CAPÍTULO 2

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Ariane

"Bom dia, posso ajudar?" Um porteiro do condomínio me aborda assim que coloco os pés na pequena guarita da entrada.
"Bom dia!" Pego minha identidade e o envelope que recebi da gravadora dizendo que sou funcionária deles e entrego ao porteiro, "Eu trabalho com os homens que moram nesse endereço. Hoje é meu primeiro dia", sorrio.
"Vou fazer seu cadastro e eles têm uma identificação para te entregar e você entrar direto, certo, mocinha?" Ele confere a identidade olhando para mim e confere o conteúdo do envelope, "aqui diz que você será moradora no condomínio também. Trouxe mudança ou alguma bagagem?"
"Na verdade, eu vou recusar a moradia, a casa dos meus pais é aqui perto e eu moro com eles, pode ignorar essa parte." Eu aviso.
Nem morta eu vou morar na mesma casa que o Gabriel.
Logo depois, o porteiro libera minha entrada e envio mensagem para os meninos avisando que cheguei e estou a caminho com uma sacola de marmitas da mamãe.
Depois de uma pequena caminhada dentro do condomínio, chego a casa deles.
É simplesmente enorme, tem três andares! Fora o térreo! Toco a campainha ao lado de uma porta de alumínio e logo sou recebida por Guilherme, que tira a sacola de marmitas das minhas mãos e me diz para subir.
Olho em volta antes de ir para as escadas, o espaço é uma garagem que contém sete carros estacionados e que poderia facilmente comportar dez carros ou mais.
"Acho que todos estão em casa, certo?" Pergunto.
"Sim, todos nós estávamos te esperando." Ele parece preocupado, "Tudo bem, Ari?”
"Sim, só não contava em esbarrar com o Gabriel no primeiro dia…" balanço meus ombros e subo na frente de Guilherme.
As escadas dão em um hall de entrada com tapete e a porta que imagino ser a de entrada para a sala. Ao olhar para o chão, percebo que, no tapete, têm sete pares de tênis bem limpos e alinhados e um par pequeno de chinelos cor de rosa.
"Os chinelos são para você", Guilherme diz apontando, "trinta e cinco, certo?"
"Exatamente, bom saber que ninguém esqueceu."
Me agacho e tiro minhas rasteirinhas, colocando ao lado dos tênis e calço os chinelos.
Ah, que saudade dos hábitos coreanos dos meus amigos.
Guilherme abre a porta e me faz sinal para ir na frente. Assim que piso na sala de estar, que é bem ampla, sou engolida por quatro braços. Luan e Pedro me dão abraços de urso tão poderosos quanto os dos meus pais.
Quando consigo respirar de novo, cumprimento todos, mas na contagem mental falta uma pessoa. Gabriel não está em lugar nenhum onde eu possa ver.
"Mamãe mandou marmitas para vocês", eu aponto para a mão de Guilherme, "Precisamos colocar na geladeira."
Guilherme leva para a cozinha, dizendo que vai guardar e para eu me sentar. Peço uma água para ele, que diz que vai trazer.
Poucos minutos depois, uma garrafa de água mineral aparece em frente aos meus olhos, mas não é a mão de Guilherme que a segura. Um braço quase fechado de tatuagens está ligado à mão que segura a garrafa.
"Guilherme disse que você quer água, Ariane", Gabriel fala atrás de mim e meu coração acelera.
A voz dele amadureceu ainda mais, mas não mudou tanto assim. Ainda mexe muito comigo. Como posso não ter superado esse canalha depois de cinco anos?
Pego a garrafa de água sem deixar que sua mão encoste na minha, "Obrigada, Gabriel", abro a garrafa e bebo um gole, "Novas tatuagens?"
"Não são tão novas, mas pode-se dizer que sim", ele se joga numa poltrona num canto da sala, sem me olhar direito, "está bonita".
"Você nem olhou para mim", respondo, mas me arrependo, sinto que ao invés de marmitas, eu trouxe uma torta de climão para os meus meninos.
Gabriel olha para mim, me medindo, sinto seu olhar como mãos no meu corpo e estremeço de leve, "Não preciso olhar para saber. Você sempre está bonita."
Antes que eu consiga processar essa resposta e formular alguma frase coerente na minha cabeça, Pedro nos chama, "Agora que a Ari está aqui, acho que podemos subir e praticar?" Ele bate palmas.
Todos levantamos e o seguimos. Subimos mais dois lances de escadas e chegamos ao último andar, que é muito amplo, tem uma parede de espelhos com uma barra e uma de janelas do chão ao teto, na parede oposta às janelas, tem uma pequena janela e uma porta, que parecem dar em um estúdio de gravação.
“Eu ainda acho que devíamos dar um jeito de instalar um elevador aqui", Guilherme diz, "Essas escadas matam".
"É por causa das escadas que podemos fazer quinze minutos a menos de cardio todos os dias, Guilherme", Matheus responde com um sorriso.
Eles se espalham, coloco minha mochila num canto, junto com a garrafa que Gabriel me deu e me sento no chão para colocar meus tênis de ensaio.
Os meninos todos estão de tênis, provavelmente já tinham combinado de ensaiar as coreografias assim que eu chegasse.
Pedro anuncia as músicas na ordem do ensaio, disse ele que programou das mais fáceis para as mais difíceis e que hoje era mais pra eu observar e a partir do dia seguinte eu poderia ter seções de ensaio para cada música com todas as pausas que eu precisasse.
Eles ficam de frente para a parede de espelhos e Pedro coloca a música para tocar. Eles dançam de forma sincronizada, uma música que é, ao mesmo tempo, sexy e calma, onde estou, consigo ver os movimentos completos pelo espelho e vendo as costas dos meninos, então arrisco alguns movimentos, imitando-os.
Pedro me olha pelo espelho e pisca um olho para mim, o que retribuo com um sorriso.
Essas práticas vão ser como os velhos tempos, certo?
***
"É a última música, Ari", Pedro anuncia, "Você pode vir aqui?" Saio do meu cantinho e chego em frente aos espelhos. "Ari, essa vai entrar no setlist a partir da metade da turnê, estamos tentando acertar antes de ser necessário correr contra o tempo".
"Certo, então já sei que preciso me empenhar nessa".
"Sim", seu olhar está estranho, quase culpado, ele se vira, "Gabriel, Ari vai ser sua parceira nessa, já que você não se acertou com nenhuma das outras garotas".
"O quê?!” solto meio alto sem nem me tocar que meu profissionalismo foi pra casa do caralho, "Você está louco, Pedro?"
Vejo Gabriel rindo no canto e vindo para frente do espelho.
"Ari, eu sei que não é o ideal, mas você é bem mais baixa que ele, as outras garotas que tentaram eram quase da mesma altura depois dos sapatos de salto", Pedro passa a mão no rosto, "Não deu muito certo com os sapatos, então a música ficou parada antes de colocarmos nos shows. Só tenta, por favor", ele junta as mãos, fingindo implorar.
"Droga…" respiro fundo e balanço os ombros para soltar a tensão, "Ok, certo", aponto para Gabriel, "Sem gracinhas, por favor".
"Juro pela minha vida", ele coloca a mão no coração, mas está sorrindo.

Dançando Outra Vez -The7 Saga #1Onde histórias criam vida. Descubra agora