O jantar ocorreu bem. Austin soube desviar com precisão das perguntas sufocantes vindas de Matteo, mas contentou-se em saber que muito em breve ele partiria. Já Robert, por outro lado, não aliviou muito o clima, sempre pressionava o rapaz contra uma parede de pregos em seus questionamentos, porém sobressaía com êxito e uma calma firme e protuberante. Foi assim durante mais de duas horas de conversa. O jantar foi perfeito no quesito comida, mas cruel nos assuntos, e ainda que Melinda se intromete-se na conversa com a finalidade de não torná-la fria, Matteo Savic sabia como adestrar leões. No fim, todos brindaram à saúde de Nicholas, às amizades e à família.
Passava-se da meia-noite, eram quase uma da manhã quando Austin estudou o relógio e tomou-lhe um susto.
— Eu preciso ir... é tarde.
— Imagina — Robert pulou na frente. — Durma aqui em casa; ao amanhecer você pode partir. As ruas são desertas e apesar de morarmos num local seguro, acho melhor não confrontar. Além do mais, uma tempestade se aproxima.
Robert tinha todos os argumentos perfeitos.
— Não quero abusar de sua hospitalidade, Sr. Ramsey.
— Você não abusa, querido. É amigo do Nicholas, creio que ele não se importará em dividir a cama, não é mesmo, filho?
Nicholas ruborizou.
— É.. eu... não me importo! — disse o loiro.
— Bom, se for assim, e já que insiste tanto, eu fico. Avisarei meus pais.
Robert sorriu e ergueu a taça.
Nicholas não sabia o que o pai planejava com toda aquela espontaneidade, mas não coube a ele questionar seus métodos.
— O jantar estava maravilhoso, tia Melinda, tio Robert, mas eu preciso ir descansar — disse Eleanor já limpando os lábios. — Até amanhã.
— Até querida! — disse Robert.
Eleanor retirou-se depressa, logo Davide e Matteo também ergueram-se de seus assentos ao mesmo instante e agradeceram pelo jantar, retirando da sala-de-estar depois.
Melinda estava exausta, havia preparado o jantar com delicadeza e não havia sido prático encontrar todos os ingredientes de Gales em Nova Iorque, o cansaço era visível em seus traços. Ela levantou-se também.
— Irei descansar. Tenham uma boa noite.
Robert arqueou uma sobrancelha. Quando o silêncio reinou e já haviam apenas os três ao redor da mesa, um sorriso desenhou-se nos lábios do quarentão.
— Eu agradeço por ter vindo, Austin.
— Ah, que isso, Sr. Ramsey. Eu e Nicholas somos muito próximos — o loiro afirmou. — E também, queria conhecer melhor sua casa, e o senhor também, é claro.
— Gentileza de sua parte, meu caro. Fico contente que o Nicholas fez amigos rápidos, principalmente quando esses amigos são filhos de meus sócios — Robert ergueu-se da cadeira. — Tenham uma boa noite. Te amo, filho.
Nicholas sentiu a garganta secar. Pronunciar tais palavras depois de conhecer um lado da verdade era duro, mas não odiava Robert, longe dele fazer isso, porém sentia-se envolto em uma tempestade desesperada e apesar de amar muito pai, ele gostaria de processar o equívoco.
— Boa noite, pai.
O "Eu te amo também", não veio. O rosto de Robert murchou como uma rosa posta no Saara durante o dia, mas balançou a cabeça e entendia as razões do filho. Ele caminhou para fora da sala-de-estar, a face abatida, os passos calmos, analíticos, uma sensação de vazio depois de muitos anos.
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No Limite de Dois Corações - Livro 2 da trilogia Escolhas - Parte 2 - CONCLUÍDO
Ficção AdolescenteNo Limite de Dois Corações é a segunda parte de Na Intensidade do Coração e segue a vida conturbada do quase adulto Nicholas Ramsey que lida com a sexualidade e a paixão platônica por Austin Moore. Neste segundo capítulo, Nicholas tenta se aproximar...