02 - Gente nova no pedaço

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yuri

Mudar de casa quase na metade do ano foi um saco total. Incrível como meus pais me esperaram conseguir fazer amigos na escola nova para chegar à conclusão de que o apartamento onde morávamos há poucos meses não era o ideal para nossa família. Meu irmão nem se incomodou com isso, e olhe que ele tinha amigos legais pra caramba no Kwang! Isso é o que chamo de alguém desapegado.

— Não precisa ficar assim, Yuri — as palavras de mamãe eram reconfortantes, mas só de ver todas aquelas caixas cheinhas de roupas em suas mãos a preguiça batia. — Pense pelo lado bom, querida. Esse bairro é mais tranquilo e a escola é mais perto também. Ouvi dizer que a quadra de esportes é enorme, do jeitinho que você gosta.

Meus lábios curvaram-se em um sorriso fraco, apenas para deixá-la despreocupada com a filha reclamona.

— É... Quem sabe seja maneiro.

— Isso. Maneiro... — repetiu baixinho, saboreando as palavras. Ela sempre presta muita atenção ao que eu falo, porque diz que acha engraçado algumas expressões usadas.

Nosso novo lar era até aconchegante à primeira vista, mas eu não sabia se me habituaria rápido ali. Era um sobrado bonito. Os móveis ornavam com as cores das paredes e os quadros do papai fizeram um ótimo trabalho como decoração.

Um dos hobbies do meu pai é pintar, mas eu não consideraria apenas um hobby quando se é talentoso demais para um mero passatempo. Seus desenhos são encantadores. O que mais gosto é o de uma casinha no meio do campo, com uma moça de chapéu engraçado e amarelão em destaque. Penso em segredo que essa moça é inspirada na mamãe, porque suas bochechas ficam rubras toda vez que elogio a beleza que papai colocou nessa tela. Os dois me fazem suspirar.

— Pai, isso é demais! — gritou meu irmão ao descer deslizando pelo corrimão marrom.

Papai o pegou pela cintura e tentou o girar no ar quando ele chegou ao chão, mas meu irmão é pesado demais para a coluna do papai e os dois ficaram rindo da quase queda que aquela brincadeirinha ocasionou.

— Por isso os homens morrem primeiro que as mulheres — mamãe comentou comigo.

— Totalmente.

Yejun fez quinze em janeiro e tem 1,71 de altura (e isso me deixa enciumada, porque até então eu e meus 1,69 eram imbatíveis), é apenas dois anos mais novo que eu e ainda age como se fosse um garotinho de sete anos porque, convenhamos, mesmo que corrimões nos façam lembrar filmes infantis (onde deslizar sobre eles parece ser a coisa mais delicinha do mundo), é claro que isso é arriscado. E meu pai nem ligou!

— Ser o neném da casa tem seus privilégios. — Sei que Yejun queria me provocar, por isso tentei não dar bola.

Mas não tenho poder contra a minha boca grande.

— Você tem 15 anos, cabeção. Não é mais um bebê.

— Nem você.

Matura, mostrei minha língua a ele, que repetiu o ato. Às vezes costumo ser um tanto infantil, mas apenas quando Yejun está por perto (sempre).

Mais tarde, eu fuçava meu celular na cozinha quando papai deu duas batidinhas na parede e teve minha atenção para si. Ele esticou o pescoço em uma tentativa de enxergar o que eu via.

— O que é isso?

Mostrei o celular.

— Tô dando comida pro meu Pou.

Ele fez uma careta engraçada.

— Pou?

— Sim. — Deixei o aparelho eletrônico em cima da mesa e me levantei aos bocejos. — É um joguinho bem viciante, até. Dá pra deixar o bichinho doente se der pimenta, e é muito engraçado porque ele quase morre!

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora