22 - Ursos e rugidos

44 7 0
                                    


jay

Se eu soubesse que literalmente usaria uma fantasia de urso — e não só as orelhinhas como tinham dito no começo —, nunca teria topado fazer a audição para ser o Papai Urso. Mas eu fiz. E, caramba, eu passei!

— Que calor... — rezinguei pela milésima vez no dia desde que botei a roupa de tamanho totalmente desconfortável e piniquenta, ao mesmo tempo em que Jake vestia a sua numa das cabines do vestiário. — Qual é a dessa professora, hein? A gente só vai ensaiar...

— Eu sei, não é? — concordou ali do outro lado, a mão pendurando o uniforme na porta. — Mas acho que é só pra gente se acostumar. E se o tamanho ficar esquisito... — Ouviu-se um suspiro misturado com um xingamento. — Ai, droga, ficou meio grande...

— Deixa eu ver.

— Peraí.

Ele abriu a portinha e passamos a rir feito loucos ao notarmos que vestíamos a fantasia um do outro.

— Fala sério, a gente é tão burro!

— Vamos destrocar!

— Pra cabine! — ordenei, e Jake repetiu no mesmo tom.

— Pra cabine!

Cada um foi para um cubículo e fomos jogando peça por peça de um lado para o outro, até estarmos vestidos da maneira correta. A roupinha estava confortável em mim agora, e Jake não parecia mais um Bebê Urso vestindo peças três vezes maiores que o corpo pequenino.

— Vamos pro auditório agora?

Eu assenti.

Senhora Zhang e senhorita Mei, a professora de arte, já nos esperavam na bancada onde os jurados ficavam na época em que o colégio realizava shows de talentos. Os olhos de ambas cintilaram ao verem o efeito das roupas que nos emprestaram para a peça.

— Que gracinha! — exclamou a professora de música, e encarou a colega ao lado. — E o tamanho deu certinho, Mei!

Jake e eu nos entreolhamos com ar de riso, mas não comentamos nada.

— O script tá pronto, professora? — Moon Sumin, nossa colega que interpretaria a bondosa Mamãe Urso, quis saber.

— Está sim, querida — replicou senhora Zhang. — Só vamos esperar a última aluna chegar e já entregaremos pra vocês, está bem? Daqui a pouquinho.

Sumin concordou num balançar de cabeça, a fantasia totalmente folgada no corpo assim como a de Jake estava antes.

Uma sombra mostrou-se na cortina vermelha às nossas costas, e nos viramos para ver o que era. Mas não era o quê. Era quem.

— Yuri! — senhora Zhang gritou à garota vestida a caráter, e ela acenou para mim enquanto se aproximava dos demais. — Finalmente a Cachinhos Dourados chegou! Vou distribuir o script.

— Pensei que faria a Doroth — sussurrei enquanto recebia o texto da peça.

— E eu pensei que faria O Lobo Mau — contrapôs, os lábios curvadinhos num sorriso. Olhei-a torto. — O quê? É a sua cara.

— Engraçadinha.

— Obrigada.

Passamos a ensaiar de pouquinho em pouquinho cada parte, as professoras nos auxiliando com as expressões faciais e corporais a todo o momento. Foi cômico. Ríamos a cada frase e isso dificultava um tiquinho — além de deixarem senhorita Mei p da vida —, mas era divertido.

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora