CAPÍTULO 6

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Gabriel

Por que ela não me deixou falar sobre o que aconteceu há cinco anos?
Eu sempre quis falar disso com ela, mas ela nunca aceitou e isso parte meu coração e fere meu orgulho.
Entro no chuveiro frio, mesmo que não esteja calor e tento deixar a frustração descer pelo ralo como meu suor sendo lavado do corpo.
Todos os dias vão ser assim?
Eu vou querer falar com ela, ela não deixa e o que eu faço?
Nunca vou ter ela de volta e vou ter que continuar a ficar com uma garota aqui ou ali que não quer nada além de poder dizer que transou "com o Gabriel do The7"?
E pior, nem sei se ela tem um namorado gringo, mas e se tiver? Eu vou ter que simplesmente ver ela feliz com o gringo? Ou, se ela estiver solteira, vou ter que ver ela se apaixonar por outro e ser feliz e se casar com ele?
Eu quero ela feliz, claro, mas…
Balanço a cabeça embaixo da água.
Chega de pensar nisso.
Termino o banho e saio para me vestir. Um banho agora provavelmente foi burrice, já que vamos ensaiar de novo no período da tarde, mas esperar até depois do ensaio pelo banho não era uma opção.
Não quando eu treinei mais pesado do que qualquer outro dia só pra não ficar olhando a Ariane fazer os exercícios como se não fossem nada.
Me visto já pensando no ensaio, uma calça leve e camiseta, deixo os tênis de ontem onde eu posso ver e desço para comer algo.
Alguém cozinhou.
Normalmente nós tínhamos um dia da semana definido para cada um de nós e o que faríamos nesse dia, mas acho que a dinâmica pode mudar agora temos mais uma residente na casa.
Todos estão sentados na sala de jantar, então eu só faço meu prato na cozinha e me sento também, pronto para repetir o modus operandi de ontem: me sentar em silêncio e comer.
Meus planos morrem quando escuto Luan falando baixinho ao meu lado: "Já se resolveu com a Ari?"
Resmungo um sim e volto a me concentrar na comida, mas Luan ainda não sanou sua curiosidade, "Sobre tudo ou só sobre vocês conviverem?"
"Segunda opção", respondo sem tirar os olhos do prato na minha frente.
Talvez eu esteja sendo um pouco grosso, porque Luan dificilmente desiste de um assunto que é de seu interesse, mas ele me deixa comer em silêncio.
"Então agora vocês vão agir como amigos de novo?" Escuto a voz de Guilherme e levanto meu olhar, ele está alternando seu olhar entre Ariane e eu.
"Sim", ela responde simplesmente. Dou de ombros e concordo com ela.
Parece que todos estavam ansiosos para escutar isso, escuto cinco suspiros aliviados. Além de mim e Ariane, o único que mal respirou foi Luan, ao meu lado.
"Que foi?" Olho em volta da mesa confuso.
"Tudo resolvido, estávamos pensando que vocês iam viver em pé de guerra", Felipe fala e bebe um gole da água.
"Por que faríamos isso?" Ariane questiona, "Se eu fosse ficar guardando rancor eu estaria velha uma hora dessas."
"Então sem rancores?" Guilherme pergunta dessa vez.
"Rancor de 'ah, meu Deus, eu mataria ele pelo que ele fez', não, isso não tenho", ela diz, o que me traz um pouco de esperança, que ela logo quebra: "Mas tenho certeza que não consigo voltar a ter aquela confiança cega…" ela então parece notar o que está dizendo e me olha, "Eu sei que você nunca iria me deixar cair durante uma coreografia, mas a confiança na nossa amizade… desculpa Gabriel".
Os caras me olham, meio com pena. Eles sabem o que aconteceu. Sabem que eu mal tive culpa do que houve.
"Alguém como eu não merece confiança", digo, sentindo o amargo da bile na boca.
Eu assumo uma culpa que não foi minha para ela. Eu vejo no rosto dos meus amigos, meus irmãos, que eles entenderam que ela não me deixou falar sobre a tal traição.
Guilherme suspira e passa a mão no rosto, ele parece tão chateado quanto eu com a situação.
Depois que lavamos a louça usada eu resolvo ir para o meu quarto e ficar sozinho até a hora de passar as coreografias com Ariane.
Mas fui seguido, antes que eu possa fechar a porta, Guilherme entra no meu quarto e se joga em minha cama. Fecho a porta, "O que você quer?"
"Então vocês se resolveram", ele começa, colocando os braços atrás da cabeça, "Mas só pela metade?"
"Eu ia contar tudo, mas ela não deixou", me deito na cama ao lado de Guilherme, "Eu não sabia bem o que dizer, por mais que tenha ensaiado todas as palavras um milhão de vezes…" passo a mão no rosto, com raiva de mim, "Então ela disse que se fosse pra falar do que aconteceu, eu não devia nem começar a falar nada".
"Sinto muito, cara".
"Eu também…" fecho os olhos, eu poderia muito bem chorar de raiva e frustração.
"Mas a gente pode tentar te ajudar", abro os olhos e vejo que Guilherme se sentou e está me olhando com um sorriso de maluco, "A gente sabe que não foi sua culpa, podemos ajudar você a pelo menos fazer ela ouvir a história".
"E como você sugere que eu faça isso?" Me sento também, "Vamos amarrar ela numa cadeira com uma fita na boca e obrigar ela a me escutar?"
"Claro que não!" Ele me olha como se eu tivesse matado um gato na frente dele, "Não, Gabriel, sem maluquice…" ele pensa um pouco, "Um jogo, podemos jogar verdade ou desafio ou algo assim e quem cair com você pede uma confissão e você fala tudo".
"Ela não vai acreditar, Guinho", me deixo cair para trás de novo, "Você não reparou em como ela me olha?
"Depende, quando entramos na academia parecia que ela queria te comer", ele balança os ombros.
"Para de graça, idiota!"
"Você estava no celular, então não viu, mas eu estava falando com ela, Gabriel", ele ri, "eu acho que nunca tinha visto uma garota comer alguém com os olhos".
"Como assim?" Estou ficando impaciente.
"Sabe quando você vê uma garota bonita na rua e consegue imaginar tudo?" Eu balanço a cabeça, afirmando, "Ela estava com esse olhar quando te viu".
"Impossível" respondo.
"Você pode acreditar em mim ou você pode ficar aí deprimido" ele dá de ombros.
"Certo e como você sabe que ela vai querer voltar pra mim depois de tudo?"
"Eu nunca disse isso, eu disse que acho que ela ainda te deseja" levanto as sobrancelhas, "Não foi com essas palavras, mas foi o que eu quis dizer".
"E se ela tiver um namorado?"
"Não acho que tenha, ela contou algumas coisas que aconteceram enquanto esteve fora", ele coça a cabeça, pensando, "ela nunca mencionou nenhum cara".
"Isso não garante nada, Guilherme, você sabe que eu quero voltar a ter um relacionamento com ela".
"Pode não garantir, mas já é uma esperança", ele estala os dedos para mim.
"Não vou fazer nada até saber se ela está disponível."
"O que eu ganho se trouxer a informação pra você?" Ele ri.
"Eu voto a favor de você ter um gato aqui".
"Sério?" Ele fica sério.
"Muito sério", estreito meus olhos e estendo a mão para fechar o acordo.
Guilherme aperta minha mão e sei que, em breve, terei uma resposta sobre minha dúvida.

Dançando Outra Vez -The7 Saga #1Onde histórias criam vida. Descubra agora