CAPÍTULO 15

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POV RONAN

Paro na garagem do complexo e contemplo o silêncio da noite. Quando deixei esse lugar estava uma bagunça, mas pelo visto Voron deu conta de tudo.

Desço da moto e, quando vou ajudar Noemi, ela foge do meu toque. Ergo uma sobrancelha.

— Não quer ajuda? — questiono.

— Estou bem. — atira, rude.

Observo cada movimento rijo que ela executa, os músculos tremendo. Ela morde o lábio inferior quando começa a dar passos hesitantes em direção ao prédio.

Cansado de vê-la dar passinhos de bebê, vou até ela e tomo-a em meus braços em estilo noiva.

— Me solte. Não quero suas mãos em mim. — exige raivosa.

— Você não parecia ter tanta aversão ao meu toque há pouco tempo atrás.

Ela me dirige um olhar fulminante.

— Eu te odeio.

— Me odiar não vai mudar o fato de que você me pertence.

Levo-a para o apartamento e vou direto para o banheiro. Ligo a água quente da banheira.

— O que está fazendo? Não...! — ela grita quando começo a despi-la de suas roupas rasgadas.

— Fique quieta. — ordeno.

Nua a minha frente, eu já sinto meu pau endurecendo em um nível doloroso novamente. Noemi é uma boa garota, apesar de ser virgem ela me levou até o último centímetro, e mesmo me segurando, eu sabia que ela estava sentindo dor. Mesmo assim, ela não derramou uma lágrima sequer. Vi-as se acumularem no canto dos olhos, mas elas não foram derramadas, seu orgulho não deixou.

Vou foder esse orgulho para fora dela. Quero tudo de Noemi, inclusive suas lágrimas.

Coloco-a na água e, com uma delicadeza que eu não sabia que havia dentro de mim, pego o sabonete e começo a esfregar a sujeira de seu corpo.

Noemi parece desconfortável com a situação, mas não luta contra.

Passando a mão por sua pele, percebo que ela não é tão lisa quanto aparenta, leves cicatrizes deixam sua derme irregular.

Uma fúria cega me toma. Várias irregularidades de apresentam em sua pele, riscos que destoam da pele branca. Cicatrizes demais para considerar que se acidentou.

Levanto seu braço e aponto para a cicatriz mais aparente, um corte sob o braço direito.

— Quem fez isso com você? — minha voz não sai mais que um rosnado baixo.

Ela se assusta com meu tom de voz repentino,  ao olhar para o braço, seus olhos brilham com fragilidade. Isso só serve para aumentar meu ódio latente.

— Responda. — pressiono-a.

Seus olhos brilhantes sobem até mim, ela parece querer chorar. Então, Noemi balança a cabeça e puxa seu braço para longe de mim.

— Não é da sua conta. — ela não se digna a me olhar nos olhos.

Agarrando seu queixo, obrigo-a me olhar nos olhos, próximos um do outro.

— Responda-me agora. Não sou um homem paciente quando se trata de você, não me teste.

— Por que se importa? — ela exige, mesmo a voz estando embargada pelas lágrimas que se recusava a derramar.

— Porque você é minha. — não hesito em responder. — E ninguém fere o que é meu.

Noemi me encara, e não consigo ler seu semblante, o que me deixa surpreso, é muito difícil eu não conseguir ler pessoas, mas Noemi apenas fica ali, me olhando, e não faço a menor ideia do que ele quer dizer.

Por que quando estou ao redor de Noemi eu pareço deixar de ser o Ronan Ivanov? Eu pareço virar uma versão diferente de mim mesmo?

Eu não sou assim. Não tenho problema em arrancar verdades dos outros, não me importo se alguém tem cicatrizes ou está machucado, e muito menos me importo com alguém que não pertence ao clube.

Mas ela, de alguma forma fodida, é diferente.

— Meu pai... — ela sussurra, então.

Meu corpo enrijece. Noemi nunca me contou sobre si, tudo o que sei é que veio da máfia, mas nem de qual ela contou. Não sabia nada sobre ela antes daqui, mas agora sei, ela tinha um pai abusivo.

Imagens de uma versão mais nova minha, uma versão que me certifiquei de enterrar bem fundo, ameaça a voltar à tona, mas forço-as a ficar onde as coloquei.

Aquela criança assustada morreu.

— Ninguém nunca mais irá encostar um dedo em você de novo. — falo.

— A não ser você?

— Não desse jeito. Nunca desse jeito.

Ela desvia o olhar de mim, encarando a parede em silêncio.

Volto a ensaboar ela, massageando suas coxas doloridas e lavando seu cabelo.

Terminando de lavá-la, seco-a e a carrego para a cama depois de vesti-la em um roupão confortável.

— Eu te odeio. — ela sussurra enquanto deito ao seu lado na cama.

— Eu aceito seu ódio, sinto o mesmo por você.

Noemi me traiu. Dei liberdade para ela andar pelo meu clube e na primeira oportunidade ela fugiu.

Vou deixar ela dormir em paz essa noite, mas farei ela se arrepender de ter me deixando.

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