22 - Enfim, Beatrice

2 0 0
                                    

A verdade tem um peso equivalente. Por dezoito anos, tanto Robert quanto Beatrice tiveram desavenças, isso antes da gravidez e no surto que resultou na separação, meses depois dela engravidar. Abrir uma porta que por tempos evitou de encarar, seria uma tortura.

Ele mantinha-se convicto de que estava fazendo o certo, então engoliu em seco antes de tocar a campainha. Sua mão travou no tempo, foi necessário Nicholas o ajudar, ainda que o receio e o medo predominasse seu íntimo. Mas agora não havia mais volta e que bom, ambos estavam dispostos a selar aquela sepultura anos aberta.

Não demorou para ouvir a maçaneta girando e um rapaz conhecido de Nicholas dar as caras. O coração disparou depressa. O sorriso de Damon Manson pôde ser visto, finalmente podia chamá-lo de irmão e abraçá-lo, foi o que fez, abruptamente, como nunca antes, depositando beijos e carícias no rosto e cabeça de Nicholas que permitiu-se chorar. Aquele era seu irmão, encontrou duas vezes na vida e vislumbrou as nuances, o medo, o desespero, e ele não quis saber de outra coisa que não fosse o colo de Damon e vice-versa.

Quando afastou-se de Nicholas, estava emocionado, os olhos marejados de lágrimas que brilhavam em harmonia.

— Bem-vindo, irmão.

Nicholas fechou os olhos ao ouvir aquilo, lágrimas voluntárias desceram sem parar e novamente foi surpreendido pelos braços enormes de Damon o circundando e, após, por sua mão segura na dele que o encaminhou para a sala.

— Entre por favor. Mãe? Maísa? Pai? — ele chamou eufórico.

Robert permaneceu de pé próximo a porta, analítico ao espaço.

— Como sabia que eu era seu irmão? — Nicholas perguntou.

— Desde o dia em que o vi, na festa do Túlio. Minha mãe falava de um tal Robert Ramsey e seu sobrenome, Harrisson, me era familiar. Mas quando Theo falou que era filho do Robert Ramsey, eu entrei em desespero, me perdoe.

— Então a Maísa...

— Ela é sua irmã gêmea.

No minuto seguinte, desesperada, Beatrice apareceu no pé da escada, seus olhos marejados pelo nervosismo, agora ainda mais chorosos. Petrificou como se estivesse olhando para os olhos da Medusa, um arrepio correu seus pêlos quando avistou aquele garoto. Os lumes como o seu, os tufos que remetiam a Robert mais jovem, a beleza, a pureza, então vieram os primeiros choros, os primeiros passos, o medo, o receio, a dúvida, tudo unido, uma fusão de acontecimentos derradeiros e duvidosos.

Ela aproximou-se de Nicholas com uma calma invejável, analisando o garoto, cada parte daquele corpo para ter certeza que Robert Ramsey não tinha voltado ao passado.

— Filho? — ela indagou. — Meu filho! Damon, é meu filho?

— Sim, mãe. É o Nicholas.

Ela o abraçou.

A reação de Nicholas veio em lágrimas, mares salgados, promessas de inverno que derretem no verão. Ele não foi forte como disse que seria, nem mesmo ousou a se afastar, suas mãos de braços salientes atracaram Beatrice Harrisson pela cintura e afogou seu rosto nos ombros dela, como sonhou por muitas noites. O delírio exuberante era sereno. O gelo derretido transformou-se em águas que foram engolidas pelas areias, entre choros e soluços, havia euforia e medo. Robert Ramsey tinha perdido a batalha e Scott Manson o encarou triunfante, pois na pior das hipóteses, derrubou um gigante.

Beatrice afastou-se dois palmos, as mãos seguras na face de Nicholas, beijos calorosos no rosto, gritos de felicidades que temeu ter deixado o prédio inteiro em alerta. Ali jazia uma mãe, uma mãe cujo objetivo era ter o filho nos braços, uma tarefa ardilosa e cruel, principalmente por seu maior oponente estar de pé e dentro de sua fortaleza.

No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora