o jogo das sombras

Capítulo 2

Três batidas soaram na porta e Neil correu imediatamente para abri-la.
Andrew entrou e jogou sua mochila no chão antes de correr para o banheiro e vomitar contra patente. Neil pegou um copo de água e lhe entregou assim que seu marido se sentou no chão.

– Eu odeio essa merda - ele murmurou antes de virar o conteúdo do copo em um único gole.

Neil observou sua pele pálida e os círculos escuros debaixo dos olhos com certa tensão. Lentamente, ele levantou a mão e a deixou pairar perto da sua têmpora.

– Sim ou não? 

Andrew acenou e se inclinou para o toque. Neil acariciou sua pele, sentindo o suor gelado enquanto varia seus cabelos pela testa.

– Oi -, Neil murmurou e aqueles lindos olhos castanhos lhe encararam com uma espécie de suavidade que era reservada apenas para momentos em que os dois estavam sozinhos.

– Oi - Andrew saudou de volta.

– Qual foi a ultima vez que você tomou suas pílulas?

– Joguei toda aquela porcaria pelo vaso antes de pegar o avião em Palmetto.

Neil queria o repreender por sua estupidez, mas acabou rindo. Era simplesmente típico de Andrew fazer algo como aquilo.

– Você tem tudo que eu pedi? - Andrew perguntou, seu peso tombava para o lado, quase caindo totalmente sobre Neil.

– Sim, mas... você tem certeza sobre isso?

– Eu preciso, Neil - Andrew disse ao se afastar - Não vou ficar mais nenhum dia com essas drogas no meu sistema se eu puder evitar.

– Tudo bem.

Neil sabia que não tinha como fazer Andrew mudar de ideia. Ela sabia o quanto Andrew odiava tomar aquelas drogas, como elas o faziam se sentir vulnerável e fora do controle. Sabia que elas faziam mais mal do que bem. Porém, ele ainda gostaria que houvesse outra alternativa. Trancar seu marido no banheiro pelos próximos três dias esperando que o pior da abstinência passasse não era algo que ele realmente estava ansiosa para fazer.

Ele ajudou Andrew a se levantar e preparou um banho para ele antes de deixa-lo, então Neil foi retirar tudo que pudesse encontrar de visivelmente perigoso do banheiro. Assim que ficou satisfeito, e ele pegou alguns dos sorvetes favoritos de Andrew e esperou que ele estivesse pronto para faze-lo entrar no ninho de cobertores que havia colocado no chão do banheiro e lhe entregar os sorvetes. Neil ficou ao lado de Andrew por um tempo, enquanto Andrew divagava sobre os últimos dias. Sua língua solta, provavelmente devido ao alivio antes da abstinência piorar.

– Nicky estava insuportável falando sobre Erick o tempo todo. Aaron estava agindo como um babaca e Kevin, bem... era Kevin.  O restante das raposas estavam ainda mais tediosas sem você lá.

Neil não pode evitar rir sobre os comentários. Nicky havia acalmado muito depois de se casar com Erick e ir para Alemanha. O relacionamento de Aaron e Andrew não era perfeito, mas com certeza tinha melhorado muito depois que os dois começaram suas sessões conjuntas de terapia com Bee. Devia ser difícil para Andrew passar por tudo isso novamente, principalmente durante essas semanas em que ele esteve sozinho e drogado. Neil se lembra do tratamento frio de Aaron no começo, do julgamento negativo das raposas e das tentativas falhas de Nicky em ser uma figura paterna. Ele odiava que seu marido tivesse que passar por tudo isso novamente.

Eles lutaram tanto para chegar a onde estavam. Agora parecia que o destino estava rindo bem nas suas caras, como se eles já não tivessem sofrido o suficiente durante todos aqueles malditos anos.

Neil levou quase uma semana para controlar seus ataques de pânico depois que Andrew se foi. Ele só conseguia pensar em como seu pai ainda estava vivo, assim como Riko, e em toda a merda que teria que suportar novamente para se manter vivo. Ele queria se forte e dizer que aguentaria. Mas Neil não tinha tanta certeza se sobreviveria mais uma vez. Ele estava contente em saber que pelo menos não estava sozinho. Que Andrew estava com ele para impedir que ele corresse e se escondesse novamente.

– Isso tudo é uma loucura -, Neil comenta, enquanto acaricia os nos dos dedos de Andrew. - Passar por tudo isso novamente é simplesmente... - ele dá de ombros, sem consegui terminar.

Andrew não diz nada por um momento. Com cuidado, ele arrasta suas mão entrelaçadas e leva até a boca, dando um beijo nas costas da mão de Neil. Apertando suavemente antes de coloca-la novamente sobre sua cocha.

E Neil entende. Aquilo significa, estou com você. Estamos juntos. Vai ficar tudo bem. É uma promessa.

Eles conversaram por mais algum tempo e quando Neil adormeceu, ele não pode esquecer aquela sensação quente em seu peito, o formigamento na palma da mão e nem as respirações suaves de Andrew em seu ouvido.

E durante um breve momento, antes de cair na inconsciência, ele pensa, eu escolheria viver tudo isso mil vezes, se no final, tivesse você.