19 - Distantes

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yuri

Desde que fui à casa do Sunoo na quinta, meus pais andavam estranhos. Não entre eles. Estranhos comigo. Eu os via tagarelar incessantemente pelos cantos, mas, assim que eu chegava perto, mudavam o assunto e se distanciavam. No café da manhã, nem mesmo perguntaram como havia sido à tarde de ontem com meu amigo. Mas perguntaram para Yejun. Só para ele.

— Foi irado! — Yejun pousou a tigela de cereal vazia em cima da mesa, energético como um bebê. — A avó do Jungwon é muito legal. E ela faz bolos ótimos! Sabe, Ni-ki até pediu a receita para tentar fazer em casa.

— Ni-ki? — indaguei, e ele concordou com a cabeça. — Pensei que o trabalho fosse em dupla.

— E era. Só que o Ni-ki faltou no dia em que a professora montou as duplas e, como Jungwon é metido a bonzinho amigo de todos, disse que aceitava o japonês para fazermos uma dupla de três.

— Ah, sim... — Beberiquei o café, descaída o suficiente para meus pais notarem, mas não disseram nada, mesmo vendo o meu estado deplorável misturado com "me deem atenção, por favor". — Sabe, esse nome aí, Ni-ki, não me é estranho...

— Na verdade é Riki. — Abriu um sorriso quase idêntico ao meu. — Mas ele prefere Ni-ki por motivos que nem me importei de perguntar, mas achei da hora. — De repente, os olhos se arregalaram e o sorriso triplicou de tamanho. — Ei! Vocês podem começar a me chamar de Sejun?

— Não — respondemos em coro, papai lendo o jornal e mamãe batendo o dedo indicador na tela do celular como se isso adiantasse alguma coisa e o site em que acessava fosse carregar mais rápido.

Yejun fez beiço.

— Credo. Vocês são caretas demais...

— Você é que é um Maria vai com as outras. — Empurrei a xícara para o centro da mesa, vendo que agora era a única a prestar atenção no assunto. — Mas e aí, o trabalho ficou legal?

— Ficou bom, até. Considerando que calculamos errado o tamanho do título na cartolina. — Tirou o celular do bolso, clicando numa foto e me mostrando. O título começou grande e terminou pequenininho, as letras emboladas umas às outras. Eu ri e ele guardou o celular no bolso, acompanhando a risada. — Ni-ki e eu ficamos encarregamos do título e Jungwon ficou full pistola com a gente porque cagamos tudo. Nossa, o lado perfeccionista dele atacou e quase compramos outra cartolina. Só deixamos daquele jeito porque meio que os desenhos e alguns textinhos que separamos já estavam colados e daria um trabalhão providenciar outros... Uma loucura. Mas foi divertido no final das contas. A vovó Yang ajudou a gente a decorar as bordas da cartolina com papel crepom verde-escuro e ficou bonitinho.

Havia ficado mesmo.

— Quer ver mais fotos? — Pegou novamente o celular e me aproximei para vê-las. Era uma dele e os meninos na rua, fazendo careta. — Essa a gente tirou quando a avó do Jungwon aproveitou que terminamos o trabalho e mandou a gente ir ao mercado comprar uns ingredientes pra ela. Gastamos o troco com pirulito e Ni-ki pegou sem querer um daqueles que mancha a língua, sabe. Nossa... Ele só notou quando começou a falar e ficamos rindo dos dentes azulados dele.

Mostrou um vídeo do garoto bravo correndo atrás deles pela rua, e fiquei feliz de saber que meu irmão se divertiu. Yejun nunca teve muitos amigos. Ele diz que não se importa, mas sei que é mentira. Apesar de não demonstrar, é um garoto sensível.

— Ni-ki e eu também apertamos a campainha de uma casa e saímos correndo deixando o Jungwon pra trás. Yuri, foi tão engraçado! Eu tinha que ter gravado pra mostrar pra você!

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora