20. Bar

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Bar

Suspiro colocando a mochila em cima do banco e encarando o centro da arena onde o homem organizava seu material sobre a grande mesa de madeira no centro.

—Bom dia a todos, iremos continuar a falar sobre mecanismos.

Sua voz era irritantemente apática. Mesmo depois de quatro anos seu tom não se tornou plausível de escuta, recomendaria um bom fonoaudiólogo ao senhor Hendersen, mas de que adiantaria aconselhar o homem de meia idade a trabalhar sua eloquência e entonação? Se sua explicação permanece tão ruim quanto?

São só mais alguns meses. E então pegarei o diploma e mandarei o senhor Henrdersen enfiar suas explicações terríveis onde o sol não bate. Mas enquanto não o posso fazer, terei de me contentar em engolir a insolência e estudar o que preciso.

Durante a próxima uma hora tento me concentrar ao máximo para entender o que o homem explica.

Quando o sino ecoa indicando o fim é possível ouvir um coro de alívio dos estudantes.

Guardo meu material e sigo para fora da sala.

—ÀS?

Ouço a voz feminina e olho para trás.

—Anaís.

A ruiva cursava medicina no prédio ao lado, mas não ironicamente ela prefere andar com o pessoal da robótica. A maioria dos seus amigos estão deste lado. O que não compreendo até agora é como ela me enquadrou como um deles.

—Vamos dar uma passada no Bar do Mitch hoje, vai estar por lá?

—Provavelmente, o Joe está doente.

—Sério? Na semana passada ele não estava também? A doença da vaca louca?

Dou de ombros —Ele é um péssimo mentiroso.

—Porque o cobre se sabe que é mentira?

—Mitch me paga pelo dia, é um extra.

—Entendi. Bom, então nós nos veremos lá. Sorri largo.

Concordei também e segui meu caminho.

...

Desde que me entendo por gente tenho lidado com o caos. Parece algo um pouco insano de se dizer, mas é um fato. O que torna o momento em questão muito comum para mim.

A calma que a maioria vê em meu rosto, na verdade é a apatia da repetição. A vezes tenho a sensação de estar vivendo um looping não sequenciado, onde apenas um evento se repete de tempos em tempos.

Encaro o homem de vinte e dois anos a minha frente.

Derek Solomon, filho do grande neurocirurgião Arthur Solomon—E diga-se, a título de curiosidade, um dos conselheiros na faculdade em que estudamos.

A questão aqui não é necessariamente o nepotismo que deu a Derek uma vaga na instituição do qual ele é obviamente incapaz de frequentar com solitude ou mérito próprio, longe disso, na verdade é algo mais profundo, talvez a ausência paterna. Que tornou o homem a minha frente um grandessíssimo babaca.

O homem de um e setenta e dois acha que estufar o peito para mim me amedronta. Meus um e oitenta não são um alerta suficiente para ele. Nem meus olhos de cada cor ou a cicatriz no rosto.

Ele os ignora com maestria.

E com toda a absoluta certeza, é um perfeito idiota.

—ME RESPONDE SUA ABERRAÇÃO!

Fuga de clichês, One shots Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora