28 - Eu ouvi falar de um amor que vem uma vez na vida

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jay

Sunoo e o pai passaram em frente minha casa um dia desses. Eu lavava o carro da mamãe com o senhor Moon para a darmos uma surpresa (não era seu aniversário nem nada, mas ela havia amanhecido meio mal e eu a aconselhei a voltar a dormir porque eu dava conta das coisas, e no final de tudo arrastei senhor Moon porque o homem tocou a campainha no exato momento) quando os avistei cruzar a esquina.

Eles acenaram ao passar por nós.

— Bom dia, treinador — eu disse. Tombei a cabeça para o lado e encarei seu filho com um sorriso. — Sunoo.

— Oi, Jay — respondeu ele, também sorrindo.

Senhor Kim mostrou-se admirado.

— Vocês...

— Estão de boa — senhor Moon respondeu por nós. — Jay me contou.

Mesmo? — Encarou-nos o treinador. Os olhos brilhavam como se presenciasse a paz mundial. Balançamos as cabeças para confirmar e ele ficou sem palavras. — Nossa. Isso é... é muito bom. Fico feliz. De verdade, crianças.

— A gente também — falamos juntos, e os adultos engajaram uma conversa que fez com que o carro da mamãe ficasse de lado por alguns minutos, mas logo tornamos a lavá-lo.

Um pouco depois, por volta das uma e tanto da tarde, mamãe levantou porque estava com fome e viu o carro limpinho pela janela. Ela olhou para mim e sorriu, sentando-se à mesa para tomar o café que ainda não havia tomado.

— Obrigada — silabou enquanto pegava a xícara. — Eu estava cansada demais pra lavar o carro, você sabe.

— Senhor Moon me ajudou. — O mérito não era apenas meu. — Ele veio aqui mais cedo e eu avisei que a senhora não tava muito bem. Ele desejou melhoras e trouxe pão fresquinho. Bom, agora não mais tão fresquinho assim porque já faz um tempo, mas tá muito bom ainda. Quer que eu pegue pra você?

Ela assentiu, e após isso tocou a testa com a mão esquerda e fechou os olhos.

— Pega meu remédio pra mim também, Jongie — mandou. — Minha cabeça melhorou, mas não o suficiente.

— É pra já.

Entreguei-lhe as duas coisas: o pão e o remédio. E peguei um copo de água também. Ela comeu um pouco e foi se deitar no sofá. Liguei a TV no volume baixo para não incomodá-la e me ajeitei do seu lado, deixando que ela deitasse a cabeça no meu colo e relaxasse.

— E como vai o namoro com a Yuri? — perguntou-me ela.

— Ah, vai bem. A gente se vê todo dia na escola e ainda somos vizinhos, o que é bem legal porque não sentimos tanta saudade um do outro.

— Que bom, meu amor. Eu fico feliz por vocês. Yuri é uma ótima garota.

Concordei.

Era realmente bom, mas vez ou outra aquilo me trazia preocupações. Eu gostava mesmo da Yuri e ela demonstrava ter a mesma intensidade, mas, se por, sei lá, acaso do destino, não rolasse mais aquela nossa coisa, como seria?

Estudávamos no mesmo colégio e morávamos ao lado um do outro. E se a gente terminasse? Eu a veria por todo o lado! Se saísse de casa, ela poderia estar ali no quintal, acompanhando o pai em qualquer que fosse a atividade. E tinha Yejun também. Ele era legal para caramba e eu gostava de tê-lo por perto. Mas se a gente, Yuri e eu, resolvesse terminar, ele continuaria sendo meu amigo?

Balancei a cabeça como se tal ação lançasse fora tudo que eu estava pensando. Que besteira. É como dizem: o pior inimigo do homem, depois de ele mesmo, é seu próprio pensamento.

Beijei a testa da mamãe e me concentrei no programa da TV.

★★★

— Peraí... Então você está me dizendo que leu aquela cartinha?

O lábio inferior que Yuri mordia transformou-se num sorriso confirmativo. E eu tremi enquanto todas aquelas palavras passavam pela minha mente até terminaram na seguinte parte: "Eu quero ser seu namorado. Me daria essa honra?"

Será que se eu saltar pela janela, vai doer muito?

— Jay, relaxa.

Estávamos deitados na cama dela (sem nem um tipo de malícia, vale ressaltar) dividindo um lado do fone de ouvido quando ela contou, enquanto ouvíamos "Dandelions", que havia lido a carta que botei em seu armário no colégio.

— A cartinha é uma graça, sério. É a primeira que recebo de alguém.

Eu fiquei surpreso. Uma garota tão incrível como ela tinha cara de receber uma carta por dia, não estou brincando.

— É sério? — quis confirmar.

Ela fez que sim com a cabeça, e tiramos os fones por um tempinho.

— Eu fui a última garota da minha classe a fazer a maioria das coisas — contou. — Tipo fazer amigos e até beijar. É que eu nunca fui muito de papo, sabe? Pelo menos naquela época. Só falava com os meninos na hora da educação física porque eu queria liderar o time e... acho que eles tinham medo de mim, sei lá. De qualquer forma, eu não gostava muito deles mesmo. Acho que só tinha duas amizades naquele lugar. E logo a gente se mudou também e... bem, eu gosto daqui. O pessoal é mais receptivo e a quadra é enorme. — Sorrimos juntos, e ela pegou a minha mão. — E aqui eu tenho você. Acho que isso basta.

Eu funguei como um bebê. Yuri me deixava vulnerável.

— Ai, Deus, não acredito que fiz você chorar! — Num misto de alegria e surpresa, ela me deu um abraço e eu tentei não chorar mais. — Jay...!

— Eunãotôchorando — falei rápido, a voz num fio. Ela rompeu o abraço e passou a me olhar nos olhos, mas desviei o olhar e limpei de mansinho o cantinho de onde as lágrimas saíam. — É que a janela do seu quarto tá aberta e tá ventando muito, aí meu olho começou a arder e...

Ela riu.

— Sabe que não precisa fingir quando está do meu lado, não sabe? — disse. — Chorar é normal. Eu faço isso toda semana. E acredite: meu irmão chora pra caramba também! Tipo ontem, quando eu o assustei quando ele saiu do banheiro.

A história me fez rir. E ainda ríamos quando Yejun entrou com tudo e nos assustou.

— Falando de mim, né? — disse ele, e Yuri fez uma careta que ele revidou. — Só vim avisar que a minha mãe...

Nossa mãe — Yuri o corrigiu antes que ele pudesse terminar.

— Tá, tanto faz. — Ele deu de ombros. — A nossa mãe mandou avisar que é pra vocês descerem pra gente jogar uno lá na sala. Ah, e ela quer saber se sua mãe tá melhor, Jay.

— Ela está sim — falei. — Depois que tomou mais um remédio e tirou outra soneca, ela acordou melhorzinha.

— E fala pra mamãe que já, já a gente desce — disse Yuri. — Eu e o Jay só vamos terminar de escutar uma música e logo encontramos vocês.

Só escutamos seus passos descendo as escadas na rapidez de sempre.

— Onde estávamos mesmo? — Referiu-se ela à canção.

— No coro, acho.

— É mesmo.

Então tirou a música do pause e escutamos quietinhos, com os dedos entrelaçados e os corações em sincronia.

"Porque eu estou em um campo de dentes-de-leão

Desejando a todos que você seja meu. "

Preparar, apontar... Já! -    JAY (ENHYPEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora