11 - No pior momento possível

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yuri

Amanheci desejando não acordar aquele dia, de tão exausta que eu estava. Na noite passada, meu plano era acordar cedo hoje para estudar um conteúdo que não aprendi direito na aula, mas desliguei o despertador e fingi que ele não existia. Faltavam quinze minutos paras as sete quando acordei de verdade, e tive que me arrumar às pressas se não chegaria atrasada.

— Que rostinho abatido... — Mamãe foi a primeira a reparar na minha cara horrenda de zumbi, em plena manhã. — Teve uma noite ruim de sono?

— Tá na cara que sim — Yejun dizia enquanto se juntava a nós, à mesa. Ele mordeu uma torrada e me olhou de boca cheia. — Seu despertador toca de cinco em cinco minutos. É irritante.

— E nem assim consegui acordas às cinco da manhã... — ofeguei, cutucando a cutícula da unha. — Que raiva. Vou ir para a aula de matemática sem entender matemática. Irônico, para não dizer que é trágico.

Papai, que lia o jornal de sempre, ergueu as sobrancelhas grossas como se tivesse encontrado uma solução.

— Ei, Yejun é bom em matemática, não é? Ele pode te ajudar.

Antes que meu irmão ousasse respondê-lo, me intrometi mais que depressa:

— As matérias não batem, pai. Os conteúdos são diferentes do primeiro ano para o segundo.

Parei de encucar com as cutículas grandes e pus café numa xícara, surpresa por não ter queimado a língua ao bebericá-lo naquele dia tão azarado.

Empurrei-a para o meio da mesa de madeira, cheia.

— Tem um menino na minha sala, Jaeyoon, que é tipo um geniozinho, talvez ele possa me ajudar se eu pedir. Ou Sunoo, também, porque entendo mais suas explicações do que as do professor.

— Faça isso, então. — Mamãe cruzou as pernas por baixo da mesa. — Desde que consiga aprender, tente de tudo. Só não cole.

Dei um sorriso fraco.

— Está certo.

Após o café, avisei meus pais de que provavelmente eu chegaria tarde em casa por culpa do castigo injusto, e Yejun não precisaria esperar por mim quando fosse ir embora. Como limparia os banheiros e vestiários depois de sua turma fazer educação física, pedi para ele pegar leve e fizesse suas necessidades já em casa, para poupar o serviço.

Fiquei meditando entre ir mesmo à escola ou fingir um mal-estar repentino só para não ter que encarar aquele calor infernal e poder atualizar minhas séries no meu quarto, debaixo do ar-condicionado enquanto me entupia de pipoca. Mas tinha um castigo injusto para cumprir. Que droga.

Minha barriga fez um barulho esquisito quando levantei do sofá após conferir se tinha feito todas as tarefas de casa que passaram na manhã passada. Estranhei, porque não era fome. Pensei ser algo entalado, mas não saiu nada no banheiro e deixei para lá. Só peguei uma banana para comer no caminho, por insistência de mamãe.

— E aí, campeão? — Jay e meu irmão pareciam tão íntimos que qualquer um poderia pensar que se conheciam há anos, e não há apenas um dia.

Por estar com um mau-humor assustador e nada prestava para mim, revirei os olhos e acelerei os passos. Como ele podia estar tão de boa sabendo que iriamos perder nosso tempo ralando para limpar os banheiros da escola?

— Ela tá bem? — escutei-o cochichar atrás de mim para Yejun, que evitava contato visual comigo desde que saímos de casa.

Pela primeira vez, meu irmão parecia estar com medo de mim.

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora