18. A dançarina

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A dançarina

Mais um dia de trabalho se foi e com ele todo meu bom humor.

Trabalhar com pessoas da construção civil é com certeza, meu pesadelo diário. Falar com mestres de obras, empresários, organizar planilhas e ainda ter de ouvir um monte de merdas de homens idiotas que acham que são melhores que você. É um saco.

Pelo menos o salário é bom.

Não compensa.

Carrego os vários tubos com as plantas do novo prédio a ser construído, levando para dentro do meu querido Dragon. Abro o porta-malas, colocando ali, junto com minha pasta e o maldito capacete branco que machuca minha orelha.

Fecho o porta-malas, massageando a cartilagem dolorida da orelha antes de seguir para a porta do motorista.

—Natasha! Espera! –Ouço Vladimir me chamar e reviro os olhos antes de virar para o homem alto –Já está indo?

—Sim. –Não é óbvio?

—Você poderia refazer a entrada de ventilação do piso três? –Franzo o cenho com sua fala.

—Quer refazer a entrada?

—Sim. Falei com um amigo que está terminando a faculdade de engenharia, ele analisou seus desenhos e concordamos que está faltando abertura, a ventilação é r...

—Para. –Estendo a mão e o homem se assusta.

—C-como?

—Eu disse para. –Repito ao homem que franziu o cenho –Me passa o número do seu amigo –Estendo a mão.

—Não posso passar um contat...

—Ele é engenheiro, certo? Já é QUASE formado, ele pode dar dicas para uma pessoa que já é FORMADA e trabalha na área, certo? –O homem me encara sem jeito –Se o problema é a abertura, falaremos sobre isso, mas o seu amigo "Engenheiro" não sabe porra nenhuma. Uma abertura tornaria a estrutura principal mais frágil, principalmente para uma porta daquele tamanho. O que quer colocar lá dentro, o Optimus prime? E se quer tanta ventilação faz uma janela. Ou põe a porra de um ar condicionado no último, ou dentro do cú. –Abro a porta do carro, entrando sem esperar resposta.

Ligo o carro, saindo do estacionamento enquanto percebia meu colega de trabalho ficando distante pelo retrovisor.

—Intrometido filho da puta –Resmungo enquanto dirigia.

A breve conversa com Vladimir me rendeu um engarrafamento. Um trânsito caótico e praticamente parado. Talvez fosse um acidente, pela manhã e parte da tarde choveu bastante, as pistas ainda estavam molhadas e é como sabão para pessoas desatentas.

Até os atentos tem suas surpresas na chuva.

Sinto meu celular vibrando no bolso da calça e o pego sem pressa, encarando a tela e respirando fundo.

—Oi. Yanna. –Falo sem ânimo.

—ONDE CARALHOS VOCÊ ESTÁ! NATASHA?! –Grita e tenho que tirar o aparelho de perto do ouvido para não ficar surda.

—Trânsito. –Respondo apenas.

—Não me venha com essa de trânsito. Eu te conheço bem, no mínimo você estava comendo alguma buceta por aí –Resmunga e não contenho um riso fraco, olhando para minha virilha.

Bem que eu queria.

—Não tive tanta sorte.

—Natasha. Dá para pelo menos uma vez na sua vida não pensar só em você?

Fuga de clichês, One shots Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora