabelo castanho-escuro escorrido brilhava sob a luz do sol, e a calça jeans cintura alta caía muito bem no seu corpo. Segurava um bolo recheado de moranguinhos, e me senti salivar apenas de pensar no sabor.

— Er... Bom dia... — desejei um tanto sem jeito porque ainda usava o pijama de patinhos e as pantufas com pompons iguais o da Tinker Bell.

— Bom dia, querida — respondeu simpática. Quando sorria, bolsinhas d'água surgiam embaixo dos olhos cor de chocolate.

Que olhos intensos...

Ela era familiar.

— Sou Lilian Park, a vizinha do lado. Queria aparecer antes para dar as boas-vindas, mas meu filho disse que me preocupo muito com quem não conheço direito... Jongseong, o nome dele, mas ele prefere o nome americano, Jay. Acho que se conhecem.

Ah, sim. A mãe do Jay. Nossa, ela é ainda mais bonita de perto.

Genética boa essa.

— Vamos à mesma escola e treinamos juntos. — Eu não tirava os olhos do bolo. É pra mim? Que sorte a minha. Balancei a cabeça, pigarreando. — Que modos horríveis os meus. A senhora quer entrar para tomar um cafezinho?

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora