CAPÍTULO 2

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POV NOEMI

Meu corpo inteiro dói. Será que eu fiz mais alguma coisa que irritou meu pai? Droga. Quero me manter dormindo por mais algum tempo, mas então, começo a estranhar meus arredores. Por que minha cama está tão desconfortável? E também estou ouvindo sons estranhos... fungados?

Abro os olhos e me deparo com um teto que parece sujo. Esse não é o meu quarto.

De repente, as memórias da noite passada voltam com tudo. Assustada, pulo em pé de onde estou. O ar é cortado de meus pulmões e sou puxada brutalmente para trás, com dor. Olhando para trás, vejo uma barra de metal, com uma corrente saindo dela e vindo até meu pescoço. Tocando o local, sinto o metal gelado agredir minha pele.

Uma coleira.

Estou com uma coleira, igual a um cachorro.

Mas não é isso que me chama atenção.

Várias camas e barras de metais estão espalhadas pelo o que parece ser um armazém. Garotas de todas as ideias sobre as camas, também com coleiras.

Respiro com dificuldade.

Que merda está acontecendo?

— Você está bem? — a pergunta vem detrás de mim, fazendo-me pular no lugar, de volta para a minha cama improvisada.

Olho para quem fez o questionamento. É uma garota que parece ter minha idade, talvez mais nova.

— Obviamente não. — respondo. — Você sabe o que está acontecendo?

Pergunta idiota, ela não deve saber mais do que eu, e é um pouco óbvio o que está acontecendo aqui: tráfico humano. Já ouvi Don Lucca Cavalliere falar sobre isso, geralmente colocam mulheres em armazéns como esse antes de distribui-las para qualquer um que pague.

É nojento.

E agora eu estou nisso.

Merda.

— Eu não sei. — ela confidência. — Mas ouvi os homens dizendo que está na hora de nos levar para a triagem. Não devem demorar muito para voltar.

— Sabe onde estamos? — outra pergunta idiota, mas não custa nada tentar. A garota com quem estou falando é claramente italiana, mas olhando ao redor, vejo mulheres de todas as raças e etnias.

Seja lá no que estivermos envolvidas, é grande.

— Não. Não estou muito mais tempo acordada que você, mas ouvi os homens conversando. Parecia uma língua eslava. Talvez russo?

Então, estou muito, muito longe de casa.

Casa...

Eu não tenho casa.

A chance de felicidade se transformou em uma promessa de dor.

— Qual a sua idade? — questiono, de repente.

— 16, e você?

Meu coração dói, ela é tão nova.

— Tenho dezoito.

— Qual o seu nome?

— Noemi, e o seu?

— Carolina.

Nesse momento, homens entram no armazém, vestidos todo de preto e com armas penduradas no corpo. Quando um deles chega até Carolina, minha visão é impedida por uma roupa preta.

— Levante-se. — ele me ordena, em um inglês ruim, enquanto ele desacopla minha coleira da barra de metal.

Faço como ele manda. Se quiser sobreviver, tenho que saber quando lutar, e, com o homem tendo o dobro do meu tamanho, armas pelo corpo e me segurando por uma maldita coleira, esse não é o momento certo.

Ele me guia por alguns corredores, até uma sala.

— Idade. — exige.

— 18. — respondo, somente porquê é uma informação inocente. Se eu estiver mesmo na Rússia, então estou em perigo. A Bratva adoraria saber que uma Schiavon está em seu território.

— É virgem?

Evito mostrar minha surpresa. Não sei porquê acham isso tão importante, mas levando em consideração que as mulheres devem se manter puras até o casamento e ele está me perguntando isso, é porque deve ter algum valor.

— Não. — falo com firmeza.

O homem me dá uma roupa preta.

— Vista-se.

Seguro a alça e uma parte da roupa cai no chão. Então, percebo. Isso não é roupa, é lingerie. Uma lingerie de renda e minúscula.

— Não vou vestir isso.

O homem nem hesita, aponta uma arma para minha cabeça, o cano na minha testa.

— Vista-se.

Engolindo em seco, começo a me desfazer de minhas roupas esfarrapadas. Quando fico nua, a vergonha me toma por completo. Vestindo a pequena peça rapidamente, passo os braços ao meu redor, tentando cobrir minha nudez.

O homem então me leva para uma outra sala, cheia de mulheres vestidas iguais a mim.

— Seu número é 32, quando chamarem saia da sala e vá até o final do corredor.

Sentando ao lado de Carolina, a bile sobe pela garganta, meu coração batendo forte no peito. Apesar de ser uma princesa da máfia, eu nunca participei dessa vida, e tirando as surras do meu pai, eu sempre fui muito protegida.

Agora, estou caindo de cabeça no desconhecido.

Os números começam a ser chamados e a cada um, eu tenho vontade de vomitar. Está chegando minha vez. Carolina foi embora no número 11, e agora eu estou assustada e sozinha.

O frio na barriga está me deixando mal.

— Número 32. — meu coração gela.

Ah, merda.

Controlo meus tremores e sigo até o final do corredor, lá, um outro homem me espera. Ele segura a corrente da minha coleira e me leva até o meio de um palco.

Homens e mais homens estão espalhados pelo local, me olhando maliciosamente, assobiando ou batendo palmas.

Acho que vou mesmo vomitar.

— Por uma noite com essa bela loirinha, vou começar os lances em 50 mil euros.

Lances?

Estou sendo vendida por uma noite?

O medo toma conta de mim, mas tomo cuidado para não transparecer. Os homens começam a fazer seus lances, e só quero que isso acabe. A vida inteira me senti um objeto, feita para casar e gerar um filho, agora, estou sendo vendida como um verdadeiro objeto.

— Dou 300 milhões de euros. — alguém diz no fundo da sala.

Todos se voltam para o homem escondido nas sombras, vejo os homens ao seu redor estremecerem. Ninguém mais faz um lance.

— Vendido!

O homem de levanta de seu lugar, saindo das sombras. Quando vejo um sorriso convencido – e predatório – em seus lábios, sei que estou perdida.

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