19 - A primeira vez

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O jantar ocorreu bem. Austin soube desviar com precisão das perguntas sufocantes vindas de Matteo, mas contentou-se em saber que muito em breve ele partiria. Já Robert, por outro lado, não aliviou muito o clima, sempre pressionava o rapaz contra uma parede de pregos em seus questionamentos, porém sobressaía com êxito e uma calma firme e protuberante. Foi assim durante mais de duas horas de conversa. O jantar foi perfeito no quesito comida, mas cruel nos assuntos, e ainda que Melinda se intromete-se na conversa com a finalidade de não torná-la fria, Matteo Savic sabia como adestrar leões. No fim, todos brindaram à saúde de Nicholas, às amizades e à família.

Passava-se da meia-noite, eram quase uma da manhã quando Austin estudou o relógio e tomou-lhe um susto.

— Eu preciso ir... é tarde.

— Imagina — Robert pulou na frente. — Durma aqui em casa; ao amanhecer você pode partir. As ruas são desertas e apesar de morarmos num local seguro, acho melhor não confrontar. Além do mais, uma tempestade se aproxima.

Robert tinha todos os argumentos perfeitos.

— Não quero abusar de sua hospitalidade, Sr. Ramsey.

— Você não abusa, querido. É amigo do Nicholas, creio que ele não se importará em dividir a cama, não é mesmo, filho?

Nicholas ruborizou.

— É.. eu... não me importo! — disse o loiro.

— Bom, se for assim, e já que insiste tanto, eu fico. Avisarei meus pais.

Robert sorriu e ergueu a taça.

Nicholas não sabia o que o pai planejava com toda aquela espontaneidade, mas não coube a ele questionar seus métodos.

— O jantar estava maravilhoso, tia Melinda, tio Robert, mas eu preciso ir descansar — disse Eleanor já limpando os lábios. — Até amanhã.

— Até querida! — disse Robert.

Eleanor retirou-se depressa, logo Davide e Matteo também ergueram-se de seus assentos ao mesmo instante e agradeceram pelo jantar, retirando da sala-de-estar depois.

Melinda estava exausta, havia preparado o jantar com delicadeza e não havia sido prático encontrar todos os ingredientes de Gales em Nova Iorque, o cansaço era visível em seus traços. Ela levantou-se também.

— Irei descansar. Tenham uma boa noite.

Robert arqueou uma sobrancelha. Quando o silêncio reinou e já haviam apenas os três ao redor da mesa, um sorriso desenhou-se nos lábios do quarentão.

— Eu agradeço por ter vindo, Austin.

— Ah, que isso, Sr. Ramsey. Eu e Nicholas somos muito próximos — o loiro afirmou. — E também, queria conhecer melhor sua casa, e o senhor também, é claro.

— Gentileza de sua parte, meu caro. Fico contente que o Nicholas fez amigos rápidos, principalmente quando esses amigos são filhos de meus sócios — Robert ergueu-se da cadeira. — Tenham uma boa noite. Te amo, filho.

Nicholas sentiu a garganta secar. Pronunciar tais palavras depois de conhecer um lado da verdade era duro, mas não odiava Robert, longe dele fazer isso, porém sentia-se envolto em uma tempestade desesperada e apesar de amar muito pai, ele gostaria de processar o equívoco.

— Boa noite, pai.

O "Eu te amo também", não veio. O rosto de Robert murchou como uma rosa posta no Saara durante o dia, mas balançou a cabeça e entendia as razões do filho. Ele caminhou para fora da sala-de-estar, a face abatida, os passos calmos, analíticos, uma sensação de vazio depois de muitos anos.

No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora