No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDO

20 - Um alívio

Já passava do meio-dia quando Nicholas acordou e encontrou o lado da cama vazio. Sentiu-se como um pássaro sem as plumas, ou alguma espécie de peixe sem escamas. Ele havia ido sem despedir-se, era o que Nicholas pensou até ouvir a torneira do banheiro sendo ligada e, após, desligada. O barulho da água transmite uma serenidade profunda e a porta do quarto foi aberta revelando Austin ainda usando um de seus calções. Ficava perfeito nele, não mais que o sorriso que desenhou-se nos lábios quando viu o amado já acordado.

— Te acordei?

— Não.

— Ah, menos mal, eu ficaria constrangido.

Ele se aproximou da cama e deixou um selinho nos lábios de Nicholas, acariciou a pele do rosto dele com o polegar enquanto mantinha-se olhando para dentro daquelas safiras.

— Você é lindo, sabia?

Nich sorriu de canto, envergonhado. Agarrou a nuca de Austin e beijou na bochecha.

— Eu tive sorte, sabia? — Austin voltou a deitar ao lado dele. — Quando passou pelas portas da Bernard High School foi como se o Papai Noel tivesse ouvido minhas preces e me dado um presente que eu deveria reivindicar no tempo certo. No começo eu fiz da sua vida um pequeno inferno, mas idem, era porque eu sempre fui duro, nunca tinha ligado para sentimentos ou para as pessoas. Meu ego esteve acima de qualquer coisa. Você não, Nicholas Andrich era o oposto de Austin Moore; além de lindo e inteligente era compreensivo e eu ficava me perguntando: como vou fazer ele se apaixonar por mim?

Ele encarava o teto, mas Nicholas preferiu analisar o movimento que seus lábios faziam ao confessar. Estava fascinado, sem resposta, sem palavras, pela primeira vez preferiu admirar.

Austin continuou:

— Quando eu soube que você e o Liam estavam juntos, foi como se meu mundo de vidro houvesse quebrado — ele fez uma longa pausa. — Eu agradeci tanto quando ele foi embora, já que o único oponente a ser derrotado era o meu ego. Eu jamais acreditei na mudança, sempre estive cercado de pessoas que pensavam acima dos outros, tirando o Alec, é claro, ele... ele diferente de mim, creio que se ele não fosse hétero, você teria se apaixonado por ele, não pela beleza, porém pelo caráter.

Nicholas vislumbrou as primeiras lágrimas descerem dos olhos dele. Não moveu um músculo, prosseguiu recapitulando as nuances ainda olhando fixo para o teto.

— No dia que a Amber vazou aquela foto, o mundo de vidro que quebrou-se, me perfurou. Eu fui tomado pela raiva, eu te queria a força, estava decidido a tomar você — ele confessou. — Eu te perderia. Seria mil vezes pior do que levar um gol faltando quatro minutos para o fim da partida. Eu tinha medo. Medo de você me esquecer. Então meus dias dentro da Bernard foram dedicados a te perseguir. Hilário, nem ligava para mim. Idiota. Ah, como fui um babaca de tentar dar uma invertida em você.

Ele voltou para encarar Nicholas que estava em silêncio, o admirando.

— Na casa do Túlio eu precisava de carinho, eu precisava de coragem, então eu bebi. Fui atrás de você e aconteceu aquilo — ele fechou os olhos. Mordeu os lábios com força. — Eu te odiei. Não era um ódio do qual eu me orgulhava, não. Muito além, eu estava cego de amores, sabia que nunca ficaria com um cara como eu. Tinha pra mim que Nicholas Andrich, filho do ex-conde de Gales, precisava de alguém a altura. Esse medo corroeu.

Nicholas finalmente abriu a boca.

— O pior é que durante todo esse tempo eu já te amava.

— É?

— Uhum! Desde o primeiro momento, mas não investi por causa da Amber — ele atestou. — Eu realmente me fissurei fácil no Liam Clark, ele era o seu oposto no primeiro momento: gentil, carinhoso, mas ele não era você