18 - Uma visita

6 0 0
                                    

Tem coisas na vida que precisamos deixar no passado para caminharmos sem muito peso no futuro. Dezoito anos não eram dezoito dias, nem dezoito minutos ou dezoito horas, simplesmente quase duas décadas de existência e Nicholas Andrich estava disposto a ser outra pessoa. Não mudaria seu conceito, o caráter ou a forma humana de se portar, apenas precisa de paz e isso incluía, principalmente, se libertar do vetusto da solidão.

Após um banho renovador, ele voltou ao quarto onde apanhou um pequeno baú e saiu retirando os porta-retratos de Beatrice Harisson das estantes para dar um final àquele pesadelo sem fim. Quando retirou a última lembrança de sua mãe, lágrimas vieram ao seus olhos e escorreram com precisão pelas maçãs do rosto e perderam-se no tempo, algumas caíram no chão formando uma pequena poça, mas prometeu a si mesmo que seriam as últimas destinadas à mãe.

Ao que seguiu aquela cena, a porta foi aberta lentamente e uma cabeleira loira pôde ser vista. Era Eleanor, sua melhor amiga desde a infância. Ela usava um short-saia preto e um cropped da mesma cor. Os olhos azuis brilhavam intensamente e ela se agachou perto dele. Nicholas era como um irmão para Eleanor, ou seja, irmãos verdadeiros dividiam mais que amizade e momentos marcantes, compartilhavam carisma e as lágrimas.

— Colocando um ponto final na história? — ela perguntou.

Nicholas secou as lágrimas e sorriu nervoso.

— Acredito que essa história teve apenas um começo turbulento, sem meio ou final, Elle — ele afirmou. — Mas sim, aqui termina minha ligação com Beatrice Harrison. Acredito que será mais fácil daqui pra frente.

— Acredita ou quer acreditar?

— E faz alguma diferença? Minha mãe me largou, Elle. Ela não quis saber de mim e ponto.

Eleanor tocou-lhe o queixo e secou as lágrimas de Nicholas.

— Você é a pessoa mais humilde que eu conheço, Andrich, Tem carisma, amor, caráter, algo muito difícil de encontrar nos homens de hoje. Acima de tudo, é corajoso e não foge de uma batalha sem vencê-la — ele a olhou com ternura. — Você pode e deve trancar sua mãe dentro deste baú e pôr um fim nessa história toda, mas não creio que trancará seu coração para sempre.

Eleanor era brilhante nas palavras. Seu ponto de vista fazia sentido, mas Nicholas estava cego para isso.

— Meu coração tem problemas demais para se preocupar com uma mulher que abandonou seu papel de mãe — ele prosseguiu. — Posso não vencer a batalha, mas não vou recuar em momento algum. Eu irei aprisionar e sufocar Beatrice Harrison até não existir nada dela.

A loira suspirou fundo.

— Esse rancor todo pode mudar sua essência.

— Pra você é fácil falar, seus pais são maravilhosos e compreensivos — afirmou entre as lágrimas. — Eu vou sentir a ausência de vocês, não será nada equilibrado lutar essa guerra sem ter apoio dos meus amigos.

Eleanor o abraçou suavemente.

— Estaremos sempre mandando forças, mas com o passar dos dias, percebemos que nosso lugar não é aqui!

— Nem o meu. Eu fui trazido para cá pelo amor que eu tenho pelo meu pai, mas depois disso tudo, eu quero apenas que o tempo passe rápido para voltar a Cardiff.

— Vamos esperar por você lá, meu amigo. Além disso, iremos aproveitar cada segundo aqui. Então é bom parar de chorar, colocar um sorriso no rosto e ir à luta.

Nicholas voltou a sorrir.

— Obrigado, Elle, você não existe. Eu te amo.

— Te amo mais.

No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora