Capítulo 16

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-- sim eu postei esse capítulo duas vezes sem querer, sinto muito --

Kevin estava passando mal. Mas, para ele, isso não era nenhuma novidade.

Em noites de jogo, a sensação de mal-estar era quase um ritual. Suas mãos suavam de um jeito que o irritava profundamente, forçando-o a secá-las em sua camisa a cada poucos segundos. Seu estômago se revirava, um desconforto persistente que parecia acompanhar cada movimento. Ele sentia uma necessidade quase obsessiva de beber um gole de álcool, qualquer coisa para acalmar a garganta seca. Não, ele não era alcoólatra — e não se importava com o que os idiotas diziam sobre isso. Kevin tinha total controle sobre o que bebia e quando bebia. Mas a sensação de relaxamento e a maneira como a bebida parecia entorpecer seus pensamentos acelerados era, sem dúvida, agradável. Culpe-o por querer diminuir um pouco da sua ansiedade.

Nicky tinha Erik e seus programas pop para aliviar o estresse. Neil podia correr uma maratona e sair mais calmo do que quando começou. Andrew adorava brincar com suas facas. E Aaron, bem, ninguém sabia ao certo o que ele fazia; talvez por isso sempre parecesse estar com uma calcinha enfiada na bunda. Kevin, por outro lado, bebia. Ele amava Exy, vivia e respirava o jogo. Era toda a sua vida. Mas isso consumia cada fibra do seu ser, e talvez fosse masoquista por isso. Apesar de todo o enjoo, amava a intensidade do jogo. Assim que seus pés tocavam a quadra, sentia-se completo, como se todas as inseguranças desaparecessem. A adrenalina correndo pelo sangue, o coração batendo forte, a sensação de invencibilidade — era viciante. E ele não entendia como as outras Raposas não sentiam o mesmo.

Quando estava com os Ravens, o jogo era tudo. Não havia espaço para dúvidas ou questionamentos. Claro, muitos dos seus colegas jogavam mais por medo e obrigação do que por amor ao esporte, e Kevin sabia bem disso. Tinha sentido na pele todas as implicações de ser um Raven. Mas, ao mesmo tempo, sentia falta daquela sincronia, daquela certeza de que, mesmo que precisasse ceder um pouco para massagear o ego de Riko, ainda estava empolgado. Sentia falta de estar tão sincronizado com o time que podia prever todos os passes antes mesmo de acontecerem.

As Raposas, por outro lado, eram imprevisíveis e voláteis. Kevin também estava estressado ultimamente, mas pelo menos tentava. Elas, no entanto, pareciam conformadas com a mediocridade, como se estivessem contentes em se arrastar em vez de realmente lutar pelo que poderiam alcançar. Isso o irritava profundamente. Elas tinham tanto potencial, mas desperdiçavam-no completamente. Andrew... Kevin não sabia o que pensar sobre ele. Andrew era excelente, provavelmente o melhor goleiro de Exy que Kevin já havia visto, embora jamais admitisse isso em voz alta. Mas Andrew parecia não se importar, nem mesmo quando jogava a sério. Sua atitude indiferente e desinteressada era evidente até em momentos críticos; Kevin nunca via um indício de satisfação no olhar de Andrew. Era impossível. No fundo, Andrew deveria gostar de Exy. Sob toda aquela fachada fria, devia haver alguém que amava a adrenalina, a competição, o esforço, tanto quanto Kevin. Não era possível ser tão bom em algo sem ser um pouco obcecado.

Por isso, Kevin havia prometido a si mesmo: daria a Andrew algo pelo qual viver, e ele acreditava firmemente que Exy seria a resposta. Porque Exy sempre foi a resposta. No entanto, algumas coisas mudaram recentemente, deixando-o completamente desnorteado e duvidando da sua própria convicção.

Essa coisa, é claro, tinha nome. Neil Josten.

Neil era um cometa desgovernado, um turbilhão que entrou na vida de Kevin, destruindo todas as certezas que ele tinha. Neil tinha um potencial impressionante. Se havia alguma dúvida sobre isso, todas foram eliminadas assim que Kevin o viu no primeiro treino com as Raposas. Mesmo no meio do caos, Neil se destacava, jogando como se seu corpo tivesse sido feito exatamente para aquilo. Seus passes eram naturais e elegantes, seus olhos sempre focados, e seus movimentos combinavam precisão e esforço de forma admirável. Kevin, relutantemente, estava impressionado. O que aquele garoto poderia alcançar era simplesmente insano. Por isso, Kevin pressionava todos os seus botões, exigindo mais e mais, quase delirando para ver a totalidade do que Neil poderia oferecer.

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