21 - Mutação

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Nicholas estudara o relógio pela quarta vez durante um curto intervalo de tempo. Os agasalhos de frio não o ajudavam a aquecer como deveriam, então prosseguiu sentado na cadeira de espera no consultório do Dr. Trent. Passava-se das duas da tarde, seu estômago implorava por comida, mas algo na voz de Trent o fez perder o apetite. As pernas balançavam, as unhas encontravam-se todas roídas, o ar lhe faltava, as pontas dos dedos eram beliscadas. A ansiedade o abatia. Sentiu esses mesmos sintomas antes de procurar Trent em Cardiff, ele era um médico de renome com uma Clínica de sucesso, e prezava pelo bem-estar de seus clientes. Os desmaios, os apertos no peito, a falta constante de ar e as noites mal dormidas, tinham um nome: insuficiência cardiorrespiratória, ou seja, uma doença que poderia ou não lhe matar.

Nicholas sempre teve uma vida mais regrada, comia muitas coisas saudáveis, raramente consumia conversados, industrializados ou muito açúcar. Quando tivera o diagnóstico foi a coisa mais terrível que já lhe ocorreu, mas Trent disse que poderia ser hereditário, que alguém na família, ou um parente próximo, teve, mas ainda que buscasse as informações, todos os tios e familiares já falecidos morreram em decorrência natural de velhice. Então foi um susto. Fez as baterias de exame, coletou sangue, tirou ultrassonografia, ressonância magnética e esperou pelos resultados, estes demoraram a vir, e ainda que fosse tarde, o medo estampado continua a perseguir o pobre Nicholas.

— Sr. Ramsey? — a secretária de Trent o chamou. — Sua vez!

Ela lhe indicou a sala. Ele abriu a porta e viu o homem com uma expressão confusa, de terror, também estava acompanhado de alguns homens vestidos de pretos e maletas em mãos.

— Sente-se, Nicholas! — Trent indicou uma poltrona ao rapaz. — Que bom que veio.

Nicholas o olhou rapidamente antes de desviar o olhar para os dois homens.

— Fique calmo, estes são Kasper e Harlan, meus advogados.

— Pensei que fosse uma consulta particular, doutor.

Trent respirou fundo e assumiu uma postura mais formal.

— E é, na verdade — começou o homem. — Eu chamei os Drs. Harlan e Kasper para me auxiliar em como eu deveria comunicar os resultados de seu exame caso as coisas saíssem do controle. Mas eles já estão de saída, Nicholas.

Os dois ergueram-se de suas cadeiras e encaminharam-se para fora da sala. Nicholas suspirou fundo.

— Ansiedade!

— Oi?

— Os sintomas que sente, é ansiedade. Essa doença "invisível" ataca milhares de jovens, adolescentes, adultos e idosos em sua grande maioria — Trent ergueu-se. — Roer as unhas, balançar as pernas, a falta de ar, tudo isso é culpa da ansiedade. Ansiedade quando não tratada corretamente pode ocasionar outra doença: depressão. Nicholas, você nunca teve insuficiência cardio respiratória!

— O quê?

— Seus exames, os exames que entreguei a você em Gales, eles não eram seus.

— Como assim?

— Houve um erro e eu assumo as consequências, Nicholas. Você pode denunciar meu consultório no País de Gales, ou esse aqui, vai estar coberto de razão se fizer isso.

— Não estou entendendo, Dr. Trent.

— É muito simples, meu caro. O banco de dados entrou em pane dias depois, acabei me confundindo ao avaliar seu exame e o exame de Nicholas Madson. Eu cometi um erro médico, Nicholas. Os exames que fizemos atestaram meu erro, Nicholas Madson morreu há três semanas. Eu estou sendo processado pelo Conselho de Medicina de Cardiff, Nich.

No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora