7. Vizinha

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Vizinha

Olhei para o relógio. Dez e vinte e nove da noite, com certeza uma hora ruim para ter uma fome tão grande de bolo. Como a menstruação pode me fazer parecer tanto uma grávida? Não deveria ser o contrário? Eu tô literalmente sangrando por não ter um filho... mãe natureza e suas ironias.

Levanto do sofá com o corpo dolorido e o estômago roncando. Vou até o armário da cozinha para ver os ingredientes que tinha a meu favor, leite condensado, achocolatado. Leite, ovos...

Cadê a farinha?

—Merda. –Murmuro percebendo que o principal eu não tinha, pelo menos não na quantidade que precisava, havia apenas um pouco, não chegava a dar uma dose adequada para fazer uma massa.

Talvez, se eu pedisse a vizinha, ela talvez tenha.

Com esse pensamento segui para a porta, abrindo e indo a porta ao lado, batendo suavemente enquanto um som de violão ecoava de dentro junto com algumas risadas, não era de hoje que havia ouvido ela tocar, na verdade ouço sua vida amorosa quase todas as noites desde que ela se mudou.

Os gemidos a noite são a pior parte. Não consigo dormir ou me concentrar nos relatórios que leio graças as suas ficantes.

Como um ser humano consegue tantas mulheres escandalosas para ficar?

Só vou pedir a farinha porque quero muito o bolo.

O som cessou e a porta se abriu instantes depois.

—O-oi, boa noite eu sou sua vizinha da frente e eu...

—Bill! A sua vizinha está aqui! –A mulher que me atendeu grita de dentro.

—Estou no banho! –A outra respondeu.

—Eu só queria um pouco de farinha de trigo –Murmuro baixo com a xícara na mão e a loira a minha frente me encara com o nariz em pé.

—Não temos. –Me encara, mas já havia visto um pouco de farinha na bancada. Ao que parecia as mulheres também fariam um bolo.

Suspiro fundo, não valeria a pena entrar numa discussão por algo tão banal.

—Tudo bem, obr... –Antes que eu pudesse terminar a mulher fechou a porta na minha cara.

Seria ruim se eu gastasse meu réu primário lixando a cara dessa vadia no asfalto?

Agh. Vizinha idiota!

Volto para o meu apartamento e acabo optando por um bolo de caneca que solou.

Frustrada acabei pedindo um delivery e comendo qualquer coisa.

Já de madrugada os gemidos das mulheres fazendo sexo. Tapei o rosto com travesseiro, mas parecia que os gemidos ultrapassavam qualquer barreira.

Dormi em algum momento na madrugada, depois dos sons eróticos cessarem e o cansaço me dominar por completo.

...

Já haviam se passado algumas noites desde o episódio da farinha com a vizinha, ou namorada dela, não sei e nem quero saber.

Estava tentando ler um documento enquanto algumas risadas sempre me tiravam do foco, então depois de algum tempo o som se tornou o de um violão e uma voz angelical, confesso que esses momentos eram bons.

Toc toc.

Me assusto com as batidas na porta e franzo o cenho, me levanto da mesa de escritório que coloquei na sala e sigo até a porta, abrindo e dando de cara com um ruivo alto.

—Posso ajudar?

—Oi, desculpa incomodar, sou irmão da sua vizinha do lado –Aponta a direção e não contenho revirar os olhos, por sorte ele não pareceu notar –Queria saber se poderia me ceder uma xícara de farinha de trigo? –Sorri amarelo.

Fuga de clichês, One shots Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora