Capítulo 6

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Assim que finalizou o expediente, Boskovic suspirou cansada, se jogando no sofá da sala.

- O que está fazendo? – perguntou Simge, ao observar a chefe.

- Estou tentando dormir por cinco minutos, antes de ir pra casa.

- Boskovic, a Rose está esperando por você. – disse, aproveitando o grau de intimidade que as duas tinham, já que se conheciam há anos.

- O quê? – levantou rapidamente. – Por que ela ainda está aqui?

– A babá teve um probleminha e não conseguimos falar com a sua mãe. – explicou.

- Simge, são nove horas da noite! – ralhou, se dirigindo até a porta. – Por que ninguém me avisou?

- Não seja dramática! – Simge ralhou de volta. – Ela não ficou sozinha durante esse tempo.

- Não?

- Claro que não! – a mais baixa resmungou. – Aonde você vai?

- Vou procurar a minha filha? – devolveu a pergunta, como se fosse óbvio.

- Boskovic...- chamou a atenção da amiga. – Ela não está mais no estúdio.

- E onde raios ela está? – perguntou preocupada.

- Talvez ela tenha feito uma nova amiga. – pontuou.

- Eu não estou com tempo pra charadas, Simge. – rebateu.

Simge revirou os olhos.

- Na verdade, ela está com a Hande. – devolveu e a morena arregalou os olhos.

- A Hande não já devia ter ido embora? – pontuou, preocupada.

- Ela precisou ficar até mais tarde.  – a assegurou. – Exigência do fotógrafo.

- De novo!? – indagou. – Precisamos rever esse fluxo de trabalho.

- Você é quem manda. – rebateu Simge.

- Eu preciso ir. – abriu a porta para sair.

- Tijana, você nem ao menos sabe onde elas estão. – pontuou.

Boskovic avaliou a situação. Só haveria um lugar em que Hande estivesse.

- Pode deixar comigo. – disse, saindo em seguida.

Todos aqueles dias, a morena observava o que a modelo fazia e, sempre após o almoço, ela dormia na pequena sala dedicada ao descanso das modelos. Como não era distante de sua sala, Tijana logo chegou, abriu a porta devagar e deu de cara com as duas sentadas no chão, com Rose de pijamas e cabelos penteados e Hande também, vestindo o seu pijama.

- Mamãe! – a loirinha correu para os braços da mãe, assim que a viu parada na porta. – Você demorou!

- Eu acabei de sair da minha sala, meu amor. – a beijou e sentiu o cheirinho doce que ela tinha. – Olá, Hande. – a cumprimentou, tentando desviar os olhos do corpo coberto com pouca roupa.

- Como assim “Olá”?– sorriu para ela, parecendo ter esquecido da desavença entre as duas. – Você me deve pelos meus honorários de babá!

- Não deve, não. – interviu Rose. – Ela estava fugindo do fotógrafo, mamãe. Então dá pra descontar a dívida. 

- Rose! Sua fofoqueira...- ralhou com a garotinha que apenas deu de ombros.

Boskovic estreitou os olhos.

- Eu não fugi, tá legal? – se defendeu. – Eu só não queria que precisassem de mim.

- Isso ainda parece “fugir” pra mim. – debochou Rose. – Mas pelo menos serviu para algo, não é mesmo?

- Serviu pra eu te aturar! – revirou os olhos.

A morena suspirou cansada.

- Ela deu muito trabalho? – indagou, sentando no cama de solteirão.

A garotinha a encarou em expectativa.

- Ela foi bondosa e obediente. – a explicou. – Tomou banho sozinha e comeu tudo.

- Você fez tudo isso por ela? – perguntou surpresa. – Eu não sabia que você sabia cuidar de crianças.

- Falando assim, até parece que eu sou uma inválida. – fez drama e a morena não percebeu.

- Nossa, me desculpa! – pontuou. – Estou tão cansada...

- Eu sei. – afirmou Hande. – Você consegue tomar banho sozinha ou precisa de ajuda?

- Eu não tenho roupas aqui. – lamentou.

- Tem um pijama meu dentro do armário. – indicou.

- Eu não vou vestir essa coisa minúscula que você chama de pijama, Handr. – rebateu a olhando.

Rose assistia a cena com atenção. 

- Me desculpe por usar algo confortável. – revirou os olhos.

- A mamãe gosta de peitos...- a menina pareceu se lembrar.

- Rose! – Tijana a repreendeu, não sabendo aonde enfiava a cabeça. 

- O quê? Você gosta mesmo. – deu de ombros. – E os da Hande são lindos, mamãe. Eu já vi!

A modelo gargalhou quando a empresária escondeu o rosto entre as mãos.

- Obrigada, terrorzinho. – agradeceu. – E você pode pegar o meu pijama, Tijana. É bem composto.

- Eu tenho quase certeza que você fez de propósito de novo, Hande...– resmungou, se levantando. – Eu vou até o banheiro.

- Precisa de ajuda pra tomar banho?

- Não! – retrucou.

- Caso precise, grite! – pediu Hande, assistindo a morena desaparecer, porta a dentro.

- Eu estou com sono. – disse Rose, subindo em cima da cama e se deitando.

- Você não pode dormir ainda, coisinha. – a lembrou.

- Só por cinco segundos...- sussurrou, puxando o lençol para se cobrir.

Hande resolveu não intervir, uma vez que não custaria nada deixar que a menina dormisse um pouco, antes de a mãe sair do banho.

Mas, o que seriam cinco minutos, se tornaram dez e depois quinze. Estranhando a demora, a turca resolveu passar os seus cremes pelo corpo, como de costume, já que ela não conseguia dormir se não estivesse cheirosa.

Passado mais alguns minutos, Tijana abriu a porta devagar e foi surpreendida pela imagem de Hande, com a maldita camisola de renda minúscula e transparente, se encarando no espelho.

- Ér... – tentou dizer.

- Tijana? – a modelo virou-se frente para outra mulher. – Que demora foi essa? Eu pensei que você tinha morrido lá dentro!

- Eu...- tentou responder novamente, sem desviar os olhos do corpo da garota. – Eu...- dessa vez ela deu as costas para a outra mulher, se culpando por ter olhado para o corpo dela. – Me desculpe.

- Pelo quê exatamente? – questionou Hande.

- Eu olhei para você, sem o seu consentimento. – justificou.

- Na verdade, sou eu quem te deve desculpas. – pontuou envergonhada. – Eu estava estressada e acabei descontando em você hoje de manhã.

- Hande...- tentou falar.

- Me desculpa por ter te ofendido. – tornou a dizer. – Eu devia ter pedido antes, mas não tivemos a oportunidade de conversar.

- Está desculpada. – falou sem jeito. – Me desculpe por agora...

- Tudo bem, Tijana. – a tranquilizou. – Não é como se você nunca tivesse visto nada...

- Mesmo assim! – exclamou, ainda de costas. – Bem, respondendo a sua pergunta, eu acabei dormindo sentada no vaso.

- Você dormiu? – perguntou, incrédula. – Há quanto tempo você não dorme?

- Acho que faz tanto tempo quanto você. 

- Tijana, você pode se virar pra mim? – pediu. – Você vai ter que dormir aqui. – indicou Rose adormecida na cama.

- Eu posso carregá-la até o carro. – se virou para a modelo.

- E pretende dirigir assim? – perguntou preocupada. 

- Bom, eu não moro muito longe...

- Não importa. – Hande a interrompeu. – Você vai dormir aqui.

- Eu não posso dormir aqui, Hande. Preciso terminar de rever alguns relatórios. – justificou Boskovic.

- E vai dirigir caindo de sono? – a provocou.

- Hande...

- Você precisa dormir...- tentou argumentar.

- E daí? – rebateu. – Você também precisa!

Hande deu de ombros.

- Eu não tenho uma criança para levar pra casa! – se defendeu.

Tijana ponderou, percebendo o quanto Hande tinha razão. 

- Seja honesta, há quanto tempo você não dorme? – perguntou Hande, com os olhos semicerrados.

Boskovic hesitou.

- Tenho dormido três horas por noite.  – a respondeu.

- Por quanto tempo?

- Uma semana...- respondeu envergonhada. – Mas essa conversa não é sobre mim.

- Não? – a mais nova perguntou, incrédula.

- Eu preciso dar conta da empresa e da Rose! – Tijana justificou.

- Você precisa dormir, Boskovic. – dessa vez, a modelo falou com paciência.

- Você é quem precisa! – rebateu a morena.

Hande olhou a situação e refletiu por alguns segundos.

- De todas as discussões que eu já tive com alguém, essa foi a mais ridícula, sem dúvidas. – disse.

- Não estamos discutindo. – retrucou Tijana

- Tijana...

- Tudo bem, estamos! – ela deu o braço a torcer. – O que sugere que façamos?

- Eu sugiro que a gente durma. – pontuou Hande.

- Ok. Então eu vou para casa. – disse a morena.

- Não. Você vai virar a noite lendo. – argumentou.

- É claro que eu vou! – respondeu, sem vergonha alguma.

- Isso. Por tanto, você dorme aqui. – disse Hande.

- Ok. Eu vou pro sofá...

Encarou o sofá de canto que havia ali, que mal caberia as sua pernas.

- Não. – a outra mulher lhe cortou. – Você pode dormir na cama, que é pra eu ter certeza de que você não escapou.

- Baladin, eu estou tão cansada, que uma tartaruga venceria de mim, numa corrida. – Tijana justificou. – Mas, já que você insiste.

A morena deixou seus pertences na mesa de canto e começou a se despir.

- O que você está fazendo? – a modelo perguntou, nervosa.

- Você não espera que eu durma de calça e camiseta de manga longa, espera? – perguntou, passando a primeira peça pelas pernas, ficando apenas de boxer e logo puxando a parte de cima, liberando os seios da camiseta.

- Tijana...- Hande sussurrou, assistindo a mulher tirar toda a roupa.

- Como você mesmo disse, - começou a dizer, alcançando o feixe do sutiã, o retirando completamente assim que conseguiu achá-lo. – Não há nada aqui que você não tenha visto.

A mais nova ficou parada, estática com a reação da empresária.
Tijana foi até a cama e se enfiou embaixo das cobertas, beijando os cabelos da filha

- Você não vem? – perguntou, em falsa inocência. – Acho que cabe você.

- Se não fosse pela Rose... – bufou frustrada, seguindo para o sofá. – Sinceramente, eu acho isso uma sacanagem...

A morena sorriu e resolveu provocar novamente. 

- Você vai acabar com uma dor nas costas terrível.

- É melhor do que morrer de tesão. – resmungou.

- Eu não entendi o que você disse. – rebateu.

- Boa noite, Boskovic. – desejou, de frente para o encosto do sofá. Ela não precisaria de cobertor, não com o calor que ela estava sentindo. “Estou pagando todos os meus pecados”, pensou e pediu aos céus com todas as forças possíveis para fazer com que ela adormecesse feito uma pedra.






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