Capítulo 15

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Neil trocou de marcha e acelerou ao entrar na via principal. No trajeto de volta ao campus, uma música suave tocava nos alto-falantes do carro, abafando o ritmo constante das batidas de Neil contra o volante. De tempos em tempos, ele fechava os olhos por instantes, concentrando-se na brisa que entrava pela janela. Sem o cigarro para aliviar seus músculos tensos, o sopro do ar fresco bastava. Era quase como quando ele corria, mas sem o formigamento prazeroso dos músculos sendo levados ao limite.

Neil fez uma curva suave, tão imerso em mudar as marchas e evitar qualquer pensamento, que acelerou um pouco demais quando Renee decidiu falar, quebrando sua concentração. O pneu derrapou no asfalto, e Neil quase pôde ouvir Andrew o repreendendo em sua mente.

"Andrew confia em você." A voz de Renee era calma e firme.

A goleira havia passado o caminho todo em silêncio. Eles saíram do consultório de Dobson e entraram no carro sem dizer uma palavra. Neil ligou o rádio quando o silêncio ficou estranho, e depois meio que esqueceu que dividia o GS de Andrew com Renee. Focado em fazer o trajeto até o campus o mais rápido possível. Seu corpo basicamente implorava pelo desgaste físico que só o Exy conseguia proporcionar.

Um pouco confuso com o comentário repentino, Neil cantarolou e batucou os dedos contra o volante com um pouco mais de força.

Enquanto ele diminuía a velocidade para passar por uma lombada, Renee acrescentou: "Isso é bom."

O que ela não disse foi: é bom que Andrew tenha encontrado alguém em quem confiar, mas Neil entendeu mesmo assim.

Neil lançou um olhar de canto para Renee. Ela parecia serena. Seus fios coloridos, soltos de um coque frouxo, emolduravam seu rosto suavemente pelo vento que vinha da janela. O grande crucifixo que ela usava ao redor do pescoço balançava tranquilamente conforme o solavanco do carro, e parecia um contraste estranho com a firmeza do seu olhar. Seu sorriso, no entanto, era suave e honesto. Neil relaxou, aliviando seu aperto no volante.

Ultimamente, Neil vinha se preparando para uma luta sempre que estava perto de uma das raposas. Ele estava alerta e cauteloso. A desconfiança de seus amigos o lembrava de um tempo em que a vigilância era constante - quando ele não sabia se seria atacado por um estranho com uma faca, ou levado pelos policiais.

Ele definitivamente não sentia falta disso. Da paranoia de precisar sempre ficar observando seu entorno, com a sensação de que alguém viria e o atacaria. Mas os últimos eventos trouxeram esses instintos de volta e Neil simplesmente odiava se sentir dessa forma. Ele não conseguia evitar, mas parecia errado.

Estar com suas raposas deveria ser fácil. Relaxar e ser ele mesmo deveria ser fácil. Mas as coisas mudaram, e Neil não sabia mais como agir. O comportamento de Renee era um alívio. Por um momento, Neil esqueceu quem ela era. Renee, a única pessoa além de Andrew que conseguia olhar em seus olhos e entender tudo o que ele tinha passado sem que ele dissesse uma palavra.No começo, isso incomodava Neil; o olhar assustadoramente conhecedor que ela tinha. Mas naquele momento, foi um alívio. Neil percebeu que, de todas as raposas, Renee poderia ser a única com quem ele poderia ser honesto. Com ela, ele não precisava fingir estar bem ou empolgado com o jogo. De alguma forma, profunda e estranha, Renee entenderia. Ela seria a única, além de Andrew, que entenderia.

Neil respirou fundo e deixou seus ombros descansarem contra o encosto do banco. Ele cantarolou novamente, em reconhecimento. Nenhum deles disse mais nada durante a viagem, a música suave preenchendo o silêncio confortavelmente.

Quando chegaram, Neil deixou o carro de Andrew em sua vaga costumeira e, após um pedido baixo, foi se sentar ao lado de Renee enquanto esperavam o treino começar. Ela não pareceu se importar quando Neil puxou seu celular em um sinal claro de que não queria mais conversar e apenas pegou um livro em sua própria bolsa e começou a ler.

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