Capitulo VIII - Luto dos desconhecidos

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Fazia calor, o sol estava alto o que indicava meio dia. Estava sozinho em casa a tentar estudar para um exame que teria em breve. Era um dia bastante normal, pelo menos a manhã até aí tinha sido - a ignorância por vezes é a maior felicidade.

A campainha tocou e eu desço as escadas a tentar compor-me, pois ainda estava com aspeto de quem acaba de acordar mesmo estando a estudar desde manhã cedo. Abri a porta e deparei-me com duas pessoas, um homem e uma mulher fardados. São da policia. Fiquei bastante confuso, mas a minha confusão foi interrompida pela voz da mulher.

-Esta é a casa número 47, certo?

-Sim, é. - respondi, tentando perceber a razão da pergunta.

- É o filho do senhor Mário Cunha e da senhora Susana Cunha?- a mulher continou.

-Sim sou eu ... - respondi relutante,

-Agente Jéssica Abrantes. - mostrou o seu distintivo e o colega ao seu lado fez o mesmo - Este é o agente Bruno Simões. Vimos pedir-lhe que nos acompanhe porfavor.

-O-o quê? Porquê? Juro que não fui eu o que quer que tenha sido!

Entrei em pânico. Eu sei que não sou nenhum santo e que por vezes faço algumas coisas não exatamente... legais. Entrar em casas em construção, fazer grafites... coisas desse género, mas nunca nada que fizesse a polícia vir buscar-me a casa.

- Não é isso, é que ... - a senhora faz uma breve pausa e olha seriamente para mim - os seus pais tiveram um acidente esta manhã e o seu estado... - ela não conseguiu acabar a frase mas eu consegui perceber o que ela queria dizer.

Segui-a para o carro apressadamente e rapidamente chegamos ao hospital. A viagem foi feita em pleno silêncio. No início, houve uma ou duas perguntas por parte dos agentes fardados que iam no banco da frente, contudo as respostas que eu dava não eram mais elaboradas que/não passavam de onomatopeias. Estava calmo, inesperadamente, mas sem paciência. Tudo o que conseguia pensar era se ia ter tempo para acabar de estudar a matéria toda para o exame.

Entramos no hospital e um médico foi ao nosso encontro-to. Informou-nos que foi ele quem tratou os meus pais quando deram entrada nas Urgências.

-Boa tarde ... - começa o médico.

-Boa tarde. - respondo educadamente.

-Os seus pais deram entrada hoje por volta das onze e meia da manhã após uma colisão com um pesado. Ambos sofreram várias lesões e hemorragias, nomeadamente no peito e braços, além de que tivemos de amputar a perna direita do seu pai no local de maneira a conseguirmos mobiliza-lo para aqui. - o médico inspira profundamente e continua - fizemos todos os possíveis, mas infelizmente ... os seus pais acabaram por falecer nas nossas instalações.

Será que aquela parte da matéria vai sair? Eu acho que não a professora apenas falou ligeiramente dela portanto não acredito que saia. Claro que ela pode fazer de propósito, só mesmo para saber quem é que está atento ou não...

-Sei que é repentino, mas agora que ambos os seus tutores faleceram você terá de ficar com alguém que possa tomar conta de si. Talvez um avô ou tia com quem se dê melhor possa tomar conta de si até fazer 18 anos.

Desta vez é o senhor fardado que intervêm e tenta discretamente dizer algo ao médico.

-Doutor, nós analisamos o nome dele nos registos civis ... este rapaz não tem familiares vivos ...

O médico faz um movimento brusco com o pescoço e fica a encarar-me, admirado.

Mas pelo menos eu tenho aqueles apontamentos que tirei, mas se bem me lembro o Manuel não esteve nessa aula. Tenho de ver se lhe passo estes apontamentos, senão sei que ele se vai reprovar. Sou tão bom amigo.

Às oito e meia da noite, já não fazia mais calor. Estava em casa, sozinho, a fazer o jantar quando a campainha tocou outra vez.

Hoje isto anda bastante concorrido

Sendo já a força do hábito, dirijo-me para a porta e faço força para trás de maneira a mover aquele pedaço de madeira com uma maçaneta. Uma rapariga está parada do outro lado da porta. Possui um lenço branco e azul.

- Olá. - diz enquanto esboça um dos maiores sorrisos que eu alguma vez vi.

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