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Demorei uma semana para recomeçar a minha vida do zero. É difícil descrever todos os sentimentos que ainda estão dentro de mim, uma verdadeira confusão. Tem horas que eu somente quero chorar, outras eu quero gritar e no final tudo se resume comigo rindo e fingindo estar tudo bem.

Quando falei para minha família sobre o casamento que foi cancelado, escutei o enorme sermão que meu pai me deu por nunca ter ouvido ele. Mamãe por sua vez, apenas perguntou o que nós faríamos com relação ao apartamento que compramos e estávamos pagando.

Eu não quero ter vínculo ao meu ex e como a minha parte já foi paga, ele que se vire para pagar o restante. É um dinheiro perdido, mas tenho esperança que darei a volta por cima e terei o dobro futuramente. A burra foi eu que não escutei os meus pais quando disseram que ele tinha cara de quem não prestava, um lobo em pele de cordeiro.

Continuo a caminhar em direção ao meu trabalho, não presto atenção nas pessoas ao meu redor pois estou ocupada demais procurando alguma música melancólica em meu celular. Esbarro em alguém e logo peço desculpas, continuando o meu caminho.

Ao passar pela porta de entrada do enorme prédio, vejo que as portas do elevador já estão prestes a se fechar. Acelero meus passos pedindo para que segurem para mim e sou atendida, ao entrar, solto um suspiro e abro um sorriso.

Um rapaz de cabelo espetado e expressão séria me encarava com um enorme ponto de interrogação. Senti uma vergonha por ter feito isso, eu podia apenas ter andado como uma pessoa normal já que ele estava segurando a porta, mas não, eu corri como se tivesse em alguma competição.

— Obrigada... — Murmurei

— Disponha.

O primeiro a sair do elevador foi ele, olhei o andar e vi que era o segundo. Pelo que eu me lembre, tem apenas uma clínica veterinária para cachorros e gatos nesse andar, talvez ele estivesse indo buscar algum animal. Dei de ombro esperando chegar o meu andar.

O prédio que eu trabalho é comercial, cada andar tem uma ou mais lojas. O segundo andar é o único que possui uma única loja, pois o antigo proprietário do prédio amava animais e deixou reservado para que fosse construída uma clínica que cuidasse dos seus cachorros.

Ao entrar no escritório, vejo minha melhor amiga correndo em minha direção segurando algumas pastas, provavelmente as propostas dos sócios com relação as mudanças de algumas áreas. Trabalho como RH de uma empresa de seguros, nos últimos meses tivemos muitos prejuízos por conta das indenizações que vem chegando e bem... algumas áreas não estão conseguindo bater a meta.

Caminhamos até a nossa sala e ficamos frente a frente lendo cada parágrafo. Eu sentia o olhar da ruiva sobre mim, ela provavelmente estava preocupada quanto a minha saúde mental.

— Está tudo bem — Sussurrei mantendo o foco no pedaço de papel a minha frente.

— Você parece mais abatida do que antes.

— Estou me recuperando, não se preocupe.

Aiko assentiu prestando atenção no papel e debatendo comigo sobre as mudanças. Algumas sugestões nós acatamos, mas outras, precisavam ser retornadas por não fazerem sentido para nós.

Ficamos durante horas andando em círculo e pensando em contrapropostas e também nos gastos. No final de tudo, era nós duas quem iríamos ter que segurar a bomba. Os sócios queriam contratar mais pessoas para área financeira, mas acreditamos que os três que já trabalham são o suficiente, eles as vezes ficam de bobeira ou colocando atestado para faltar.

Quando nos levantamos para levarmos a pasta até a sala do presidente, a mesma me parou no caminho um pouco sem jeito.

— Queria saber se está afim de ir ao Karaoke hoje a noite.

— Não — Voltei a andar

— S/n, por favor, você precisa de divertir um pouquinho...

Paro no meio do caminho puxando todo o ar para os meus pulmões e concordando. Eu sei exatamente o que ela iria fazer se eu não concordasse e não é como se eu estivesse com paciência para seus dramas. Vejo Aiko abrir um enorme sorriso logo pulando em meus braços, não tinha o que fazer, a felicidade dela até que me contagia.

[...]

Ao chegarmos no local, a mesma entregou nossos nomes para a recepcionista e ela nos disse qual sala havíamos reservado. Aiko me informou ter chamado mais alguns amigos e eu revirei os olhos. Nunca fiz questão de conhecer o ciclo de amizade da minha melhor amiga, não por não querer ser amiga também, mas porque ela conhece quase toda a cidade de tão sociável que é.

Assim que a porta foi aberta, eu quis parar imediatamente e dar meia volta. O rapaz do elevador estava sentado ao lado de um garoto de fios rosados, ele parecia entretido no celular e assim que o seu amigo chamou pelo nome da minha amiga, os seus olhos vieram em minha direção.

— S/n, esses são os meus amigos Itadori Yuji, Nobara Kugisaki e Megumi Fushiguro.

— Prazer conhecer vocês... — Me curvei um pouco sem manter o contato com o moreno, sentia seu olhar queimar sobre mim.

— Vamos começar? — Aiko sorriu já puxando um microfone e Yuji acompanhou a mesma.

Me sentei em uma cadeira um pouco mais afastada, coloquei minhas coisas na mesa e me encolhi. Estava envergonhada demais e nem sei dizer o motivo. Minha melhor amiga cantava despreocupadamente e em alguns momentos apontava para mim que tentava disfarçar, Itadori por sua, estava errando a letra o tempo todo e rindo.

Nobara ofereceu alguns aperitivos, mas neguei educadamente. Quando acabou a música, fui puxada a força para cantar Rihanna com Aiko.

Ao passar do tempo eu fui me permitindo relaxar, mas sempre com os olhares de Megumi sobre mim e alguns sorrisinhos disfarçados. Me joguei na cadeira para relaxar e logo Nobara tomou a vez no Karaoke com Yuji, Fushiguro não iria cantar?

— Tem vergonha? — Ele me encarou seriamente enquanto guardava o celular no bolso. Em minha mente eu já estava me martirizando por ter puxado assunto com alguém que provavelmente não queria falar com uma estranha feito eu.

— Não gosto de cantar, sou todo travado e minha voz é horrível.

A voz dele não era horrível, para dizer a verdade, era rouca e até melodiosa. Dei um sorriso irônico negando com a cabeça.

— Estamos aqui para nos divertir e não para te criticar.

— Já falei isso com ele nas outras vezes — Aiko se meteu no assunto e eu pude ver o rapaz se encolher envergonhado.

— Melhor eu ficar no meu canto, me sinto confortável dessa forma.

Concordamos voltando nossa atenção para a dupla que estava em pé. Mesmo rindo de algumas piadas e a interação estar agradável, eu ainda conseguia sentir seu olhar intenso sobre mim. Como se tentasse desvendar algum mistério da minha vida.


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𝐂𝐚𝐧 𝐈 𝐁𝐞 𝐇𝐢𝐦 | 𝐌𝐄𝐆𝐔𝐌𝐈 𝐅𝐔𝐒𝐇𝐈𝐆𝐔𝐑𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora