Capítulo 24 - A dor da ansiedade

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Os dias foram se passando e Josh procurou acompanhar Eddie mais de perto e conhecê-lo melhor. Os dois puderam conversar mais abertamente e Eddie parecia começar a reagir melhor. Passou a se alimentar, tomar banho e não ser mais tão ríspido com a mãe, embora ainda evitasse falar com ela. Ele só ainda não conseguia cantar. Apesar da música ter sido uma válvula de escape em muitos momentos de sua vida, dessa vez estava difícil interpretar suas próprias canções visto que todas o faziam se lembrar de Lilly que esteve em seus últimos ensaios e shows.

Contava com o apoio dos amigos mais íntimos como Chris, Jeff e Stone com quem compartilhou seu drama pessoal, e o fato de não carregar mais tudo sozinho foi tornando os dias menos difíceis de serem vividos com a angústia da espera do resultado do exame.

- Eddie, vai ter que aprender a ressignificar isso. Se for comprovado que você e Lilly são irmãos, vai ter que virar uma página de sua vida e deixar que o tempo cure as feridas. Mas, se não for, tudo isso vai passar em um piscar de olhos. - Chris aconselhou.

- Transforme seus sentimentos em música, os bons e os ruins. Já provou que tem talento pra isso. - Stone o consolou.

- Tem uma plateia ansiosa pelas suas novas histórias, bro. - Jeff apertava seus ombros.


+++


Lilly permaneceu reclusa no hotel a duras penas e recebia a visita de Susan constantemente. Karina não conseguia lhe ajudar muito, embora sempre oferecesse colo e apoio. A mulher continuava insistindo que a filha deveria ir embora sem esperar o resultado do exame. Na verdade, a mãe de Lilly não queria sequer contar com a possibilidade dela e Eddie ficarem juntos. Tinha grande rivalidade com Karen desde a adolescência e as constantes visitas de Josh a prima a deixavam ainda mais irritada a ponto de não conseguir lidar com o problema da filha em separado.

- Verdade que meu pai e Eddie se entenderam?

- Pois é, Lilly! Pra você ver! O seu pai parece estar já se considerando pai do filho da Karen e agora se tornaram íntimos.

- Não é nada disso, mãe! Poxa, meu pai está apenas tentando ser legal com Eddie já que ele não tem um apoio masculino mais maduro pra contar. Eu tenho o seu colo, e não acha que Eddie precisa do colo de alguém que o entenda como filho?

- Ele tem a mamãezinha dele!

- Apoio masculino, mãe! Poxa, você parece que não entende!

- Olha, Lilly, por favor! Não fique defendendo as visitas constantes e desnecessárias que seu pai faz à casa daquela mulher.

- Tudo bem, não falo mais nada... - a garota se dirige a Susan.- Está vendo aí Susan? Basta falar na tia Karen que minha mãe fica histérica.

- Ela está bem perturbada com esse assunto mesmo.

- Eu soube que Eddie está melhor.

- Ele continua deprimido, amiga! Mas, acho que as visitas do seu pai tem feito bem pra ele.

- Eles devem ser mesmo pai e filho. Se entenderam tão rapidamente.

- Lilly... eu sei que essa angústia deve estar matando você por dentro. Mas, não sofra por antecipação. Amanhã cedo vocês já terão o resultado. Você também vai à clínica?

- Não, prefiro não ir! Vai ser muito difícil encarar Eddie dependendo do que esse maldito exame vai dizer. Mas, meu pai pediu que enviassem o resultado pra casa da tia Karen. De qualquer forma, vou esperar aqui mesmo. Acho que nem vou conseguir dormir.

- Eu  não vejo a hora disso passar pra você seguir em frente, amiga. Você está abatida demais. Eu sei que não é pra menos, mas eu nunca mais te vi sorrir, você emagreceu consideravelmente e está sempre chorando ou pedindo remédios pra dormir. Precisa viver, minha amiga! Você é linda e sabe que sua vida tem que continuar. Mas. não espere esse exame ficar pronto para viver, viva agora....

- Não consigo, Susan! - chora. - Eu tento, mas todos os dias acordo com o mesmo pensamento de que Eddie possa ser meu.... E isso associado a todos os momentos que tive com ele só me machucam... O que era pra me fazer feliz é o motivo da minha maior tristeza e dor. Eu não estou suportando, Susan! Você não sabe a vontade que tenho de me jogar pela janela desse hotel e eu ainda não sei o que vai ser da minha vida se amanhã aquele exame confirmar o que eu tanto temo...

- Não fale assim, Lilly... Claro que você sabe o que vai fazer. Se amanhã aquele exame confirmar que Eddie é filho do seu pai, você vai arrumar suas coisas, voltar ao Brasil com sua família e seguir sua vida. O tempo tudo cura Lilly e você não teve culpa do que aconteceu! 

As palavras de Susan eram simples e certas, mas Lilly não estava em condições nenhuma de seguir em frente deprimida como estava e os pensamentos suicidas lhe visitavam com cada vez mais frequência. No entanto, de todos os desabafos que fazia, tais pensamentos eram os únicos que ela guardava apenas para si. Eram constantes as vezes que Lilly adentrava o banheiro e chorava embaixo do chuveiro um choro diferente do que compartilhava com os pais ou com Susan. Era como se tivesse algo preso dentro dela que era difícil ser compartilhado e lhe corroía por dentro não aliviando sua dor nem mesmo quando chorava em silêncio.

Even Flow - a filha do primo Josh  *SAGA*Onde histórias criam vida. Descubra agora