CAPÍTULO 5

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POV NOEMI

Andar de moto foi uma das melhores experiências da minha vida, o vento no cabelo, os pulmões de enchendo de ar puro, a adrenalina... essa é a verdadeira liberdade. É claro, ignorando o fato de que um homem perigoso está me "sequestrando".

Estou indo de uma prisão para a outra e não me refiro àquele clube, e sim minha casa em Nápoles.

Passando pela cidade, vejo as pessoas se encolherem em seus lugares, parecendo temer os homens sobre as motos. Deus, no que estou me metendo?

Então, o ambiente urbano vai desaparecendo, dando lugar ao campo. Pegando uma estrada isolada,  corremos até grandes portões de aço. O lugar parece uma fortaleza, com arame farpado, câmeras e muros enormes. É assustador.

Os portões de abrem ao nos aproximarmos, e meu condutor/sequestrador dirige até uma garagem gigante, onde há vários homens trabalhando em motos. Desligando-a, ele sai da moto e agarra meu braço, não sei se para me fazer segui-lo ou ter controle sobre mim.

Saindo da moto, sinto minhas pernas bambas, e só não caio graças ao seu aperto implacável em mim. 

Ele fala em russo com os homens, parecendo gritar ordens. Andando para longe, entramos em um enorme prédio, passando por vários homens que cumprimentam meu sequestrador. Subimos por vários andares até pararmos de frente com uma porta isolada, abrindo, vejo ser um apartamento.

Com ele finalmente me soltando, rapidamente me afasto dele.

— Vamos ficar um pouco aqui, estou esperando uma pessoa. — diz.

Acabo não aguentando.

— Não quero ficar aqui. Na verdade, não quero ficar em lugar algum perto de você.

Ele ri sarcasticamente.

— Você não tem escolha.

Bufo.

— Eu nem sei o seu nome.

Ele levanta uma sobrancelha, divertido.

— Que isso não seja um problema, sou Ronan Ivanov, Prez dos Dark Riders.

— Prez?

— O presidente. O líder.

— E isso aqui é tipo... — engulo em seco. — A máfia?

Dessa vez, ele ri.

— Não, a máfia é muito, como posso dizer, sufocante para o nosso estilo de vida.

Nem me diga, penso.

— E você? — ele pergunta. — Qual seu nome?

Arregalo os olhos. Não posso, simplesmente não posso dizer meu nome. A Camorra e seus principais membros são mundialmente conhecidos, eu morreria de descobrissem que a filha de Giovanni Schiavon está na Rússia, território da Bratva, um de nossos maiores inimigos.

Até onde sei, ele pode não ser da máfia mas pode trabalhar para ela. 

— Emi. — digo meu apelido, dado pelo meu irmão mais novo.

Quando meu pai se casou pela segunda vez, ele finalmente teve seu herdeiro, quem levaria o legado Schiavon para frente.

Emi. — ele repete, mas não consigo ler nas entrelinhas de seu tom de voz.

Alguém bate na porta, e quando Ronan abre, uma linda mulher entra no seu apartamento, cheia de sacolas.

— Essa é Daria. — ele apresenta, falando em inglês. — Esposa de Voron, um dos meus homens, ela te trouxe roupas.

— Não quero nada de você. — respondo em italiano.

— Você pode continuar não querendo, mas não somente irá aceitá-las como irá usa-lás. Está louca se acha que vou deixá-la andando por aí só de lingerie e meu cut para todos verem, apesar dessa vista estar me dando uma ereção do caralho.

Minhas bochechas queimam de vergonha e raiva. Dou graças a Deus por ele ter dito essas palavras em italiano ou morreria ainda mais de vergonha por causa de Daria.

Dando um olhar mortal para ele, vou em direção à Daria e pego as sacolas, agradecendo-a.

— O banheiro é ali. — Ronan sorri vitorioso, apontando para um porta no final de um corredor a esquerda.

Entrando no banheiro, visto a calça de couro, os coturnos pesados e a blusa com um crânio meio quebrado com "Dark Riders" escrito. Me sinto uma merda fazendo tudo que aquele idiota manda, ele é tão inflexível.

É irritante. Eu o odeio.

Saio do banheiro e vejo-o de costas, falando no celular. Daria já foi embora. Fico quieta no lugar. Quando Ronan se vira para mim, ele para de falar por um momento e logo encerra a ligação com algumas poucas palavras.

— Uma verdadeira Old Lady. — não sei o que isso deveria significar, porém, não gostei de seu tom, então fecho a cara para ele.

— Com certeza não sou e nunca serei uma Old Lady. — atiro de volta.

— Você sabe o que é ser uma? — fico em silêncio. — Então não diga que nunca será, porque se depender de mim...

— Se vier de você, não quero. — corto-o.

Ele balança a cabeça.

— Quando vai começar a entender que suas vontades não importam aqui?

Sinto meu ódio aumentar a cada segundo. Não respondo-o.

Sentando em uma cadeira perto de mim, cruzo as pernas, não olhando em sua direção. Meu Deus, pareço uma criança.

— Olhe para mim. — manda.

Não olho.

— Olhe para mim, porra.

Me forço a continuar olhando para longe, encarando a paisagem do lado de fora da janela.

Ouço passos pesados virem até mim e estremeço quando seus dedos calejados apertam meu queixo, me forçando a olhar para cima e encará-lo.

Fogo queima em suas íris douradas. Seria lindo se não fosse assustador.

Nunca me ignore, entendeu? — sua voz é severa. — Se fizer isso novamente irei castigá-la, e não sou conhecido por ser piedoso.

Meus membros tremem em medo. Castigo, a palavra ecoa na minha mente e não consigo me impedir de pensar no meu pai. Acabo tocando no meu pulso direito, aquele que ele quebrou quando eu tinha 13 anos.

Engulo em seco. Ronan me observa com avidez, como se estivesse se concentrando para ler meus pensamentos.

Assinto com a cabeça.

— Palavras.

— Não vou ignorá-lo.

Ele solta meu queixo e se afasta.

— Boa garota. Vou sair agora e volto mais tarde, você não tem permissão para sair daqui.

Ele sai do apartamento e tranca a porta, e então me permito relaxar.

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