Capítulo 37 - O drama da E-ballad

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Alguns dias depois....

- Olha só, Fred...  Parabèns, essa mixagem ficou muito boa!!!

- Eu te falei, flower! - joga um beijo no ar.

- Já te pedi pra não me chamar assim, garoto! Você não se enxerga mesmo, não é? Até parece que vou dar mole pra você! 

Beth resmungava com o novo estagiário da produtora onde trabalhava. Um brasileiro que acabara de completar dezoito anos e havia se mudado para os Estados Unidos para estudar. Apesar de muito jovem, estava iniciando a faculdade e era metido a galanteador sempre provocando Beth nesse sentido.

- Eu não sei qual o problema de dar mole pra mim! Eu sei de mais coisas do que você imagina, flower!

- Acabou de fazer dezoito anos e acha que sabe alguma coisa? Se toca, fedelho!

- Fedelho, por quê? Idade não quer dizer nada! Eu já tenho barba, sou universitário, falo três línguas diferentes, e você gostou da mixagem que eu fiz. Acabou de me parabenizar! Isso não são coisas pra fedelho.

- Porque você tem certas habilidades e barba também não quer dizer nada. Significa que é um fedelho habilidoso e eu sou bem mais velha do que você!

- Mais velha quanto? Quantos anos tem?

- Vinte e quatro!

- O que são seis aninhos? Nadinha perto do que eu posso te mostrar, é só deixar.... - o rapaz se achega a Beth cheirando seu pescoço e ela dá um tapa na testa dele.

- Vai trabalhar e vê se não enche. Eu vou passar essa mixagem pro Bob, por que ele está apressado com isso...

- Vai lá minha flower...

Beth revira os olhos e segue a sala de Bob Vanilla, o dono da produtora. Ao abrir a porta de sua sala, ela tem uma surpresa ao reconhecer Eddie conversando com seu chefe:

- Bob, eu trouxe... err.... ah, oi Eddie! Você por aqui?

- Oi Beth! - respondeu simpático.

A garota ficou contente com a presença do rapaz e informou o chefe sobre as mixagens de Fred.

- O garoto pelo jeito é bom mesmo, hein?

- Sim, Bob! Tirando a parte que ele fica me chamando de flower, o resto é ótimo!

- Flower? - Eddie dá uma risada involuntária.

- Sim, é um galanteador barato. Uma espécie de Jerry Cantrell da puberdade...

- Hahahaha... - Eddie não se aguenta.

- Que bom ver você rindo depois de tanto tempo, Eddie. Os últimos acontecimentos haviam apagado esse sorriso lindo que você tem!

Bob faz sinal para que Beth vá conversar com Eddie em outro lugar e ela o convida para fazer um lanche com ele.

- Bom, na verdade, eu vim ver umas mixagens com o Bob e...

- Ah, Eddie o que você me pediu vai demorar um pouco porque tenho uma certa urgência nessa que o Fred preparou. Faz um lanche com a Beth que é o tempo de eu desocupar.

Eddie dá de ombros e concorda no que os dois vão a cozinha da produtora:

- Eu trouxe dois sanduíches de atum que eu sei que você gosta! - a garota procura agradá-lo, mas Eddie não aceita.

- Estou bem, Beth, obrigado!

- Mas, e aí? E as novidades?

- Bom... - Eddie não fitava Beth, ficou cabisbaixo fazendo malabarismo com os dedos usando uma tampinha de garrafa que estava sobre a mesa. - Vamos começar a gravação do álbum em alguns dias... vai se chamar Ten.

- Ten? E isso seria...

- 10 é o número da camisa do Mookey Blaylock, o jogador que deu nome a banda anteriormente.

- Ah, claro! Faz sentido... vocês implicaram mesmo com esse jogador. Mas, e aí? Músicas todas prontas?

- Não, ainda faltam duas.... Na verdade, três, mas tem uma que eu queria lançar agora, só que não consigo terminar a letra...

- Aquela do refugiado que você chamou de não sei o que Ledbetter?

- Sim, essa é uma delas... sei lá, não encontro inspiração pra terminá-la, nada parece se encaixar, vai ter que acabar ficando para o próximo álbum... isso se tiver próximo álbum! A segunda só faltam dois trechos e até amanhã eu termino.... Se é que eu consigo...

- Claro que consegue e vai ter outro álbum sim!!! Não seja pessimista! E a outra?

- A outra é a E-ballad!

- E-ballad? Não me lembro dessa!

- É a única balada do álbum inteiro... Aquela que o Stone compôs o instrumental...

- A do 'tchururu'???

- Isso mesmo!

- E qual o problema com ela??? Me lembro que tinha uns acordes lindos...

- Justamente! - disse desanimado.

- Não entendi!

- A melodia em si é muito especial... Não dá pra colocar qualquer letra. Não consigo colocar qualquer coisa nela. É como se ela exigisse muito mais do que simplesmente falar de amor, é mais que isso...

- O que seria mais que amor?

- Acho que não é só falar de amor em si , mas do que ele é capaz de fazer com o ser humano...

- Você fala da forma de engrandecer uma pessoa e torná-la melhor?

- Se for isso, então nunca vou achar uma letra pra ela. Aquela melodia pede algo mais profundo, mais... mais... intenso, sabe?

- Algo como o que você viveu com a Lilly, por exemplo?

Eddie parou o malabarismo e esticou a mão sobre a mesa. A outra que segurava o queixo foi parar no seu peito e ele recostou a cabeça na parede onde a mesa estava parada.

- O que eu vivi com a Lilly ... me fez lidar com coisas que eu nunca tinha lidado e... nunca pensei em lidar... isso me arrebatou de uma forma que estou até agora tentando encontrar o caminho de volta... - Eddie parecia ter a mente voando para longe dali ao se recordar do que viveu com Lilly a ponto de não se aperceber que era com sua ex namorada que ele desabafava. - Eu vi aos poucos sendo extraídas de dentro de mim coisas que nunca haviam vindo a tona antes... eu nem sei falar sobre isso...

Beth entristeceu-se, ainda mais por perceber o quanto Lilly ainda representava para o seu ex namorado. Ela que esteve nos últimos momentos com  a garota na América sabia bem o peso e a medida de tudo que Eddie estava lhe relatando. O rapaz permaneceu falando:

- É como se houvesse dois de mim: um antes e outro depois da Lilly. E esse que está agora aqui vê um mundo sem cor, sem brilho... Sabe, coisas simples do dia dia como crianças se divertindo num parque... essas coisas que fazem a gente sorrir??? De repente, elas não tem impacto nenhum mais sobre mim...parece que tudo virou um ser inanimado na minha frente...

- Você... já chegou a escrever sobre isso?

Eddie fitou a garota e piscou devagar. Respirou fundo e acenou positivo com a cabeça.

- Acha que essa intensidade que viveu no seu relacionamento com Lilly em algum momento combina com a melodia da música do Stone?

- Eu diria que tem tudo a ver... que é exatamente isso!

- Então... você já sabe da onde tirar inspiração pra essa letra.

- Não sei se quero, Beth.... Não sei se consigo!

Even Flow - a filha do primo Josh  *SAGA*Onde histórias criam vida. Descubra agora