4. meu studio

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Giovanna via as pessoas se lamentando por terem perdido a oportunidade de comprar uma obra.

Ela caminhou furiosamente e puxou Alexandre pelo braço até chegarem na varanda da galeria.

— Você ta de brincadeira comigo? O que é isso? Um jogo? Isso é arte de verdade, levou meses, anos para produzir. Você não pode sair comprando como se fossem frutas numa feira. — Ela bateu no braço dele, irritada.

— E-eu.. — Alexandre gaguejou, colocando a mão no braço, onde ela havia batido. — Faz tempo que eu quero comprar arte pra decorar minha casa e eu nunca tinha achado nada que falasse comigo. Essas todas.. Não sei, eu me conectei. Eu não sabia que eram suas. Me desculpe por comprar suas artes e te achar genial, Giovanna. — Ele franziu o cenho achando estranho. — Pensei que quisesse ser reconhecida e prestigiada.

Ela suspirou e encarou os sapatos. Respirou beeem fundo tentando se acalmar.

— E aliás.. Você nunca me viu comprando frutas na feira. — Ele deu de ombros e voltou a beber olhando ao redor. — Então.. Você tem mais pra me mostrar? — Perguntou, curioso.

— Você não tem algum violão pra tocar, um microfone pra cantar, fotos pra tirar?? — Ela revirou os olhos o encarando.

— Que dia é hoje mesmo?

— Hoje é terça.

— É, não, não tenho nada disso não. Até sexta.

— Bom.. — Ela olhou ao redor. — Eu adoraria te mostrar mais obras mas você acabou de comprar tudo que tem na galeria.

— Nossa, eu sou mesmo um escroto. — Nero fingiu se lamentar.

O olhar dela foi para a porta da galeria onde já estavam um milhão de paparazzis e fãs tirando fotos.

— É sempre assim?

Alexandre seguiu os olhos da morena e assentiu, suspirando.

— Sim. Sempre. Bom, já que você não tem mais nada pra me mostrar.. Eu vou ter que procurar outra galeria.

Giovanna ficou pensativa enquanto trocavam olhares.

— Tá bom, tá bom. Eu tenho mais pra te mostrar. — Admitiu. — Por que não pede pro seu motorista nos levar?

— Acho melhor a gente ir com o seu carro.

Giovanna riu.

— Você não pode estar falando sério.

Alexandre lançou um olhar para todos os seguranças repórteres e paparazzis.

— Eu estou falando sério sim.

Saíram os dois pelo fundo da galeria, no carro comum de Giovanna. Assim que ele entrou no banco do carona, moveu a poltrona indo para trás, se deitando completamente.

Giovanna ligava o carro enquanto estranhava. Alexandre tratou de botar boné e óculos de sol. Deitado, deu a largada.

— Pronto. Pode ir. — Ele deu o sinal. — Não olhe ninguém nos olhos, aja com naturalidade. — Instruiu.

Giovanna tirou o carro da garagem e passou pelo montante de pessoas reunidas tentando fotografar Nero na galeria.

— É, ninguém percebeu. — Ela constatou.

Depois de algumas ruas, Alexandre voltou o banco na posição original.

Assim que chegaram na casa dela, ambos saíram do carro. Alexandre observou a enorme casa e como haviam algumas pendências ali. O portão não estava pintado, algumas coisas estavam quebradas. Notava claramente como um dos atores mais famosos do brasil fazia sua parte para com o filho e a ex mulher, mas notava-se que Giovanna não tinha um homem na casa há algum tempo.

Entraram por trás, numa especia de portão de madeira, indo para um cômodo subterrâneo.

Giovanna acendeu as luzes e Alexandre imediatamente se deparou com todos os tipos de arte dela. Quadros, cerâmica, argila, coisas que deram certo, coisas que deram errado. Por um segundo, perdeu a fala.

— Não liga pra bagunça. É meu canto criativo. — Ela se desculpou tirando o casaco e o pendurando num canto.

Alexandre caminhava pacientemente dando passos curtos e lentos. Queria aproveitar tudo. Seus olhos brilhavam enquanto analisava nos mínimos detalhes tudo sobre Giovanna e sua arte. Era quase como se ela estivesse completamente exposta para ele. Nua. E ainda assim, completamente vestida.

Parou em frente a um quadro enorme encostado na parede.

— Como chama esse aqui?

— Revele-se. — Giovanna se aproximou cruzando os braços e ficando ao lado dele.

— O que você estava sente quando olha pra esse? — Os olhos castanhos encontraram com aquela mulher linda enquanto ela olhava sua própria obra de arte.

Seus olhos brilhavam.

— Eu sinto tudo.

— Foi assim que você conheceu o Murilo? — Alexandre quis saber, muito curioso.

Tirou uma risada dela.

— Não, não, ele veio antes da faculdade de história da arte. Eu sempre fiz teatro quando jovem e tentamos um papel pra uma novela e.. Ele conseguiu o papel, eu não. Mas a gente se conheceu e.. Engravidei antes mesmo da estreia e bom..

Alexandre ficou olhando para ela. Queria entender melhor o porquê de não estarem juntos.

— Ele te decepcionou.

Giovanna respirou fundo e finalmente olhou para ele.

— Pessoas famosas tendem perder a lealdade com muito mais facilidade do que pessoas.. Normais. — Ela explicou.

— Isso não tem nada a ver com a fama, e sim com o caráter dele.

— Murilo é um ótimo pai. Um ótimo ator. Um grande amigo. — Ela deu de ombros. — A gente funciona melhor assim. Eu o amo.

— E depois? Você criou uma regra de que não fica mais com gente famosa?

Giovanna deu uma risada baixinha.

— Eu não sei..

— Não sabe?

— Não sei o que estamos fazendo aqui. Eu e você.. Depois da galeria.. E agora no meu studio, eu.. — Ela balançou a cabeça negativamente.

— Eu raramente conheci pessoas como você. Tão.. Verdadeiras e tão.. — Alexandre tentava explicar mas as palavras lhe faltavam. — A gente se conheceu de um jeito especial. Todo mundo acha que me conhece mas você.. Não ta nem aí pro fato de que eu sou quem eu sou, ou pro que dizem que eu sou. E também.. Você é maravilhosa.

Giovanna passou a rir, um pouco envergonhada, desviando o olhar.

— Sério. É inteligente, talentosa, cuidadosa.. E também..

O olhar dela pousou no dele, e se encararam como se enxergassem o fundo da alma um do outro.

—.. é linda. Não consigo esquecer da primeira vez que te vi de cima daquele palco, naquelas roupas. A sua energia, o seu sorriso.. Você é.. Muito gostosa. — Ele admitiu.

Giovanna engoliu a seco, totalmente constrangida. Sentia seu rosto queimar.

— Estou morrendo de fome. Por que a gente não tenta fazer alguma coisa? — Ele sugeriu, já subindo para dentro da casa

Ela apenas o seguiu, ainda tentando digerir tudo que tinha ouvido.
Seu coração batia tão rápido que ela pensava que escarparia pela boca a qualquer momento.

the alchemyOnde histórias criam vida. Descubra agora