21 - Cantorias e papéis principais

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yuri

Mal anunciaram sobre as peças para fechar o trimestre e passei a ensaiar para as audições no mesmo dia com mamãe.

A noite chegou chuvosa e a preguiça insistia que eu apenas me jogasse na cama e dormisse logo, mas a ansiedade era tanta que só consegui cantar mil e uma vezes a canção que Dorothy cantaria, torcendo para que eu não desafinasse.

Mas não deu muito certo, aparentemente.

— E aí? — Depois de quase morrer sem ar cantando Somewhere Over the Rainbow, eu estava louca para saber a opinião de mamãe, mas sua cara não me parecia muito boa. Bem, ela sorria, mas era um sorriso totalmente constrangido. — Mãe?

— Oi? — As bochechas quase se rasgaram pelo sorriso falso.

— Quero saber sua opinião sobre a minha performance.

— Ah, sobre isso...

Yejun entrou no quarto sem nem bater na porta.

— Tá tudo bem por aqui? Escutei uns barulhos esquisitos, como se alguém estivesse morrendo...

Mamãe explodiu em risadas e meu rosto se fechou.

— Yejun, vai ver se eu tô na esquina, vai! — Sentei no colchoado da cama, os braços cruzados. — Não posso nem cantar em paz, credo...

— Cantar? — Juntou-se à mamãe ao riso patético. — Se isso aí é cantar, sinto muito, maninha, mas você é péssima!

Fiz careta, virando a cara.

— Desculpe, Yuri — mamãe pediu ao parar de rir, mas a face mantinha aquele arzinho engraçadinho de há pouco. — Não é que você canta mal, meu amor, a música que é muito difícil, entende? Por que não pratica mais amanhã antes de ir pra escola, hein? Agora já está tarde.

— É — Yejun concordou, e um sorriso insuportável surgiu nos cantos dos lábios. — Os vizinhos precisam dormir tranquilos, não traumatizados.

Taquei meu travesseiro nele, mas o chatinho desviou e tornou a rir.

— Como você é ridículo, nossa... Se não vai participar, pelo menos não atrapalha!

— E quem disse que não vou participar? Jungwon, Ni-ki e eu vamos fazer audição para a Branca de Neve, bobona.

Encarei-o de cima a baixo.

— Não me diga que será o príncipe.

— É claro que não. Apesar de combinar muito comigo, eu e os meninos decidimos que vamos ser três dos sete anões. Bem, Ni-ki não queria muito no começo porque ele é alto demais para o papel, mas Jungwon deu um jeito de convencer ele.

— Que bom que fez amigos, Jun — mamãe comentou com um sorriso no rosto, adocicando o ambiente azedo de intriga. — Fico feliz por você.

Yejun fingiu estar nem aí para aquele detalhe, mas eu sabia que por dentro se derretia feito sorvete embaixo do sol. Dava para notar de longe um brilho diferente nele — mesmo que comigo essa luz não durasse tanto quanto deveria, afinal se não discutirmos ao menos duas vezes por dia, o mundo acaba.

— É, os dois são até que legalzinhos, apesar de Jungwon ser uma versão masculina da senhora.

— Pelo menos alguém tem que ser responsável. — Ajeitei-me onde estava sentada, ponhando os braços atrás do corpo. — Jungwon é um garoto bom, o mantenha por perto.

— Ele mesmo dá um jeito de sempre ficar.

Apanhei de volta o papel com a letra da canção, cantando-a por dentro. De repente, a realidade bateu. Se cantar para minha família já foi um fiasco, imagine cantar na frente das professoras e alunos? Lamentável de verdade...

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora