5 - Fotografias

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Naquela hora, Fernanda estava dirigindo o carro em direção a algum restaurante, com Alane ao seu lado. Um clima tenso e um silêncio desconfortável pairavam no carro. No entanto, para Fernanda, a situação não parecia tão incômoda quanto para Alane, que buscava distrações para disfarçar o desconforto. Cantarolava baixinho, batia os dedos na perna, fingia ajeitar o cabelo no pequeno espelho no quebra-sol. Infelizmente, seu desconforto não passou despercebido aos olhos atentos de Fernanda, que já estava irritada com a situação da garota, lembrando-lhe a sua amiga, Bia.

Fernanda poderia sim estar sem graça e arrependida de ter feito um convite a Alane, mas diferente da mais nova, tudo passava despercebido a sua postura impecável.

[...]

No semáforo vermelho, Alane batia as mãos nas coxas criando uma batida, olhava para o lado onde tinha alguns motociclistas com bag motoboy nas costas, fazia um som com seus lábios os puxando para dentro e para fora. Seus movimentos foram parando lentamente ao olhar de forma instintiva para a frente e encontrar os olhos de Fernanda lhe encarando pelo retrovisor interno do carro, era possível ver apenas os olhos da loba, que tinham o falso formato de foxy eyes por conta de seu longo delineado. Os olhos de Fernanda a encaravam de forma felina, deixando a garota totalmente imóvel com a tensão daqueles olhos. Eles transmitiam emoções incompreensíveis, de forma séria, porém provocante, que de certa forma não poderiam ser interpretados de outro jeito.

Fernanda notou o estado de transe da garota e, pela visão periférica, viu o círculo vermelho do semáforo se transformar em verde. Antes de desviar o olhar, ela sorriu de canto, mantendo a atenção no volante à sua frente. Mesmo sem ver os braços arrepiados da garota, Nanda pôde sentir o impacto instantâneo que as trocas de olhares transmitiram, criando uma conexão intensa com apenas alguns segundos de contato visual.

Alane se xingou mentalmente por sua reação, pelo nervosismo que a dominava. Ela se questionava o motivo daquela tensão, das mãos suadas, dos calafrios e dos batimentos acelerados, tudo isso causado pelo olhar de uma mulher. No entanto, um pensamento a aliviou "Calma, eu sou hétero". Mesmo assim, Alane se lembrou de Fernanda, a quem apelidara de "a cobra da casa", e do verdadeiro motivo de estarem juntas ali: a comida de hotel.

A paraense não queria se sentir intimidada e decidiu não deixar que a carioca percebesse seu transe, embora soubesse que Fernanda já havia notado. Alane pensou rapidamente em algo para dizer, apenas para dissipar a tensão do momento.

Alane

― Tira uma foto que dura mais ― Brinquei, só pra ela não entender que eu só queria conversar , e nada mais.

Ela me olhou rápido e riu, e logo soltou um "cê tem razão" me deixando sem entender, ela não continuou o assunto, me deixando frustrada.

Sem motivo aparente, reduziu a velocidade, não havia obstáculos à frente, nem sinalização. Num breve olhar, retirou a mão do volante como se procurasse algo, o telefone. Mana, vai ligar agora, no meio do caminho?

Cruzei as pernas, apoiei meu braço na janela do carro, segurando em seguida minha cabeça. Vi rapidamente uma luz, virei para o lado e lá estava Fernanda com seu celular apontado para mim.

― O que você tá fazendo?

― Ué? ―  ela soltou uma risada maliciosa ― Você mesma falou que uma foto dura mais, só segui sua dica, bonequinha!

― Não te dei autorização para me fotografar! ― respondi irritada, talvez esse seja meu lado infantil, me chatear com bobagens.

― Você mesmo mandou, caralho! - ela riu.

Não falei nada, só cruzei os braços e encarei para frente.

Mesmo sem flash, ouvi o som indicando que ela estava me fotografando de novo. Droga.

― Fernanda! ― gritei tão alto que a assustei, mas ela começou a rir

― Desculpa, bonequinha! Eu só queria uma foto sua toda brava ― ela explicou enquanto virava a curva.

― Égua! Apaga isso, por favor!

― Não posso! ― ela dizia agora mais recuperada

― Como você consegue ser mais irritante do que você já é, por trás das câmeras? ― bufei

― Não é a única coisa que faço melhor, quando não tem câmeras por perto ―  ela lança novamente aquele olhar , mas dessa vez não foi por retrovisor nenhum, foi cara a cara. Pôde sentir suas emoções mais perto do que nunca. Ela riu de canto, mas não durou muito tempo, já que ela dirigia, então voltou a atenção para frente.

― Tipo cozinhar ― continuou ― eu cozinho bem pra caramba, mas lá eu não era tão boa por saber que tinha muitas pessoas me assistindo, e câmeras me filmando, entendeu?

―  Alane? ―  Ela estalou os dedos na minha cara.

― Oi ― ela me olhava confusa , fiquei longe da terra por quanto tempo?

― Égua! Cadê esse restaurante da caixa prega que não chega? Tu é doido.  questionei.

Ela riu provavelmente percebendo minha mudança repentina de assunto, mas logo soltou um:

― Calma, bailarina! Já ouviu falar que a pressa é inimiga da perfeição? ― eu ri ao lembrar que esse ditado não funciona comigo, passava horas tentando fazer um delineado e nunca ficava bom. Fernanda me olhou como se quisesse saber o que eu estava pensando.

― O que foi?

― Nada, Fernanda, tudo você quer saber! Eras ― disse me ajeitando no banco.

― Aí, olha ― ela disse me ignorando, apontou para o lado estacionando, olhei tendo a visão de um restaurante, não tão grande nem pequeno, decoração variável sem um padrão específico, mas lá de dentro eu sentia um bom cheiro, mesmo de longe.

Notas da autora:
Desculpem pela demora!

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