Capítulo 4

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Neil estava sentado na varanda de Abby, com a cabeça de Andrew em seu colo.

Kevin foi o ultimo a ir dormir, há quase uma hora atrás. Andrew e Neil se esgueiraram silenciosamente de suas camas - ou pilha de cobertores ao lado da cama dos gêmeos no caso de Neil -, para que pudessem finalmente ter um tempo a sós. O único momento em que eles tiveram sozinhos naquele dia, havia ocorrido durante a viagem de carro até o apartamento de Wymack. Neil esteve muito tenso e ansioso durante o percurso para realmente aproveitar a proximidade do marido.

"Senti suas falta," Neil confessou, brincado com os fios dourados de Andrew.

Andrew abaixou o cigarro por um momento para olhar nos olhos de Neil.

"Viciado."

"Sim," confirmou sem hesitação e Andrew esticou um pouco o braço para dar um tapinha na testa de Neil.

"Cala boca," ordenou com rouquidão e Neil riu alto.

Eles se acalmaram, e ambos observando as estrelas, em silencio por um tempo. Até que Neil resolveu falar novamente:

"Não pensei que seria tão difícil, mas esse dia foi completamente exaustivo."

Andrew cantarolou em reconhecimento.

"Quero dizer, eu realmente não lembrava como Kevin era insuportável e como Nicky era apenas... demais," Neil faz um gesto expressivo que em qualquer outra situação, ele não se sentiria confortável o suficiente para fazer.

"Agradeça por não ter uma memória eidética." Andrew fez uma careta com desdém.

A memoria eidética de Andrew era tanto uma bênção quanto uma maldição. Se lembrar das coisas com detalhes assustadores, era favorável quando necessário. Mas Andrew havia explicado a Neil, que na maioria das vezes, sua cabeça ficava presa em tantos detalhes que ele perdia o controle sobre os próprios pensamentos. Quando ele se lembrava dos momentos horríveis da sua infância, as cenas eram quase reais, como se tivessem acontecendo naquele momento. Ele se lembraria de cada toque, cheiro e som.

Andrew e Bee trabalharam muito tempo para encontrar um caminho seguro, para evitar que a mente de Andrew se perdesse nesses momentos.

Hoje em dia, quando ele percebe que seus pensamentos estão percorrendo uma direção ruim, Andrew tenta focar em uma memoria boa o suficiente, para superar o terror. É um trabalho árduo, mas funciona na maioria das vezes.

Por isso também, Neil não insiste quando Andrew prefere se manter em silencio. Algumas situações, simplesmente exigem muito dele.

Andrew não vai para onde não quer, assim como não faz nada que não tenha vontade de fazer. Ele escolheu e por isso está ao lado de Neil. Neil jamais exigiria mais do que isso. Sua presença sempre foi o suficiente.

"Verdade por verdade?" Neil pede depois de um tempo.

"Estou pensando se vale a pena contatar Stuart sobre sua situação."

"São muitas variáveis," Neil responde com calma.

"Sim," Andrew concorda. "Mas seu pai está desprotegido na cadeia sem seus capangas por perto. Se quisermos ter uma vantagem, precisamos agir antes que ele saia."

"Qual seria exatamente seu plano?"

"Entre em contato com Stuart, e faça um acordo. Troque informações sobre sua mãe e peça a ele que mate seu pai. Ele tem contatos no FBI. Não deve ser difícil para ele planejar um motim na cadeia onde um magnata acabe misteriosamente morto, ou até mesmo forjar um trágico suicídio. As manchetes seriam algo como, 'O pobre ex-milionário que resolveu acabar com sua vida, após fralde fiscal', 'Do luxo a cova,' ou algo assim."

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