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🖇️ | Boa leitura!

— Dá pra sair da frente desse computador e ir buscar a correspondência? — Poncho, meu colega de apartamento, grita da cozinha

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— Dá pra sair da frente desse computador e ir buscar a correspondência? — Poncho, meu colega de apartamento, grita da cozinha.

— Um minuto! — grito de volta sem tirar os meus olhos do código em meu computador.

Trabalho em home office para uma empresa de TI que presta serviços eletrônicos para multinacionais. No momento, estou resolvendo um problema de vazamento de dados no site de vendas de uma famosa empresa varejista. Estou nisso desde que acordei às sete. Olho brevemente o relógio do computador marcando 08:13. Geralmente, não vejo o tempo passar quando estou trabalhando e não consigo fazer pausas ou dar um tempo quando não está tudo concluído.

Digito rapidamente sem nem olhar para o teclado, é um trabalho que eu faço com muita concentração e agilidade. Isso é admirável se não pararmos para analisar os motivos que me fazem ser tão bom em programação. O motivo principal é que eu não tenho vida social alguma. Desde a adolescência, o meu hobby é ficar na frente do videogame ou do computador e me perder por horas a fio. Eu comemoro as sextas-feiras como todas as outras pessoas, não porque vou sair para beber, mas sim porque posso me enfiar no meu quarto e ficar sozinho jogando, maratonando meus animes favoritos ou lendo livros, mangás e HQs.

Creio que minhas únicas interações com outros seres humanos se resumem aos meus pais com quem falo por ligação ao menos três vezes por semana e visito uma vez por mês, funcionários de supermercado ou qualquer outro estabelecimento que eu precise usar para a minha sobrevivência, e o Poncho, que só está na minha vida porque eu precisava de alguém para me ajudar nas contas quando me mudei. Agora eu não preciso mais, mas não gosto da ideia de mandá-lo embora. Com o tempo, sua presença se tornou natural para mim e eu detesto mudanças.

Às vezes, Poncho tenta me convencer a sair de casa, beber com ele em algum bar ou sair para conhecer pessoas em baladas. Só a remota ideia de fazer isso me dá calafrios. E agora toda vez que ele sugere algo do tipo eu solto uma risada como se estivesse ouvindo a melhor piada do mundo. Porque pensar em mim saindo e socializando com estranhos é uma grande piada.

Não é que eu tenha medo de pessoas, eu não tenho, não há motivo para temer outros seres humanos. Eu só entendo a minha incapacidade de me manter normal em ambientes muito cheios, toda a pressão para dizer alguma coisa que alguém queira ouvir, me conectar com gente que não vai acrescentar tanto na minha vida ou gastar minhas horas conversando sobre bobagens que não me divertem. Por que perder tempo com isso se eu posso me divertir sozinho com coisas que eu já faço desde sempre? Conheço o meu próprio mundinho e estou muito confortável nele.

— Puta merda, Christopher! — Poncho exclama irritado ao escancarar a porta do meu quarto. — Vai pegar a correspondência!

— Por que você não vai? — respondo sem olhá-lo, ainda digitando.

— Eu coloquei o lixo pra fora, arrumei a sala e a cozinha e agora estou fazendo almoço para nós dois. Só estou te pedindo para ir até o térreo e pegar a correspondência!

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