21. a familia acima de tudo

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Estavam comendo silenciosamente. A televisão estava ligada, e Alexandre e Giovanna se entreolhavam mandando silenciosamente que o outro tocasse em algum assunto pra quebrar o gelo.

— Então.. — Alexandre começou. — Você também vai ter entrevista no dia 12, né?

— Como assim também? — Pietro enrijeceu quase que automaticamente. — Você vai estar la?

Alexandre se arrependeu no mesmo segundo.

— Amm.. A banda foi convidada como atração principal. Você vai fazer a abertura do programa, não é?

— Uauuuu, filho. Que massa! — Giovanna ficou toda orgulhosa e acariciou o braço do garoto.

— Era massa né até esse aí meter o bedelho. — Pietro apontou para Alexandre, relaxando na cadeira, completamente irritado.

— Escuta aqui garoto, eu fiquei famoso bem antes de você a culpa não é minha.

— Porra mas daí eu vou ter que dividir a minha mãe com você a minha casa com você os programas de televisão com você.. Caralho, tem alguma coisa minha nessa vida?

— Pietro. — Giovanna avisou.

— Não, na moral mermo, o cara chega e pega tudo de uma vez meu irmão, que isso?

Alexandre ficou olhando para ele com empatia e compreensão. Era só uma criança, no final das contas. Uma criança ciumenta que não tinha que lidar com dividir a mãe até então.

— Olha, Pi.. — Alexandre começou, todo simpático.

Giovanna levantou a mão para ele parar por ali.

— Eu acho que você está se esquecendo de quem foi que te ajudou a chegar onde você está agora. — Giovanna encarava o próprio filho.

A voz de brava.
A postura de ira.
O olhar mortal.
Pietro conhecia muito bem aquele combo, ele tinha finalmente atingido o limite de Giovanna. Ele pintava e bordava até certo ponto. A compreensão dela chegava só até certo ponto.

— Eu entendo você estar puto que as coisas não são do jeito que você tava imaginando, que não é só você quem lucra nessa história. Mas já deu. Se não fosse o Alexandre enxergar potencial em você, você teria desistido. Você não estaria estudando no exterior, não teria subido naquele palco, não teria encontrado a sua galera, o seu público. Engole essa sua palhaçada, Pietro. Eu te criei pra ser muitas coisas, mas ingrato definitivamente não é uma delas.

Giovanna se levantou, jogando o guardanapo de pano na mesa. Subiu as escadas e foi para seu quarto, completamente puta.

— Caraca, então é assim que é uma briga familiar. — Alexandre comentou, chocado. — O que seu pai fazia uma hora dessas? Merda, vou ter que pedir ajuda pro Murilo Benício no final das contas.

Alexandre aliviou o clima e Pietro deu risada.
Ele riu junto com o garoto, e ficou parado encarando a mesa do jantar.

— Eu não sei. Não lembro deles dois juntos. Era sempre bronca ou dele ou dela. Eles tem uma boa relação mas a gente nunca conviveu como família. Assim, tipo.. Agora.

Pietro ficou reflexivo, e continuou:

Me desculpa. To boladão, misturando as coisas. — Pietro admitiu. — Ela tá certa. Não sou ingrato. Só tô de birra contigo porque tu tá comendo minha mãe.

Namorando sua mãe. — Alexandre corrigiu.

— Eu não vou falar isso.

— Ah, claro. Fica aí falando que eu tô comendo sua mãe, deve ser bem mais tranquilo de falar isso mesmo. — Alexandre respondeu com ironia.

Pietro parou pra pensar.

— Tá bom. To de birra contigo porque tu tá.. Namorando a minha mãe. — Ele revirou os olhos.

— Desculpas aceitas. — Alexandre levantou, organizando a mesa de jantar. Passou por Pietro e deu uns tapinhas em suas costas, como para dizer que estava tudo bem entre eles. — Você só precisa se acostumar.

Pietro revirou os olhos.

— Ou você precisa desistir. — Pietro sugeriu. — E tudo volta a ser como era.

Alexandre respirou fundo, já perdendo a paciência. Se lembrou que se tornaria padrasto daquele moleque para sempre, e que precisava dobrar a paciência que tinha.

— Não, você precisa se acostumar mesmo. Eu não vou a lugar algum, já te avisei. Eu posso fazer o que for, mas deixar a sua mãe simplesmente não está na lista de coisas que eu sequer considero fazer. — Ele deixou avisado, assim que recolheu todos os pratos e deixou na pia. — Boa noite, Pietro. Vou dizer pra sua mãe que você desejou uma boa noite a ela também. — Ele declarou, subindo as escadas, na direção do quarto deles.

Assim que entrou, fechou a porta atrás de si e trancou. Viu Giovanna na sacada do quarto, impaciente.
Estava de braços cruzados, a cara fechada.
Se desmontou assim que aqueles braços fortes circularam seu corpo, num afago delicioso.
Era um relaxamento quase que instantâneo.

— Me desculpa. — Ela murmurou, timidamente.

— Ei. Não pede desculpa não. — Alexandre beijou a cabeça dela. — A gente tem que entender ele também. A parada dele era comigo, você me roubou do cara. Óbvio que ele tá com ciúme! — Alexandre brincou.

Giovanna gargalhou se virando para ele. Enlaçou os braços no pescoço do homem, sorrindo para ele de orelha a orelha. Como ele conseguia fazer tudo ficar bem em poucos segundos?

— Eu sei que você tá brincando mas eu definitivamente acho que ele não tá com ciúme só de mim não. Ele literalmente cresceu te admirando. Bem mais que o Murilo.

— Isso, alimenta meu ego. Vai vai vai, continua. — Alexandre fechou os olhos rindo.

Giovanna gargalhou, balançando a cabeça negativamente.

— A hora que ele organizar os pensamentos e perceber que o Alexandre Nero é padrasto dele.. Ele vai ficar tão feliz.

— Vai tirar maior onda com os amigos, não vai? — Alexandre olhou para ela, sorridente. — Já já ele acostuma. Vamos dar tempo pro garoto. Afinal.. Ele tem razão.. Meio que eu realmente tô transando com a mãe dele todo dia. Isso aí é uma faca nas costas.. Da grande! Uma espada quase.

Giovanna riu, roubando um selinho dele.

— Pega leve com ele no tal programa? — Ela pediu.

— Claro que sim, amor. Nossa família acima de tudo. De qualquer coisa. — Ele garantiu.

Giovanna suspirou, apaixonada.

"nossa família"
Ele realmente tinha dito isso.

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