No outro dia, a reunião com as modelos se iniciava e Tijana e Vargas apresentava a proposta aos investidores e as quatro modelos contratadas.
Antes de irem para a empresa, Hande e Zehra passaram em sua agência e foram avisadas que teriam exclusividade de um ano apenas com aquela empresa. Zehra havia adorado, o fato de não viajar o mundo a todo momento. Já Hande sabia porquê aquilo tinha sido feito, já que apenas ela e a amiga haviam sido contratadas.
Depois que tudo foi esclarecido, os investidores e as modelos saíram da sala, e Tijana se apressou em alcançar a turca.
- Hande, eu preciso de um minuto com você. – chamou a atenção dela.
- Zehra, pode me esperar? – indagou para a amiga.
- Senhorita Günes, pode ir com a Vargas. – pediu simpática.
Hande a encarou, arqueando a sobrancelha.
- Tudo bem, senhora. – concordou Zehra.
Hande acompanhou a morena até a sua sala, em completo silêncio. E se sentou na cadeira de frente para a dela.
Tijana estranhou o comportamento da garota desde o momento em que ela pisara em sua empresa. Ela mal fazia contato visual com ela e sua parceira de negócios, muito menos com os investidores.
A morena se serviu de uma dose de whisky e a bebeu de uma vez, assim como as três doses seguidas.
- A senhora vai dizer o que quer comigo, ou eu terei que esperar que finalize a sua garrafa inteira? – perguntou Hande, friamente.
Tijana a encarou, levantando a sobrancelha.
- Por que está chateada? – indagou e sentou de frente para ela, em sua majestosa cadeira.
- Estou aqui para cumprir as suas ordens, senhora Boskovic. E não para responder perguntas pessoais. – a cortou.
- Então eu ordeno que me responda porquê está chateada! – foi mais firme.
- Se a senhora insiste. – desdenhou. – Por que exigiu um contrato de exclusividade de um ano, para a minha agência?
- Eu geralmente gosto de coisas exclusivas. – explicou.
- São seis modelos e apenas Zehra e eu temos contratos estendidos. – a lembrou. – Por quê?
- Eu já disse o porquê. – deu de ombros. – Gosto de coisas exclusivas.
Hande a fuzilou com o olhar.
- Deve ser muito fácil para você! – esbravejou. – Dobrou todas as propostas dos meus trabalhos.
- Você fará trabalhos apenas para o grupo TBMV. – a explicou.
- O que acha que eu sou? Um animal que você compra no mercado? – se levantou da cadeira. – É assim que você pensa?
- Hande...
- Ou que eu sou uma puta, que você vai ter na hora que quiser a seu bel prazer? – insistiu. – É assim que você faz com todas as modelos, não é?
Boskovic a encarou boquiaberta, sem saber o que responder momentaneamente. Que mudança de humor era aquela e por que diabos parecia que a garota lhe mataria a qualquer momento?
- Hande, eu jamais pensaria isso de você...
- É assim que eu estou me sentindo! – a cortou. – Como uma puta barata, escolhida em um site vagabundo apenas para satisfazer você e tenho a impressão que você faz isso sempre.
- Está me ofendendo! – a alertou.
- O quê? Vai me dizer que não transa com todas as mulheres dessa empresa? – debochou. – As modelos devem ser um prato cheio para você!
- Eu nunca transei com ninguém daqui e de nenhuma das minhas filiais! – rebateu. – E eu não sabia que você era modelo, no dia que nos conhecemos!
- Não estou convencida! – ralhou com ela.
- Acredite no que quiser! – esbravejou, ficando em pé e apoiando as duas mãos sobre sua mesa. – Saia daqui!
Hande a encarou, um pouco assustada e Tijana quase se arrependeu por ter gritado com ela, mas não iria tolerar que aquela mulher fizesse suposições sobre ela.
- Sim, senhora. – a obedeceu, saindo dali o mais rápido possível.
- Senhorita Baladin? – a secretária da morena chamou a sua atenção, assim que ela saiu da sala.
- Sim?
- Você precisa ir até o estúdio. – a lembrou. – Temos uma sessão de fotos hoje.
- Droga, eu havia me esquecido! – reclamou. – Estou tão esquecida ultimamente...
- Posso te lembrar, sempre que eu puder. – sorriu simpática. – E quando não estiver ocupada com a senhora Boskovic.
- Obrigada, você é um amor. – sorriu. – Não sei o seu nome...
- Simge. – sorriu de volta.
- Obrigada, Simge. Vou seguir para lá. – agradeceu e foi para o elevador.
Assim que chegou na sala, foi surpreendida por mais modelos e duas modelos mirins.
- Olá, senhorita Baladin. – o fotógrafo a cumprimentou. – Faremos uma campanha esportiva hoje, ok? Peço que vá até o vestiário se trocar e volte o mais rápido possível.
Ela bufou e seguiu para o vestiário e viu que a roupa que usaria estava separada e com uma etiqueta. Então ela começou a se vestir e encarou uma garotinha, que tentava colocar a sua roupinha sozinha.
- Oi...- sussurrou, se aproximando dela.
- Oi. – a encarou pela primeira vez. – Você é muito bonita.
Hande sorriu para ela.
- Obrigada. – agradeceu. – Você é possivelmente a criança mais linda que eu já vi.
- Obrigada também. – sorriu de volta, mostrando os dois dentinhos da frente separados. – O meu nome é Rose e eu tenho seis anos.
- Lindo nome. – disse, vestindo a calça e tirando a parte de cima da blusa. – O meu é Hande.
- Que nome diferente. – refletiu a encarando.
- É bem comum no meu país. – explicou.
- Você não é americana? – perguntou abismada. – O seu inglês é perfeito!
- Eu sou turca. – respondeu sorrindo. – Obrigada, o seu também é.
- Também não sou americana. – pontuou. - Sou sérvia.
Hande a olhou surpresa.
- Somos europeias! – exclamou animada. – Eu vou tirar o meu sutiã para colocar o top, tudo bem por você?
- Você vai ficar pelada?
- Da cintura pra cima. – explicou. – Pode ser?
- Sim. – deu de ombros, ainda tentando colocar a calça.
Hande rapidamente trocou de roupa e observou a menina tentar colocar a sua.
- Eu posso te ajudar? – indagou Hande.
- Mamãe não permite que me toquem. – respondeu.
- E por que não tem alguém que ela confie para te ajudar?
- Não sei. – respondeu inocentemente. – Mamãe é muito ocupada.
“E deixa você sozinha, sem saber o que fazer”, pensou, revoltada.
- Rose...- chamou a atenção dela, ficando de frente pra ela.
- Oi, meninas...- sussurrou, olhando para a barriga de Hande.
- O quê? – perguntou perdida.
- Você pode me ajudar? – indagou Rose. – Acho que confio em você.
A turca arqueou a sobrancelha e se abaixou para vestir a roupa da garotinha.
- Esse sua roupa é muito apertada. – constatou.
- As vezes, eles me dão essas roupas estranhas. – pontuou.
- E você gosta? – indagou preocupada.
- Nem sempre. – respondeu. – Mas nunca falo com a mamãe, senão ela não deixa que eu seja modelo.
- Não? – perguntou em dúvida.
- Não. – respondeu convicta. – Todo o dinheiro das minhas campanhas são doados para instituições de caridade.
- São? – perguntou, depois que a garotinha já estava pronta.
- Mamãe disse que essa seria a única condição para que eu fosse modelo. – respondeu.
- Ela não tem nenhum lucro com isso? – quis saber Hande, já que já tinha trabalhado com algumas modelos mirins.
- Não. Mamãe tem dinheiro o suficiente, segundo ela. – deu de ombros. – Já estamos prontas!
- Estamos sim. – confirmou Baladin. – Precisamos ir, antes que alguém venha nos chamar.
Foi só a modelo mais velha terminar de falar, que o fotógrafo as chamou.
- Bem, será uma campanha de dia das mães. – explicou. – Queremos que vocês duas apresentem o máximo de intimidade na frente das câmeras.
- Mas nós acabamos de nos conhecer. – rebateu Baladin, encarando Rose.
- Então nós podemos fingir. – a garotinha sugeriu e Hande sorriu.
- Tem razão, Rose. – concordou. – Que tal nós duas conversarmos enquanto eles fazem as fotos?
- Eu acho uma ótima idéia. – pontuou o fotógrafo. – Fiquem no centro do cenário principal e mantenham o diálogo.
- Tudo bem para você? – indagou Hande.
- Sim. – a garotinha concordou.
As câmeras foram provisionadas e a turca sorriu para ela.
- Você tem lindos olhos. – a elogiou, a pegando no colo.
Rose a encarou sorrindo e Hande não pôde deixar de fazer o mesmo.
- Eu gosto da cor dos seus. – a garota a elogiou, segurando os cabelos da turca entre os dedinhos e os levando até o nariz. – Os seus cabelos são tão cheirosos.
A turca beijou a testa da menina e em seguida cheirou os cabelos dela.
- Os seus tem cheiro de morango...- o cheirou novamente.
- Eu gosto de morangos. – respondeu. – É a minha fruta favorita. Qual é a sua?
- Cereja. – disse Hande, a colocando no chão e sentando de frente pra ela. – E a sua comida favorita?
- Eu gosto de sopa. – sorriu. – O que você gosta de comer?
- A minha comida favorita é a japonesa. – explicou e viu a garotinha sentar de frente para si.
- Eu não posso comer frutos do mar. – lamentou Rose. – Eu sou alérgica e a mamãe também é.
- Sério?
- Sim, eu começo a vomitar sem parar e a minha pele fica coçando. – explicou.
- Meninas, agora todas as fotos serão feitas com vocês olhando para a câmera. – o fotógrafo pediu e as duas obedeceram. – Hande, se você puder segura-la no colo alguns vezes...
- Mas não muitas vezes. – Rose a interrompeu. – Ela não pode fazer muito esforço.
Hande a encarou, sem entender mais uma vez.
- Serão apenas algumas vezes, Rose. – o fotógrafo a instigou. – Vamos lá, Hande?
- Vem cá, anjinho loiro...- a puxou para o colo. – Olhe para a câmera agora, sim?
- Sim. – respondeu a olhando.
- Fiquem sérias e continuem olhando para mim. – ele pediu. – Agora sorriam!
A turca aproveitou para sentir o cheirinho doce da criança, e ela acabou gargalhando com as cócegas no pescoço.
- Eu preciso ir para o chão agora. – disse Rose.
- Tudo bem, meninas. Estão liberadas deste estúdio hoje. – disse o fotógrafo. – Até mais!
- Adeus! – disse Rose.
- Rose? – Hande chamou a atenção dela. – Por que você...
A porta de repente foi aberta e a morena imponente passou por ela, perdendo toda a postura quando viu a loirinha.
- Mamãe! – exclamou Rose, correndo para os braços da mãe.
- Oi, meu amor! – se abaixou para pegá-la no colo. – Como você está?
- Faminta!
- Já está na hora do seu almoço. – constatou olhando para o relógio.
Hande permanecia estática o tempo todo, vendo a interação das duas. Então ela tinha uma filha? Será que já fora casada algum dia?
Tijana pareceu notar a presença da modelo naquele instante.
- Olá, senhorita Baladin. – a cumprimentou. – Vocês fizeram um ensaio juntas?
- Sim, mamãe. – Rose respondeu por ela. – Estamos fazendo uma campanha de dia das mães.
- Dia das mães, por que eu não fui chamada? – indagou, fazendo cócegas na barriga da filha.
- Você não é modelo, dãn! – respondeu o óbvio. – A Hande foi a minha mãe fictícia hoje.
- Foi? – quis saber. – Você conheceu a minha filha hoje e já quer roubá-la, senhorita Baladin?
Hande pareceu sair do transe e encarou as duas.
- Ela é linda. – a elogiou.
- Obrigada. – as duas responderam juntas.
- Mamãe, nós podemos ir? – Rose a apressou. – Ainda vamos ter algumas fotos...
- Podemos sim, princesa. – a colocou no chão.
- Você não vai almoçar, Hande? Precisa se alimentar direitinho...- Rose a alertou. – Como quer que elas sejam fortes? – perguntou, pulando do colo da mãe e correndo para fora da sala.
A turca encarou a menininha sair correndo e não soube o que falar quando elas ficaram sozinhas.
- Eu preciso ir...- resmungou Tijana, sem jeito.
Hande suspirou fundo, vendo a morena passar pela mesma porta que a filha passou.
O que diabos tinha acontecido? se questionou.
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The loneliest
Fanfiction[FINALIZADA] Que foi real em nós? Que houve em nós de sonho? De que Nós fomos de que voz O duplo eco risonho Que unidade tivemos? O que foi que perdemos?