09 - Caminhos cruzados

40 7 2
                                    

jay

Não sou baixinho, mas o pijama folgado que uso dá essa impressão e mamãe acha adorável. Na verdade, não é um pijaaama mesmo, daqueles próprios para puxar um ronco da hora. É só um blusão qualquer (verde, superconfortável, com mangas tão longas que minhas mãos somem) e um shortinho de dormir (antigasso, mas compensa na comodidade).

Às seis e quarenta da manhã, com zero disposição para outro dia de aula e indignado por ter que levantar de um sonho tão gostosinho, esfreguei meus olhos aos bocejos e pisquei até voltar para o mundo real. Ainda sentado na cama, enquanto a mente abria-se aos pouquinhos, olhei a janela aberta (que, por acaso, mamãe havia me lembrado de fechá-la antes de ir dormir, mas me esqueci mesmo assim) e vi sua silhueta desfilar pelo quarto. Quis dormir de novo. Se pudesse, para sempre.

Amassei o rosto entre os dois travesseiros e resmunguei, porque aquilo acontecia de verdade. Yuri é minha vizinha agora. Chegou sem avisar, estraçalhando tudo em minha vida já não tão perfeita e, aparentemente, não sumiria tão logo.

Será que eu posso faltar hoje à aula?

— Little Jongie... — cantarolava mamãe pelo corredor, enquanto eu ainda decidia entre sair da cama ou morar nela por um tempo. Ela bateu à porta, e perguntou com a voz baixinha: — Já acordou, meu amor? — Não movi um musculo, e mamãe abriu devagarinho metade da porta e me deu uma espiadinha. — O senhor Moon acabou de deixar aqui um daqueles pães quentinhos que ele faz. Tá na mesa, prontinho pra ser devorado. Uma delícia!

Com a cara amassada no travesseiro, tentei respondê-la:

— Legal, mãe... Já, já desço pra comer. Só vou me trocar.

— Ok. Vou ficar esperando.

Esperei-a sair para enfim me levantar com uma cara nada boa. Não acredito que o senhor Moon já se mostrava para minha mãe de novo! Que patético! Só porque ela o elogiou e disse que seus pães eram os melhores da cidade, ele começou a nos dar pão de graça toda a semana — e isso seria algo legal, se eu não soubesse suas reais intenções.

Ele é um padeiro solteirão e nosso vizinho da frente. Tem quarenta e poucos anos, baixa estatura, uma pancinha fofa e é totalmente desengonçado pela minha mãe. Mudou-se para cá há pouco tempo, antes de Yuri e a família. Mamãe, sendo a vizinha prestativa que é, fez bolo e levamos à casa dele para desejar boas-vindas. Desde lá, venho notando a maneira que ele olha para ela. É como meu pai a olhava quando... quando ainda estava vivo.

— Ele é um doce, não é? — À mesa, mamãe sorria de boca cheia e olhinhos fechados.

— O pão ou o padeiro?

— O pão, é claro. — Suas bochechas se enrubesceram. Sei que se referiu ao padeiro, mãe. Ela desconversou: — Mas, e aí? Alguma novidade?

— Novidades geralmente são legais, mas essa é meio ''mé''. — Cortei um pedaço do pão caseiro, e passei requeijão na farta fatia. — Descobri que Yuri é nossa vizinha.

A boca dela transformou-se num perfeito ''O''. Até deixou o pão de lado.

— Verdade?

— É.

— Nossa, Jongie, que legal!

— Legal? — Eu ri pelo nariz. — É péssimo, mãe. Já não basta ter que vê-la na escola, agora na rua de casa também? É um saco total!

— O que acha de fazermos um bolo de boas-vindas atrasadas pra eles? — Ela não ouviu nenhuma palavra que eu disse? — Seria gentil da nossa parte. Melhor ainda! Ao invés de um simples bolo, posso convidá-los para jantar aqui em casa, que tal? Quando acha que podemos fazer isso, querido?

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora