03 - Belo rostinho conhecido

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yuri

Papai permanecia com aquela enrolação azucrinante para voltar, então pedi que Yejun aquietasse o rabo no banquinho e ficasse de boa enquanto eu ia atrás do nosso pai. Ele reclamou, é claro, mas não me contrariou.

Quando bati à porta da diretoria, mandaram-me aguardar um instante. Temendo que meu pai acabasse se zangando por desobedecê-lo, engrossei a voz e respondi um ''OK'' bem bruto, cobrindo meu tom natural.

Pensando melhor, ficar com Yejun aguardando no saguão parecia uma boa opção, e eu faria isso se não tivesse colidido com o menino dos desenhos pelos corredores. Nem mesmo tinha notado que ele havia me seguido.

Será que ele ouviu o meu macho interior dizendo ''OK''? Espero que não.

- Ops, mal aí. - É um jeito tosco de pedir desculpas, eu sei, mas o susto foi tanto que apenas isso saiu da minha boca. Curvei-me por educação, sem ao menos encará-lo, e segui o caminho. Mas ele continuou me secando conforme eu andava, e tive que olhar para ele. - Hã... Você precisa de algo?

- Você ficou me encarando quando cheguei - a voz mostrava curiosidade. Deus, me leva agora. - Queria perguntar alguma coisa?

- Ah... - Ergui os ombros, numa tentativa falha de pensar em uma resposta decente que fosse rápida o bastante para que eu pudesse dar no pé. - Não.

Segui meu caminho.

Dois passos depois, desisti e dei um suspiro, voltando-me para o garoto. Seu ar era de riso, misturado com um: ''Essa garota é estranha''. Devia me achar biruta das ideias, mas eu não podia reclamar quando ele estava certo em pensar algo assim.

- Na verdade, fiquei curiosa quanto ao que olhava aí - revelei, apontando para o caderninho bege embaixo de seu braço. Estiquei o pescoço para perto dele, como se fosse uma girafinha curiosa. - São desenhos, não são?

Ele pegou o caderno e o apertou contra o peito.

- São apenas rabiscos.

- Pelo jeito que está segurando o caderno agora, tenho certeza que são bem mais do que isso.

Um sorrisinho surgiu no canto de seus lábios, e ele me entregou o caderno. Então cruzou os braços, envergonhado, e de canto ficou me observando folhear com calma cada página e apreciar os detalhes.

Fiquei presa em uma folha onde o garoto desenhara um moinho de vento, mas o verdadeiro destaque era o céu atrás dele: as cores do pôr do sol eram um espetáculo mais que satisfatório aos meus olhos; faziam-me lembrar da vista da janela do meu quarto. Tons quentes e cor-de-rosa... misturados são uma obra de arte.

- Não são tão bons assim, na verdade - ele murmurou tímido ao notar que abri um sorriso quando vi seu desenho de uma garotinha no meio da chuva, segurando uma sombrinha colorida. - Desenho apenas para passar o tempo, não sou nenhum profissional no assunto. Só faço paisagens e às vezes me arrisco a desenhar pessoas, mas geralmente o resultado nunca me agrada, igual a esse desenho aí e...

Minha risada o fez parar de falar.

- O quê? - indagou ele, curioso.

- Você é igualzinho ao meu pai. - Fechei o caderno, entregando-o de volta. - É talentoso demais para um simples passatempo.

Seus olhos castanhos e grandes brilharam.

- Acha mesmo?

- Acho.

Sorrimos ao mesmo tempo, e meu rosto se esquentou.

Ele me estendeu a mão.

- Sou Kim Sunoo.

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora