04 - Um poema no Armário

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Às aulas terminaram por volta das 11:45 da manhã. Era uma aula complementar do professor Gregori que envolvia Economia Pessoal, um bom tema para ser tratado nas escolas, mas que, por incrível que pudesse parecer, apenas Bernard High School ofertava no momento. Nicholas passou a adorar a disciplina, achava até mais importante que a sobre Política e, próxima, razoavelmente, da Educação Sexual e Social. Diante disso, ele estava preparado para o almoço no Restaurante Escolar. Ainda era difícil ouvir seu nome sendo papo em todos os cantos do colégio, porém não havia saída e o único jeito de encarar a realidade era enfrentando ela e Nicholas fazia isso muito bem.

Ele ocupou uma mesa no centro do refeitório. Alí estava apenas Anne, sua colega de classe e com quem passou a conversar mais profundamente, pois ela o compreendia sem refutar.

— Sua cara está péssima, amigo? Tem dormido corretamente? Às oito horas necessárias? — Ela perguntou.

Nicholas mordeu a maçã e confirmou, após.

— São apenas os problemas acumulados, nada demais.

— Nada demais? — Ela protestou. — É a sua vida, querido.

Nicholas estava ciente dessa situação e estava convicto de que os últimos dias haviam sido um peso considerável. Diversos eventos transcorreram em um curto espaço de tempo, lidar com as consequências tornou-se desanimador, invadindo suas noites de sono e levando-o a ponderar sobre vários aspectos: os amigos em Cardiff prestes a se reunirem com ele; a astúcia e franqueza de Liam em relação aos sentimentos; as mentiras proferidas pelo pai, bem como as verdades mantidas em segredo por anos; sua mãe. Certamente, ele considerava como conseguiria encontrá-la em Nova Iorque, mas o orgulho e o ego predominavam. E, evidentemente, Austin. Desejava ardentemente que as palavras pronunciadas por aquele rapaz no quarto de Túlio fossem verídicas. Ansiava por uma pequena parcela de sua mente capaz de pensar sem receios. No entanto, o medo prevalecia. Era como uma sombra invasora, rastejando pelas paredes, ávida por consumir a perfeição e deixar um rastro de destruição. O medo era uma consequência, e Nicholas não possuía a força necessária para suportá-lo. Todas as suas energias estavam concentradas na vontade de submeter-se ao tratamento.

— Minha vida é uma zona, Anne! — confessou ele. — Permiti que pessoas insignificantes adentrassem nela sem calcular o estrago: meu pai, minha mãe, Liam, Austin e agora Erik. Este último me atormenta e aterroriza incessantemente. Tudo virou de cabeça para baixo.

Anne suspirou.

— Somente você pode mudar isso, meu amigo. Tente não permitir que muitas pessoas adentrem seu coração; não podemos prever a desordem que deixarão — Anne tocou as mãos de Nicholas delicadamente com as pontas dos dedos. — Você é forte, capaz de enfrentar os problemas, e estarei aqui caso precise.

Nicholas sorriu meigo. Anne era uma boa pessoa. Havia conversado pouco ultimamente com ela, mas isso não blindou o carinho que supria pela menina.

— Obrigado. — Nicholas pensou um pouco. — Eu já conheci sua casa, rapidamente, mas conheci. Quero que vá no meu aniversário.

Anne ergueu uma sobrancelha.

— Ah, eu posso fazer um esforço.

— Já é alguma coisa. Quero te apresentar uma pessoa neste dia...

—... Quem? — Ela perguntou, incessante.

Nicholas mordeu o lábio e franziu o cenho.

— O nome dele é Davide. Davide Calabria, o italiano mais formoso que você verá na vida — ela corou. — Tenho certeza que serão grandes amigos, ele é um fofo.

— Mais fofo que você?

— Impossível, querida. Impossível.

Ela riu.

No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora