CAPÍTULO 12

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Ariane

"Puxaram minha capivara na internet", informo.
"Como assim?" Gabriel pergunta bebendo um gole da água que servi para ele.
"Descobriram meu nome, idade, onde eu estudei, minha conta no tiktok, as dancinhas de trends, praticamente tudo", revelo, brincando com a tampa da água.
"Ignore todos os comentários", ele aconselha, "Estou falando sério. As pessoas já estão comentando no vídeo que postei, algumas te amaram, outras não, faz parte", ele balança os ombros.
"Eu só quero dançar, entende?" Amarro meu cabelo num coque, estou inquieta.
"Ei, Ari", ele pega minha mão, "Se é o que você quer fazer, faça", ele me encoraja, "Ignore todos os comentários, ok?"
"Ok…" volto a encarar a mesa entre nós, Gabriel continua comendo, "Desculpe por hoje cedo", finalmente digo o que vim dizer.
"Você estava estressada", ele responde, "Também fui grosseiro com você, mal acordei e recebi uma ligação do nosso empresário reclamando do vídeo, acho que ele até me xingou", ele ri fraco, "Desculpa fazer você passar por tudo isso".
"Só tivemos todo esse problema por causa daquele bêbado desgraçado e de um idiota que filmou a confusão" respondo, "Eles são os verdadeiros culpados".
"Quantas matérias você viu?" Ele me olha desconfiado. "Uma ou duas, por que?"
"Tem pelo menos uns sete vídeos de ângulos diferentes circulando, segundo o empresário" ele me informa e meu queixo cai, "Relaxa, a empresa está trabalhando para tirar as matérias do ar, o que vai sobrar são os vídeos, as pessoas baixam ou fazem remixes para que nada se perca, mesmo que seja algo ruim", ele explica, "A parte boa disso tudo é que meu vídeo está viralizando, logo teremos os dois vídeos em alta e poderemos estar aliviados" ele me tranquiliza.
"Quantas vezes você já passou por isso? Está muito calmo" "Algumas", ele sorri, "E não fui só eu, os meninos também já tiveram que se pronunciar sobre alguns escândalos. Infelizmente a gente se acostuma", ele balança os ombros.
"Não sei como vocês conseguem ver o lado positivo de um escândalo desses…"
"Terapia?"
"Por acaso vocês fazem terapia?"
"Eu não faço mais, os meninos, eu não sei".
"Faz sentido…"  fico  quieta enquanto  Gabriel come mais um pouco, "Está bom?"
"Sim, você cozinha tão bem quanto a sua mãe", ele responde com a boca cheia de macarrão.
"Não minta, eu nunca vou cozinhar tão bem assim", dou risada. "Você cozinha bem, só não aceita que é verdade" ele termina de
comer e bebe mais água, "Obrigado pelo almoço", ele curva a cabeça, como o coreano que ele é.
"Você não deveria dizer isso antes de comer?" Dou risada.
"Você não estava aqui para eu agradecer, então faço isso agora", ele balança os ombros e me olha.
Entrego a garrafa de água para ele, que segura meu braço marcado pelo hematoma.
"Está doendo? Tem certeza que é só o hematoma?" Ele observa meu braço, "Podemos pedir um check-up no hospital".
"Não tem nada quebrado nem torcido, parece pior do que é", garanto.
"Vou buscar uma pomada para diminuir o hematoma, eu tenho no quarto", ele se levanta.
"Por que tem uma pomada para hematoma?" Pergunto, confusa. "Não é muito legal subir no palco todo roxo porque caí num
ensaio ou porque eu me bato nas paredes e molduras de portas, né?"
Ele sorri e sai da cozinha.
Dou risada, porque é a cara dele sair andando pela casa sem prestar atenção e se bater nas paredes e portas. Ele sempre foi meio desastrado, apesar de ser muito bom em tudo que se dispõe a fazer.
Talvez ele devesse se dedicar mais a andar pela casa sem acidentes, assim não ficaria roxo…
"Hora do filme!" Escuto a voz de Pedro chamando da sala.
Me levanto e vou até lá, os seis homens e uma Mafe mal humorada estão se reunindo na sala.
"Filme?" Pergunto.
"Há um tempo começamos uma tradição", Felipe me responde, "Todo domingo de folga ficamos em casa e assistimos alguns filmes ou uma série juntos".
"Parece legal", respondo, "O que vamos assistir?"
"Normalmente temos votação, mas os filmes do Felipe nunca são escolhidos", Guilherme explica, "Na última folga, ficou combinado que na próxima ele escolheria um filme".
"E qual vai ser, Felipe?" Pergunto receosa que ele escolha algum filme de terror.
"Uma linda mulher", ele responde sorrindo.
"Adoro esse", procuro um lugar para sentar, mas os sofás estão todos ocupados.
Têm algumas almofadas gigantes no chão, então me acomodo em uma, perto dos pés de Guilherme e de Luan.
Gabriel chega logo depois de eu sentar e se acomoda ao meu lado, com um tubo de pomada na mão.
"Me dá o braço", ele pede enquanto Felipe apaga as luzes e dá play no filme.
Gabriel espalha um pouco da pomada em meu braço e massageia, com os olhos colados na tela da TV.
Passam pelo menos uns cinco minutos e ele finalmente para de massagear meu braço, então ele se aproxima de mim e sussurra para mim:
"Mantenha aquecido", e coloca uma manta fina dobrada em cima do meu braço, "Essa eu quero de volta".
Sinto meu rosto ficar vermelho. Ele está fazendo referência ao casaco que ele me emprestou há mais de uma semana e eu ainda não devolvi?
Ele retorna a sua posição original, se encostando no sofá entre as pernas de Luan e eu faço o mesmo entre as de Guilherme. Deixo minha cabeça tombar no joelho de Guilherme, que solta meu cabelo, que ainda estava no coque que faço para dormir, e massageia meu couro cabeludo.
Ele sempre foi um tipo de irmão mais velho para mim, cuidando de mim quando eu nem sabia que precisava ser cuidada.
Acho que adormeço, já que quando abro meus olhos, Julia Roberts está linda com as roupas que Richard Gere comprou para ela.
Fico triste, pois adoro a cena em que ela vai a loja e é destratada, apenas para dar a volta por cima e comprar alguns dos itens mais caros.
Sinto um aperto leve em meus dedos e vejo que Gabriel está acariciando minha mão por debaixo da manta que ele colocou no meu braço. Me mantenho imóvel, fingindo que ainda estava dormindo, mas mantenho os olhos abertos e observo Gabriel, que está distraído olhando para a tv.
Seu rosto quase não mudou, o mesmo nariz, os mesmos olhos, a mesma boca… uma grande diferença? A argola que pende em seu lábio e o piercing em sua sobrancelha.
Nunca gostei muito de piercings faciais, sempre preferi aqueles mais discretos na orelha, ou algum no umbigo ou mamilos. Inclusive tenho todos esses que mencionei. Mas em Gabriel… esses piercings só fazem realçar seus traços e sua beleza.
Assim como as tatuagens. Nunca imaginei nenhum dos meninos se tatuando, os pais de todos eles são muito tradicionais, mas sei que todos tem uma tatuagem em homenagem ao grupo, só não sei onde eles fizeram suas tatuagens, segundo o que Matheus me contou, cada um escolheu um local do corpo que se sentia mais confortável.
Meu celular vibra em meu colo, me tirando dos devaneios. É uma mensagem.
Tiro minha mão da de Gabriel.
Gabriel: para de me encarar.
Ari: não estou encarando.
Sinto meu rosto ficar vermelho, fui pega.
Gabriel: eu sou artista, sempre sei se tem alguém me olhando, é uma habilidade que adquirimos com o tempo.
Ari: onde é sua tatuagem do grupo?
Gabriel: você acredita se eu disser que é na virilha?
Ari: não.
Gabriel: droga… é atrás da orelha.
Ari: seu cabelo cobre.
Gabriel: sim, agora assista ao filme.
Ari: chato.
Volto minha atenção para a tv, a tempo de rir de alguma gracinha que acontece no filme.
Meu celular vibra novamente.
Gabriel: coloque sua mão de volta. Ari: não.
Gabriel: por que?
Ari: porque não.
Gabriel: chata!

***

O filme acaba, mas ninguém se levanta, o que estranho, pois fazem duas horas que todos estão em silêncio no mesmo ambiente, o que é difícil acontecer com esses caras.
“Próximo filme?” Luan diz acima de mim.
“Por mim sim”, Guilherme responde, “Tem algum na fila?” “Não”, Matheus responde, “Ari, quer assistir o que?”
“Eu?” Fico surpresa, mas todos concordam com a cabeça.
“Você é nova na nossa tradição, temos que saber qual o seu gosto”, Rafael me encara, “Escolha um filme”.
Penso um pouco. Gosto muito de romances bobos, mas também adoro um filme de ação com muita adrenalina.
“Que tal Missão Impossível?” Sugiro, é o equilíbrio perfeito entre um ótimo filme de ação e pouco sangue.
“Eu sabia que podia confiar no gosto dela!” Luan me dá um high-five.
Depois que todos confirmam que estão de acordo, menos Mafe, o filme é colocado.
“Essa franquia merece uma maratona”, Felipe fala em certo ponto do filme.
“Eu apoio”, Gabriel diz ao meu lado. Eu coloco a mão de volta na dele.
O que há de errado comigo?

Dançando Outra Vez -The7 Saga #1Onde histórias criam vida. Descubra agora