Capítulo 11

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Neil acordou se sentindo estrango naquela manhã. Sua cabeça estava leve, e seus olhos ficavam embaçados quando ele os mantinha fixos em ponto por muito tempo.

Ele estava no banheiro agora, após um banho necessário. Neil olhou no espelho por um tempo, avaliando sua aparência com um olhar crítico. Seu cabelo precisaria ser retocado em breve, e talvez ele pedisse a Andrew para ajudá-lo com isso. Seus olhos desceram pelo reflexo e, sem camisa, ele podia ver todas as cicatrizes expostas, grotescas pinturas que cobriam seu peito. Cada marca contava uma parte de sua história, mas ele sentia falta de algumas cicatrizes específicas, linhas enrugadas e feias que narravam os eventos que moldaram quem ele realmente era. Sem elas, seu corpo parecia uma pintura inacabada, uma história interrompida. Isso o incomodava profundamente.

Com o indicador, ele traçou os lugares onde as cicatrizes deveriam estar. Se fechasse os olhos, poderia imaginar Andrew fazendo o mesmo, mapeando seu corpo e selando promessas com beijos suaves e sussurros contra sua pele. Neil havia odiado aquelas cicatrizes por muito tempo; às vezes, ainda evitava olhar muito de perto para o próprio corpo. Mas saber que algumas delas deveriam estar ali, mas não estavam, parecia completamente errado.

Quando abriu os olhos, sem saber exatamente quando os tinha fechado, Neil se deparou com a imagem de Nathaniel. O sorriso de seu pai, sangue nas mãos e aqueles olhos insuportavelmente frios e gelados. Neil piscou e a visão desapareceu, substituída por cabelos tingidos, lentes escuras e mãos pálidas. Ele piscou rápido várias vezes, apoiando-se pesadamente contra a bancada da pia, subitamente ofegante.

Bem, merda. Esse era um dos dias ruins.

Já fazia alguns anos que isso não acontecia; ele achou que tivesse superado, mas aparentemente a porra do destino continuava a brincar com ele. Contra sua vontade, seus lábios se ergueram em uma gargalhada baixa e seca. Depois outra e outra. Várias se seguiram e Neil apertou com mais forca a bancada, os nos de seus dedos ficaram brancos enquanto ele tentava se controlar.

Ah, não deveria ser nenhuma surpresa, ele pensou impiedosamente. Desde que voltou no tempo seus sentimentos estavam em todos os lugares. Honestamente, era apenas uma questão de quando isso iria acontecer. Neil ficou surpreso por ter levado tanto tempo.

Mordendo a própria língua até sentir o gosto amargo de ferro do próprio sangue, Neil abafou aquela risada maldita e levou as duas mãos firmemente ao rosto, tapando a boca. Seus olhos subiram e... Foda-se, foda-se, foda-se. Ele odiava a pele lisa do seu rosto. Detestava como tinha dificuldade de separar aquela visão do garoto que ele deixou morto há muito tempo em Baltimore. Mas ele ainda não havia morrido, certo? Todos os seus fantasmas ainda andavam sobre a terra. Como ele poderia estar morto se seus assassinos ainda estavam vivos?

Desviando os olhos com força do próprio reflexo, Neil se afastou do espelho e vestiu a camisa o mais rápido que conseguiu. Ele abriu a porta e foi sair do banheiro, apenas para dar de frente com Seth.

Não, não, não, isso estava errado.

Porra, como ele odiava se sentir desequilibrado e vulnerável perto daquele brutamontes. Isso não estava certo.

Seth, sem notar, ou escolhendo ignorar o olhar nebuloso no rosto de Neil, empurrou seu ombro com força e entrou no banheiro.

"Sai da frente, cara de merda," Ele rosnou e fechou a porta com força.

Neil quase bufou, apesar de tudo. "Cara de merda" parecia ser o novo apelido de Neil nos últimos dois dias. Honestamente, ele não achava que Seth era muito criativo com seus apelidos, mas também não parou para reclamar. Aproveitando sua chance antes que Seth resolvesse sair do banheiro e começar uma briga, Neil correu para fora do dormitório, ignorando o olhar questionador de Matt.

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