Capítulo 12

407 57 55
                                    

Neil percebeu que suas mãos tremiam quando foi colocar suas luvas. Ele fechou os olhos por um momento, observando o tremor como se fosse alguma entidade onisciente fora de seu corpo. Calmamente, ele cerrou o punho, um dedo de cada vez, apertando com força. As unhas cravadas na pele, a dor tão real quanto a mordida que Andrew havia dado nas costas da sua mão.

Este momento foi real .

Ele balançou a cabeça e terminou de calçar as luvas. O vestiário estava silencioso, apenas o som distante dos passos dos outros jogadores e o leve eco de vozes ao fundo. Ele sentiu, mais do que ouviu, uma presença se aproximando lentamente dele. Neil suspirou.

"Onde você esteve?"

Neil fechou o armário e Andrew parou ao lado dele, apoiando o ombro no metal e cruzando os braços. Seus olhos amendoados avaliando-o da cabeça aos pés.

"Kevin precisava cuidar de algumas coisas", Andrew encolheu os ombros.

Neil sabia que o assunto estava encerrado. Andrew era extremamente leal e, se Kevin lhe pedisse para não revelar algo, Andrew não o faria, a menos que isso os afetasse diretamente. Neil assentiu, aceitando a resposta.

"Certo", ele murmurou e sentou-se no banco, ainda não pronto para ir à quadra. Todos os outros já estavam lá; Neil ficou para trás como sempre, para poder se trocar sozinho.

"O que aconteceu com você?" Andrew ergueu uma sobrancelha. Aqueles olhos profundos como dois infinitos brilhantes focados em Neil, como se ele valesse todo seu tempo. Como se nada mais ao redor importasse.

Neil suspirou, deixando os ombros caírem. Havia uma linha solta em sua luva direita. Ele fixou os olhos nela e tentou arrancar.

"Pesadelos." Respondeu baixinho.

Neil escutou o barulho do armário de metal arranhando quando Andrew se moveu, mas ele não olhou para cima. O maldito fio não queria sair. Ele tentou arrancar com mais força.

"Nicky me enviou uma mensagem, você sabe?" Disse Andrew, a voz inexpressiva. "Andrew, Neil entrou no nosso quarto, sinto muito, não consegui impedir. Não me mate." Ele zombou, imitando uma voz fina e irritante. "Eu deveria matá-lo só pela súplica." Sibilou. Ele se moveu ainda mais, e Neil podia praticamente sentir o calor da respiração de Andrew em seu rosto. Em russo ele ordenou: "Olhe para mim, coelho."

Neil obedeceu.

"Você está bem?"

Ele estava perto. Extremamente. Neil podia contar as poucas sardas ao redor do nariz, e as leves marcas de expressão entre suas sobrancelhas. Andrew era a pessoa mais bonita que ele já tinha visto.

"Estou bem."

O olhar de Andrew endureceu. Sua mandíbula apertou. "Achei que tínhamos um acordo, coelho. Sem mentiras", ele ronronou lentamente, levantando uma mão até a base do pescoço de Neil, apertando suavemente. Confortável e seguro. Neil suspirou.

"Eu... É difícil para mim, Drew. Mais do que pensei que seria", Neil admitiu em um sussurro. Lentamente, ele encostou a testa na de Andrew. Então ele soltou algo que o incomodava há muito tempo. "Você sente falta das minhas cicatrizes?"

Andrew se afastou, mas não afrouxou o aperto. "O que você quer dizer?"

"Meu rosto... Meus braços. A pele é lisa. Não posso nem mais usar minhas braçadeiras. É ridículo, eu sei, mas eu sinto falta. Sem elas, eu... Não pareço com Neil Josten. Não pareço real, Drew."

Andrew apertou seus dedos, tanto que quase chegou a doer. Então ele deixou seu rosto incrivelmente próximo ao de Neil. Seus narizes quase se tocando. Olhos avelãs parecendo perfurar sua alma.

o jogo das sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora